Queda nas ‘commodities’ reduz em US$ 25 bi exportações do Brasil

 A queda livre dos preços das commodities agropecuárias, metálicas e minerais exportadas pelo Brasil afeta fortemente a balança comercial brasileira, que só registra superávit em 2015 porque as importações estão caindo mais do que as vendas externas, reflexo do desaquecimento da economia. Estimativa da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior (Mdic) mostra que, somente por causa do declínio das cotações de três categorias de produtos cotados em bolsas internacionais — complexo de soja; minério de ferro; e petróleo e derivados — o país deixará de ganhar cerca de US$ 25 bilhões com exportações em 2015.

— Se os preços dessas commodities estivessem no mesmo patamar do ano passado, com a expansão do volume vendido no exterior, as exportações poderiam crescer US$ 25 bilhões nessas três categorias de produtos. Se levássemos em conta todas as commodities, a soma seria bem maior — disse ao GLOBO o secretário de Comércio Exterior, Daniel Godinho.

QUANTIDADE SOBE 7,2%

Segundo Godinho, esses três itens responderam por 78,8% da queda de US$ 20,7 bilhões no valor absoluto das exportações, nos sete primeiros meses de 2015, ante janeiro a julho de 2014. Enquanto a quantidade exportada aumentou 7,2% em relação ao mesmo período de 2014, os preços desses produtos caíram 21%. No caso do minério de ferro, o preço recuou 51% este ano, ficando no menor nível desde fevereiro de 2007. A soja teve redução de 24% no preço e chegou ao seu menor valor desde julho de 2010. Já o preço do petróleo teve queda de 47%, chegando ao menor valor desde junho de 2009.

— O aumento da quantidade exportada foi mais do que neutralizado pela queda do preço — afirmou Godinho.

Os dados da balança comercial contabilizados nas duas primeiras semanas de agosto pelo Mdic mostram que o preço do petróleo caiu 50,2% em relação ao mesmo mês do ano passado, enquanto o volume exportado do produto subiu 37%. Com isso, a receita da exportação baixou 31,8%%. Em outro exemplo, o preço do etanol caiu 31,3%, mas, neste caso, a redução foi compensada por uma elevação de 86,9% do volume embarcado. Assim, a exportação registrada na balança comercial de álcool aumentou 28,4%.

O grupo petróleo e derivados tem uma característica importante: as exportações caíram com os preços desses produtos, mas as importações também diminuíram, o que, neste caso, favorece o Brasil. Esse comportamento é visto claramente na conta- petróleo. O déficit na balança comercial do setor caiu de US$ 9,937 bilhões no período de janeiro a julho de 2014 para US$ 3,8 bilhões no acumulado dos sete primeiros meses deste ano.

O economista Fábio Silveira, da GO Associados, projeta uma queda nos preços do petróleo de 40% em 2015, de 20% no caso da soja, e algo em torno de 50% nos valores do minério de ferro. Ele prevê uma desvalorização do real em relação ao dólar em torno de 35% este ano, mas destaca que as alterações no câmbio não têm efeito direto nas vendas de produtos básicos, como commodities.

— A desvalorização cambial não tem a propriedade de acentuar a exportação das commodities que, como o próprio nome diz, tem características comuns com produtos de outros países. O importador de soja está comprando do Brasil, mas pode comprar dos Estados Unidos. O preço em dólar será o mesmo. O câmbio ajuda as exportações de manufaturados — afirmou.

SALDO DE US$ 10 BI PARA 2015

De janeiro até a segunda semana de agosto deste ano, a balança comercial registrou superávit de US$ 6 bilhões, ante déficit de US$ 1,289 bilhão acumulado no mesmo período de 2014. Tratase de um ajuste, porém, apoiado na retração maior das importações. De forma geral, as consultorias esperam um saldo positivo em torno de US$ 10 bilhões para 2015.

 

Analista vê dólar entre R$ 3,50 e R$ 4 nos próximos 12 meses

O dólar não vai deixar tão cedo o patamar de R$ 3,50. Essa é a avaliação de Marcelo Kfoury Muinhos, economista- chefe do Citi Brasil. Segundo ele, o câmbio deve sofrer com a crise de confiança observada no Brasil, à qual se soma a desaceleração da economia chinesa. Para Muinhos, a moeda americana deve se manter entre R$ 3,50 e R$ 4 nos próximos 12 meses, estabilizando-se em R$ 3,50 durante 2017 e 2018.

— Essa incerteza do câmbio dificulta a inflação, que deve chegar a 10% neste ano e 5% em 2016. Por isso, não vejo muita condição de o Banco Central flexibilizar a taxa de juros. Ou seja, ficou mais difícil cortar os juros no início de 2016 — afirmou Muinhos, que participou ontem do debate “Cenário político- econômico brasileiro: o que esperar em curto e médio prazos?”, na Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro (AmCham Rio).

Ele disse ainda que, além dos problemas políticos e econômicos no país, há uma conjuntura internacional desfavorável, o que deve agravar a crise de confiança interna:

— Não vemos luz no fim do túnel. Estamos caminhando para uma recessão longa, com quatro a cinco trimestres de queda. Esse ciclo deve durar até o primeiro trimestre de 2016. Assim, vemos uma média de crescimento negativo no ano que vem.

FITCH: NOTA SOB PRESSÃO

No debate, o diretor- geral da agência de classificação de risco Fitch, Rafael Guedes, disse que o rating (nota de crédito) do Brasil está sob pressão. Em julho, depois de o governo reduzir a meta de superávit primário (economia para o pagamento de juros), a Fitch havia dito que iria reavaliar a nota do país. Esta hoje está em “BBB” pela agência, dois níveis acima do grau especulativo.

Sem querer dar uma data, Guedes ressaltou que que o prazo final para uma decisão da Fitch é abril de 2016:

— Mas pode ser a qualquer momento. Se o analista perceber que há mudanças relevantes, ele pode levar para o comitê. O endividamento bruto do país é de 64%, superior à mediana dos países classificados com o mesmo rating do país, que é de 40%. E isso coloca mais pressão sobre o rating do Brasil. As notícias não são boas. O que vai ser analisado pelo comitê é a posição construtiva ou não do Congresso — explicou Guedes.