Documentos apreendidos pela Polícia Federal no escritório do advogado da senadora Gleisi Hoffmann (PTPR) indicam pagamentos suspeitos ao motorista da petista. Pelas investigações, o dinheiro tem origem na empresa Consist, suspeita de desvios de verbas de empréstimos consignados intermediados pelo Ministério do Planejamento.
ANDRÉ COELHO/27-12-2013Gleisi. Motorista trabalha para advogado da senadora, diz sua assessoriaComo Gleisi tem direito a foro privilegiado, o juiz federal Sérgio Moro suspendeu as investigações da 18ª fase da Operação Lava-Jato, chamada de Pixuleco II, e enviou o processo ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Os indícios foram encontrados em documentos apreendidos no escritório de Guilherme Gonçalves, advogado de Gleisi, em Curitiba, em 13 de agosto, durante a Pixuleco II. Uma planilha de fevereiro de 2015 mostra um crédito de R$ 50.078 em favor da senadora e de pessoas ligadas à petista.
Em um dos lançamentos de débito, em uma coluna identificada como “Fundo Consist”, consta a anotação “salário motorista — cheque 828”. Em outro, aparece “Diversos PT, PB, Gleisi”. Segundo a PF, na coluna “Fundo Consist” constariam pagamentos feitos com recursos desviados de contratos da Consist.
Para os investigadores, há indícios de que o motorista da petista, Hernany Mascarenhas, foi pago com dinheiro desviado do Ministério do Planejamento. A PF sustenta que parte dos recursos pode ter ido para o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo, marido da senadora.
Em documento apreendido no escritório do advogado consta a anotação do pagamento de R$ 50 mil em honorários ao advogado pela Consist em 29 de setembro de 2011. Para a PF, o pagamento foi acertado com Paulo Bernardo, que teria ficado “com todo o montante”.
Para Moro, há fortes indícios de que “parte expressiva da remuneração da Consist foi repassada, por solicitação do exvereador Alexandre Romano, ao advogado Guilherme Gonçalves, em Curitiba, que, por sua vez, utilizou esses mesmos recursos para pagamentos associados à senadora Gleisi”.
Em nota, Gleisi informou que conhece o advogado “há muito tempo”, desde a época de estudante, e que ele trabalhou em suas campanhas em 2008 e 2012 e na campanha do PT em 2014. Gleisi afirmou que a contratação do escritório consta “nas prestações de contas aprovadas pela Justiça Eleitoral”.
A assessoria de Gleisi disse que o motorista é filiado ao PT e trabalha para o advogado. “Como a senadora conhece Guilherme há muito tempo, ele cedia seu motorista quando a senadora não possuía escritório em Curitiba”.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou os primeiros pedidos de abertura de inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar políticos citados na delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC e apontado como chefe do cartel que fatiou contratos da Petrobras e de outras estatais.
Os depoimentos de Pessoa foram divididos em 30 petições ocultas no STF, que tramitam dessa forma até a definição sobre a abertura de inquéritos. A decisão caberá ao ministro Teori Zavascki, relator no STF dos processos envolvendo autoridades com foro privilegiado.
Essa é a segunda lista de Janot mantida sob sigilo. A primeira relação de pedidos de abertura de inquéritos levou em conta as delações do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Janot protocolou os pedidos em 3 de março. Na mesma semana, Zavascki concordou com as solicitações e determinou a instauração de inquéritos que investigam 13 senadores, 22 deputados federais e 12 ex-deputados.
Foi a partir dessas investigações que surgiram as duas primeiras denúncias da PGR, contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDBRJ), e o senador Fernando Collor ( PTB-AL). Eles foram denunciados por corrupção e lavagem de dinheiro.
A delação de Pessoa menciona autoridades com foro já investigadas e políticos acusados pela primeira vez. Estão nesse segundo grupo dois ministros petistas da presidente Dilma Rousseff: Aloizio Mercadante, da Casa Civil, e Edinho Silva, da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência.
Segundo Pessoa, houve repasse de caixa dois para Mercadante na campanha ao governo de São Paulo em 2010. Edinho teria tratado da campanha à reeleição de Dilma. O atual ministro era tesoureiro da campanha em 2014. Outro político citado foi o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), também por conta de repasse ilegal na campanha.
Segundo fontes, a PGR já analisou todas as menções feitas por Pessoa e formatou as citações para pedir a abertura dos inquéritos. Nem todos os pedidos foram protocolados no STF, o que pode atrasar uma decisão por parte de Zavascki.
Após pedir abertura de inquérito contra 24 deputados e 13 senadores no início do ano, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, será sabatinado às 10h de hoje pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Nove dos 13 investigados na Lava-Jato fazem parte da comissão, entre eles Fernando Collor (PTBAL), que fez discursos xingando o procurador.
Segundo auxiliares, Janot está tranquilo e pronto para enfrentar qualquer tipo de pergunta e até mesmo eventuais provocações de algum investigado descontente com a Lava-Jato. O procurador entende que vem agindo com rigor e isenção.
Segundo senadores da base governista e até mesmo da oposição, apesar da resistência de alguns investigados, a tendência é que a CCJ, e depois o plenário, aprovem a recondução de Janot ao cargo de procurador-geral. Ele foi indicado pela presidente Dilma.
Ontem, ao ser indagado se irá à sabatina, Collor disparou fogo com uma ironia:
— Não vou lá, não. Vou fazer uma excursão na Etiópia!
O senador avisou a colegas que não faltará à sabina. Na última sessão, Collor apresentou voto contrário à recondução de Janot. Em discurso recente, o senador chegou a chamar o procurador-geral de “filho da p”.
O isolamento de Collor e outros críticos a Janot foi reforçado por declarações do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de que Janot será tratado com respeito na sabatina. Para Renan, dar tratamento “normal” à sabatina é a melhor maneira de demonstrar imparcialidade. Mas a sabatina deverá ser longa e com críticas a algumas decisões de Janot. A votação é secreta na CCJ e no plenário.
— A maior demonstração de isenção que o Senado pode dar neste caso é fazer a apreciação da indicação com normalidade, com respeito, com responsabilidade. Uma coisa muito boa que temos no Brasil é que as instituições estão funcionando — disse Renan.