Queda na venda de gasolina já diminui preço nos postos

28/07/2015

Por Cláudia Schüffner, André Ramalho e Rodrigo Polito | Do Rio

Enquanto a política de preços dos combustíveis foi tema da reunião do conselho de administração da Petrobras na sexta-feira, as vendas de combustíveis tiveram queda no primeiro semestre pela primeira vez desde 2003. Nos primeiros seis meses do ano, as vendas de gasolina caíram 5%, na comparação com igual período de 2014, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP). O desempenho foi pior do que a queda média de 0,6% dos oito combustíveis monitorados pela agência.

Embora inalterado nas refinarias desde novembro do ano passado, quando a Petrobras reajustou os preços da gasolina em 3%, o combustível vem ficando ligeiramente mais barato para o consumidor final em alguns estados.

Em São Paulo, por exemplo, os postos vêm praticando preços mais baixos há cinco meses seguidos. Desde março, de acordo com levantamento da ANP, os preços do litro da gasolina caíram 1,95% no Estado.

Atenta a essa piora do mercado, a diretoria da Petrobras informou ao conselho de administração na sexta-feira que não existe decisão sobre reajustes, segundo informaram duas fontes. A preocupação é de deixar claro que cabe à diretoria executiva, e não aos conselheiros, as decisões sobre preços.

"Pelo estatuto, os reajustes são uma decisão da diretoria executiva. Infelizmente houve uma interferência no passado, e isso estava errado. Hoje o que o conselho faz é acompanhar esse assunto", disse uma fonte qualificada. "Estão administrando essa política da forma adequada. O conselho quer apenas saber como está sendo feito".

O estatuto da Petrobras, em seu artigo 33, afirma que cabe à diretoria executiva, e não ao conselho, aprovar a "política de preços e estruturas básicas de preço dos produtos da companhia". No entanto, nos últimos anos, ficou notória a interferência que impedia os reajustes quando os preços do petróleo estavam elevados, para evitar descontrole da inflação. Sem poder repassar aumentos de preço, a Petrobras financiou o consumo de combustíveis com seu próprio caixa.

Segundo cálculo do consultor Fábio Silveira, da GO Associados, desde janeiro de 2011 a Petrobras contabiliza prejuízo de R$ 60,011 bilhões com a venda de combustíveis com preços defasados. Desse total, R$ 24,18 bilhões se referem a perdas com a gasolina e R$ 35,83 bilhões com o diesel. Convertidos pela taxa média mensal do dólar no período, a perda é de US$ 31,5 bilhões. "Esse passivo vai levar muito tempo para ser recomposto. A Petrobras vai precisar buscar rentabilidade em outras atividades, como por exemplo a venda de petróleo bruto a preços superiores ao de produção", disse Fabio Silveira ao Valor.

Na gestão de Aldemir Bendine, a orientação é de dar liberdade para a diretoria da estatal. "A Petrobras vai exercer a paridade, mas não pode ser uma paridade burra, que não leve em conta a flutuação excessiva, e o mercado. Estamos numa situação de queda da demanda e não é assim tão simples reajustar em um produto que tem uma certa elasticidade de preço, como a gasolina", disse uma fonte do Valor.

Outra fonte esclareceu que os conselheiros discutem uma política para os preços de gasolina e diesel em linha com a aprovada em novembro de 2013. Na ocasião, a Petrobras informou que a política de preços visava assegurar a redução dos indicadores de endividamento, alcançar a paridade de preços com o mercado internacional e não repassar a volatilidade dos preços internacionais ao consumidor doméstico. Questionada sobre eventuais decisões sobre a política de reajuste dos preços da gasolina e diesel na última reunião do conselho, a Petrobras informou que não vai comentar o assunto.

A próxima reunião do conselho está marcada para 6 de agosto. Entre os assuntos da pauta está o balanço do segundo trimestre. Tem sido recorrentes as discussões sobre o plano de desinvestimento, já que a principal preocupação é com a situação financeira da estatal e seu endividamento, segundo afirmaram diversas fontes qualificadas ouvidas nos últimos meses.

Em meio às discussões do conselho, o mercado de gasolina continua caindo. A redução na comercialização do combustível no início de 2015 interrompe uma trajetória de crescimento de mais de uma década. O Valor apurou que o declínio reflete, em parte, a preferência do consumidor pelo etanol hidratado, que cresceu 38,3% no acumulado dos seis primeiros meses do ano.

