Exportar na crise

 

A baixa confiança no país está afetando não só os investimentos, mas também as exportações. Os empresários precisam de previsibilidade na economia para buscar clientes no exterior, garantias de que não haverá aumento de custos, e que os juros e a inflação vão cair. O superávit comercial deste ano acontece pela retração das importações, e não pelo aumento das vendas externas.

De janeiro até agora, a balança comercial acumulou superávit de US$ 6 bilhões. Ótima notícia, mas ela deriva de a importação ter caído mais do que a exportação: -20,7%, contra -15,8%. Em dólares, importamos US$ 26,16 bilhões a menos, e exportamos US$ 18,87 bilhões a menos. Os economistas chamam esse saldo de falso positivo, porque a corrente de comércio está mais fraca e há queda nas vendas, mesmo com a desvalorização do real.

Todas as categorias de exportação contabilizadas pelo Ministério do Desenvolvimento estão em queda este ano. De janeiro a julho, as vendas de bens de capital recuaram 10,7%; as de bens de consumo caíram 8,54%; combustíveis e lubrificantes, 29%; enquanto as matérias-primas e bens intermediários tombaram 15,32%; e as operações especiais, 31%.

O diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, conta que o setor conseguiu aumentar em 20% a exportação de produtos têxteis e em 4,5% as vendas de confeccionados. Ainda assim, a exportação representa apenas 3% da produção, e Pimentel diz que há déficit de US$ 3,2 bilhões na balança setorial. A meta é zerar esse número apenas daqui a 10 anos.

— Para exportar, não basta querer, tem que poder. A exportação é uma forma de investimento. Antes da venda, há um longo trabalho que o setor e o país precisam fazer — diz o executivo.

Esse trabalho passa pela participação de empresários em feiras internacionais, para conhecer clientes e expor produtos; investimento em tecnologia da informação, para ter os itens online; promoção; marketing; customização para certos tipos de mercado. No caso da indústria de confecção, há diferenças culturais nas roupas e também no biotipo de homens e mulheres, de país para país. Tudo isso é gasto em um primeiro momento para as empresas, uma forma de investimento. Vender manufaturados é muito mais complexo do que exportar matérias-primas, como soja e minério de ferro.

O empresário brasileiro, hoje, ainda tem pouca segurança para seguir por esse caminho. Primeiro, já sofreu um brutal aumento de custos em 2015; segundo, vive a conjuntura de extrema incerteza política e econômica. No caso da indústria têxtil, a energia elétrica representa até 30% da confecção de fios, porque nessa etapa da produção há muita utilização de máquinas. A alta do dólar encareceu o preço do algodão e das tintas. O aumento da gasolina e do petróleo deixou mais cara toda a cadeia de químicos e plásticos. Os juros encareceram os financiamentos, e o ajuste fiscal secou as linhas do governo que beneficiavam os exportadores.

— Nossos concorrentes não estão passando por tudo isso. É verdade que o real se desvalorizou, mas outras moedas também se desvalorizaram — disse o diretor da Abit.

Pimentel alerta que o saldo da nossa balança pode ser rapidamente revertido em caso de recuperação da demanda, porque as importações voltarão a crescer. Por isso, é preciso focar na agenda de redução de custos no médio e longo prazos para impulsionar as vendas externas.

— No curto prazo, há queda da importação com a crise. Mas é ilusão achar que vai ser assim para sempre, a não ser que aconteça uma recessão ainda mais prolongada. No médio prazo, a importação já volta a subir, com a alta do PIB — afirmou.

A desvalorização do yuan chinês de fato é um problema. Há pressão interna na China para forçar a queda da moeda e, assim, proteger o setor exportador, diz Pimentel. Mudar o modelo de crescimento da exportação e do investimento para o consumo não é simples, e o governo chinês não pode permitir uma desaceleração brusca da economia, sob risco de um colapso político em um país que as tensões sociais são consideradas ameaça ao regime não democrático.

Não será simples para o empresário brasileiro buscar refúgio no exterior nesta recessão. Só a melhoria da competitividade da economia permitirá o aumento do saldo pelo crescimento da exportação.