03/07/2015
Shawn Donnan e Claire Jone
A Grécia precisa de € 60 bilhões em nova ajuda financeira ao longo dos próximos três anos. O país se defronta, além disso, com décadas sob uma arrasadora montanha de dívidas que a tornarão vulnerável a crises futuras, advertiu o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Em análise que detalha o dilema econômico da Grécia, o FMI conclamou ontem a Europa a conceder ao país um alívio da dívida "abrangente", ao defender a duplicação dos vencimentos de suas dívidas de 20 para 40 anos.
A avaliação do Fundo deverá ser de ajuda para o governo liderado pelo Syriza, que defende o voto no "não" no referendo marcado para domingo. Mas o FMI também responsabilizou o partido pela deterioração da situação do país. Antes de o Syriza assumir, em janeiro, a economia grega tinha voltado ao crescimento e Atenas começara a colocar suas dívidas num caminho sustentável, disse o FMI. Mas a decisão do governo de suspender a reforma e as privatizações e de renegociar as condições de seu pacote de socorro financeiro encabeçado pela Europa levou à deterioração. A convocação de um referendo seguida pelo fechamento dos bancos e pela introdução de controles de capital apenas deteriorou a situação, acrescenta a instituição.
A divulgação da análise do FMI ocorre dois dias após a Grécia ter se tornado a primeira economia avançada a dar o calote no fundo, ao deixar de quitar ? 1,5 bilhão.
O ministro das Finanças Yanis Varoufakis insistiu que as negociações para instaurar um possível socorro financeiro serão imediatamente retomadas após o referendo, mesmo se vencer o voto no "não". Mas Jeroen Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo, que reúne os ministros das Finanças, advertiu os gregos de que seu futuro na zona do euro está em jogo.
"É preciso dirimir uma ilusão: [a de que] se o resultado for negativo, tudo poderá ser renegociado e teremos, no fim, um pacote mais fácil e mais atraente", disse ele.
Os dirigentes dos principais bancos centrais da zona do euro deverão voltar a se reunir na segunda-feira e prevê-se, com alto grau de certeza, que eles enrijecerão as condições de concessão de empréstimos emergenciais aos maiores bancos da Grécia, disseram autoridades. Isso poderá levar um ou mais dos maiores bancos do país ao colapso e acelerar a saída da Grécia da união monetária.
O BCE não impôs deságios maiores à garantia usada pelos bancos gregos para ter acesso a empréstimos na quarta-feira, a fim de evitar acusações de que estaria interferindo no referendo.
Uma alta autoridade do FMI negou também que o Fundo estaria tentando influenciar o resultado da votação ao publicar sua análise sobre a sustentabilidade da dívida.
O documento - datado de 26 de junho, o mesmo dia em que o referendo foi convocado - diz que, mesmo antes dos acontecimentos desta semana, a Grécia precisava de ? 29,3 bilhões em novos recursos para o período de 12 meses a iniciar-se em outubro.
No período de três anos a partir de outubro, as necessidades totais de financiamento da Grécia totalizariam ? 51,9 bilhões, dos quais ? 36 bilhões teriam de provir de seus credores europeus.
Com a expiração do pacote de socorro da zona do euro, a Grécia precisará de mais ? 10 bilhões para os próximos quatro meses, disse um alto funcionário do FMI. Além disso, há a possibilidade de que essa questão volte à baila em decorrência da deterioração da situação econômica do país. "Sem dúvida nenhuma, isso agora está sujeito a riscos de deterioração muito significativos", disse um qualificado funcionário do FMI. "É urgente sairmos dessa atual situação."
A análise do FMI atribui aos credores da zona do euro a tarefa de conceder significativo alívio do endividamento ao país. Mesmo com uma nova operação de socorro, "a dívida continuará muito elevada por décadas e altamente vulnerável a choques", afirmou o FMI.
A Alemanha e outros credores europeus são contrários à concessão, à Grécia, de mais alívio da dívida, enquanto Atenas não se comprometer com reformas econômicas e fiscais e não começar a implementá-las.