Não à toa, as maiores quedas do mercado de gasolina foram registradas em Estados com tradição na indústria sucroalcooleira. Em São Paulo, maior centro consumidor de combustíveis e maior produtor de etanol, a comercialização de gasolina caiu 12,1% no primeiro semestre. Foi o pior desempenho entre os demais estados: Mato Grosso (-11,3%), Minas Gerais (-8,9%), Goiás (-8,5%) e Mato Grosso do Sul (-5,5%), todos produtores de etanol, também caíram acima da média nacional.

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Balança registra superávit de US$ 1,8 bi no mês

Por De São Paulo

A balança comercial brasileira registrou um superávit de US$ 204 milhões na quarta semana de julho, informou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Com o resultado, o saldo das trocas comerciais ficou positivo em US$ 1,861 bilhão no mês e em US$ 4,082 bilhões no ano.

As exportações nas quatro semanas de julho, comparadas ao mesmo mês de 2014, caíram 18,7% pelo conceito de média diária. Segundo dados divulgados pelo ministério, houve queda nos embarques das três categorias de produtos no período.

As vendas de produtos básicos recuaram 21,1%, de US$ 505,7 milhões em média por dia para US$ 399,2 milhões, em razão de petróleo bruto, minério de ferro, fumo em folhas, carne bovina e café em grão.

O embarque de manufaturados, por sua vez, recuou em média 15,9% por dia, de US$ 347 milhões para US$ 291,7 milhões. Os produtos que mais puxaram o desempenho foram plataforma para extração de petróleo, óleos combustíveis, motores para veículos, motores e geradores, açúcar refinado, óxidos e hidróxidos de alumínio e autopeças.

Os itens semimanufaturados registraram queda de 15,6% na média diária de vendas - a média passou de US$ 123,3 milhões para US$ 104,1 milhões. A retração foi influenciada por ferro fundido, óleo de soja em bruto, ouro em forma semimanufaturada, couros e peles, ferro-ligas, açúcar em bruto e semimanufaturado de ferro/aço.

As importações em julho, até a quarta semana do mês, caíram 23,8% pelo conceito de média diária para US$ 710,6 milhões, quando comparadas a julho de 2014. A redução mais intensa que a registrada nas exportações foi motivada, especialmente, por menores compras de combustíveis e lubrificantes (-61,8%), plásticos e obras (-25%), veículos e partes (-23,4%), aparelhos eletroeletrônicos (-23%) e equipamentos mecânicos (-21,5%).

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Preço do diesel ainda gera saldo positivo

Por Cláudia Schüffner | Do Rio

Cálculos da consultoria GO Associados indicam que a Petrobras deverá ter perda operacional de R$ 528 milhões em julho com a produção e comercialização de gasolina. A consultoria calcula que este mês a gasolina deve ser comercializada no mercado brasileiro com um preço 12% abaixo do que é visto no mercado internacional.

Para julho de 2015, a projeção de Fabio Silveira e Amabile Ferrazoli, da GO Associados, é de que o preço internacional de realização da gasolina produzida nas refinarias da Petrobras, comparado com os preços praticados na região do Golfo do México americano, terá alta de 1,9% em relação a junho, chegando a R$ 1,63 por litro. "Isto porque, neste mês, a desvalorização prevista para o real (- 4,0%) deverá ser mais acentuada do que a queda esperada para o preço do produto, em dólar, no mercado externo (- 2,0%)", afirmam os analistas em relatório para clientes.

Ao chegar ao percentual de defasagem, a GO Associados observa que o preço de realização da gasolina no mercado doméstico, mantido em R$ 1,44 por litro (antes dos impostos), representa um valor 12% menor do que a estimativa de preços em reais para o mercado externo. Para o diesel, a previsão é de que esse combustível continue sendo vendido no Brasil com preço 22% acima da estimativa da GO Associados para o mercado externo, já convertido o preço em dólares para reais. A previsão é de que o preço de realização do diesel nas refinarias da Petrobras caia 4,7% na comparação com junho, ficando na faixa de R$ 1,41 por litro.

No mercado brasileiro, cada litro de diesel está sendo vendido por R$ 1,72 e por isso a previsão dos consultores de ganho operacional de R$ 1,35 bilhão com esse combustível, calcula a GO. Considerando-se os dois combustíveis, que têm maior peso nas importações, a estatal teria um saldo positivo de R$ 822 milhões em julho.