FMI vê contas externas do Brasil ainda fracas, mas espera fortalecimento em 2015

29/07/2015

Por Sergio Lamucci | De Washington

A posição externa da economia brasileira em 2014 estava "mais fraca" do que o nível consistente com os fundamentos, mas deve se fortalecer um pouco neste ano, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Para a instituição, a conta corrente vai melhorar em 2015, refletindo a desvalorização do câmbio e a o enfraquecimento adicional da demanda doméstica.

Em relatório divulgado ontem, o FMI estima que na média do ano passado o real estava sobrevalorizado de 15% a 25% em relação ao valor indicado pelos "fundamentos de médio prazo e ao conjunto de políticas desejáveis". De julho de 2014 a maio deste ano, porém, a taxa real de câmbio efetiva se desvalorizou em 13%, em parte devido à piora nos termos de troca (relação entre preços de exportação e importação) e a "fatores domésticos". Essa medida do câmbio leva em conta a inflação, ponderada pelo peso dos principais parceiros comerciais do país.

Para o FMI, a posição externa do Brasil deve se "fortalecer um pouco em 2015", num cenário em que o déficit em conta corrente deve "melhorar apenas moderadamente, se os preços das principais commodities exportadas pelo Brasil evoluírem conforme as projeções atuais". Nas estimativas do FMI, o déficit em conta corrente, que ficou em 4,5% do PIB em 2014, o equivalente a 4,1% em termos ciclicamente ajustados, é superior ao que seria condizente com os fundamentos e as políticas desejáveis. O nível adequado seria um rombo de 0,5% a 2% do PIB no critério ajustado ciclicamente, que considera a folga de recursos na economia e o ciclo de commodities.

Segundo o FMI, o déficit em conta corrente brasileiro cresceu em 2014 devido a choques adversos, como "forte piora dos termos de troca, importações relacionadas à seca e a crise na Argentina". O rombo externo aumentou mesmo com a demanda doméstica contida e a depreciação real da moeda. Entre o fim de 2010 e maio de 2015, a taxa real de câmbio efetiva se desvalorizou em 24%.

Segundo o FMI, o Brasil continua a atrair volume considerável de capitais externos, com investimentos estrangeiros diretos atingindo cerca de 4% do PIB por ano. "O fluxo líquido do investimento estrangeiro direto financiou cerca de 70% do déficit em conta corrente em 2014", diz o relatório, que aponta o nível de reservas do país como superior a vários critérios que avaliam o volume adequado.

Questionado se via com preocupação a posição externa do Brasil, o número 2 do FMI, David Lipton, disse que não comentaria o assunto, pois o relatório falaria "por si mesmo". Em teleconferência, Lipton fez breve avaliação sobre como o Fundo vê a economia brasileira. Afirmou que o FMI se preocupa com a situação da economia do Brasil e o dilema que o país enfrenta, devido à combinação de crescimento em desaceleração e a necessidade de apertar a política fiscal e a monetária, num cenário de déficit público elevado e inflação muito alta. "[Mas] Estamos esperançosos de que ações nesses dois fronts darão um apoio adequado ao crescimento e à confiança no país e que possam ser úteis", disse Lipton.

___________________________________________________________________________________________________________________________________

Para fundo, desequilíbrios globais ainda são grandes

Por Sergio Lamucci | De Washington

Os desequilíbrios externos globais são bem menores do que no período de 2006 a 2008, mas eles ainda são muito grandes, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Do lado dos superávits em conta corrente mais importantes, aparecem China, Alemanha e Coreia do Sul e, do lado dos déficits, EUA, Reino Unido, Brasil e França.

"De modo geral, nos últimos anos nós vimos pouco progresso na redução desses desequilíbrios excessivos", disse David Lipton, do FMI. "Nas economias individuais, houve alguns avanços, mas também alguns retrocessos. O déficit excessivamente grande dos EUA foi reduzido, mas o do Reino Unido e de alguns mercados emergentes aumentou. De um ponto de vista global, essa 'rotação' de déficits substitui um problema por outro."

China e Alemanha continuam a mostrar superávits excessivos, na avaliação do FMI. Em 2014, a Alemanha teve um superávit de 7,6% do PIB, ou 8,1% do PIB em termos ciclicamente ajustados. Nas estimativas do FMI, é um saldo de a 3 a 5 pontos percentuais do PIB superior ao nível consistente com "os fundamentos de médio prazo e o conjunto de políticas desejáveis". No caso da China, o superávit ficou em 2,1% do PIB no ano passado, ou 2,5% do PIB ajustado ciclicamente. É bem menos que os 10% do PIB de 2007, mas ainda assim o número é de 1 a 3 pontos percentuais do PIB mais forte do que seria adequado.

Os EUA, por sua vez, tiveram em 2014 um déficit em conta corrente de 2,4% do PIB, bem abaixo dos 6% do PIB registrados antes da crise global. Para o FMI, o número estava entre 0 e 1,25 ponto percentual do PIB mais fraco do que o consistente com os fundamentos.