Título: PIB em voo de galinha
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Fonte: Correio Braziliense, 03/09/2011, Opinião, p. 18

Amarrado por uma taxa de juros de 12,5% ao ano (a maior do mundo, descontada a inflação), o Brasil desacelerou no segundo trimestre deste ano. O passo mais curto, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi de 0,8% em relação aos três primeiros meses, contra um avanço de 1,2% nesse período, na comparação com o anterior (outubro, novembro, dezembro). Ficou provado, pois, que passava da hora de folgar o garrote monetário, o que começou a fazer esta semana o Banco Central, com corte de 0,5 ponto percentual na Selic, medida que surpreendeu o mercado, cuja aposta era na manutenção do índice.

Mas, recebida como ousada, a decisão do BC ainda deixa o país a longa distância do segundo colocado no campeonato mundial dos juros, a Hungria, com 2,4% ao ano (contra nossos atuais 12%). E o problema do crescimento pífio do PIB está igualmente longe de se restringir a essa questão. Outro ponto fatal é a carga tributária. Além de alta, é a mais intricada do planeta, com grande variedade de impostos e contribuições, o que também contribui para elevar os custos. Somem-se a essas graves distorções problemas como a máquina pública cara e ineficiente, a excessiva valorização do real, a inflação, a precariedade da infraestrutura e o complexo arcabouço legal.

Não à toa, a indústria brasileira avançou reles 0,2% de abril a junho, ante janeiro a março. Desempenho pior, só sob os efeitos do turbilhão da crise internacional de 2008, no terceiro trimestre de 2009, quando a atividade recuou 7,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. Não por acaso, também, o governo lançou, no início do mês passado, o Plano Brasil Maior, pacote com ares de nova política industrial. O programa oferece dinheiro público a custos mais em conta, ao mesmo tempo em que desonera investimentos. É uma pisada no acelerador, mas com um motor sem potência para adquirir a velocidade desejada.

Enquanto não se enfrentar as questões em seu conjunto, o drama do voo da galinha, de curta altura e distância, perseguirá o Brasil, sétima maior economia do planeta. A falta de competitividade põe a perder, por exemplo, parte da força que vem do emprego e da renda. Em vez de comprar mais produtos nacionais, aumentamos as importações da China. Em vez de expandir nossas vendas para o exterior, perdemos importante espaço no mercado internacional. Enfim, falta-nos tecnologia, falta mão de obra qualificada, educação de qualidade; sobram-nos gargalos.

Sobretudo, faltam-nos determinação e ousadia. O Brasil há décadas discute reformas essenciais que jamais são implementadas. Hoje, a mais importante delas ¿ comprova-o a inépcia demonstrada todos esses anos pelo Congresso Nacional ¿ é a política. Projetos emperram, leis caducam, fiscalizações são negligenciadas, custos se multiplicam e o país não entra nos eixos. Sozinho, o eleitor pode muito pouco diante de partidos com programas de fachada e candidatos de ocasião, muitos deles fichas sujas interessados apenas na impunidade assegurada pelo cargo. É hora de acordar o gigante, para que produza todas riquezas de que o cidadão necessita.