Relações estreitas

 

Aigreja evangélica que, segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), recebeu parte da propina destinada ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDBRJ), é comandada por uma família que tem estreitas relações com o parlamentar. O delator Júlio Camargo admitiu ter repassado R$ 250 mil, em duas parcelas, para a conta de um templo da Assembleia de Deus em Campinas, no interior de São Paulo. Ali, o pastor é Manoel Ferreira Netto, sobrinho de Abner Ferreira, que dirige um templo em Madureira frequentado por Cunha.

MARCOS ALVESVazio. Templo da Assembleia de Deus em Campinas, que recebeu dinheiro de lobista

Um comprovante de depósito e a cópia de um e-mail foram anexados à denúncia que a PGR entregou ao Supremo Tribunal Federal ( STF). Um dos documentos é a reprodução de um comprovante de transferência bancária via TED feito no dia 31 de agosto de 2012. O dinheiro saiu da conta da Treviso Empreendimentos, empresa de Camargo, e foi para a Assembleia de Deus. O valor registrado é de R$ 125 mil.

Evangélico desde 1996, Cunha costumava frequentar a Sara Nossa Terra. Mas foi com a família Ferreira que ele comemorou, no templo da Assembleia de Deus em Madureira, sua eleição para a presidência da Câmara, em fevereiro, em um culto de quase duas horas.

— O Satanás teve que recolher cada uma das ferramentas contra nós. Nosso irmão em Cristo é o terceiro homem mais importante da República — comemorou Abner, na ocasião.

Abner e o irmão Samuel, pai de Manoel Ferreira Netto, são colunistas do site de Cunha, o “Fé em Jesus’’. No mês passado, o presidente da Câmara participou da inauguração da Catedral da Baleia, a sede da Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil-Ministério de Madureira (Conamad), em Brasília. O prédio, cujo formato imita o mamífero, é cercado por um lago artificial. Ao lado de Cunha, estava o ex-deputado federal Manoel Ferreira, pai de Abner e Samuel e presidente vitalício da Conamad.

No templo de Campinas, ontem, Manoel Ferreira Netto não foi encontrado. De acordo com a vizinhança, as aparições do pastor diminuíram desde a divulgação dos pagamentos feitos pela Treviso à igreja. O GLOBO também procurou Samuel, porém ele não estava no templo que administra, no bairro do Brás, em São Paulo.

Frequentada por Cunha, a Assembleia de Deus em Madureira, passou o dia fechada. Pastores e funcionários da sede da igreja evangélica, que, em todo o país, conta com cerca de 12 milhões de fieis, preferiram não comentar a denúncia da PGR.

— A ordem é não falar com ninguém — disse um dos porteiros, que não quis se identificar.

Um outro funcionário informou que Abner Ferreira participava de um congresso na Paraíba e deverá retornar hoje ao Rio.

 

Solange Almeida se defende: ‘Fiz inúmeros requerimentos’

A prefeita de Rio Bonito, Solange Almeida (PMDB), divulgou ontem uma nota na qual diz estar “indignada” por ter sido denunciada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF). Acusada de corrupção passiva, ela negou ter ajudado o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), a pressionar o operador Júlio Camargo em 2011, quando era deputada federal. De acordo com a PGR, naquele ano, Solange fez dois requerimentos de informações ao Tribunal de Contas da União (TCU) e ao Ministério de Minas e Energia sobre auditorias, aditivos e processos licitatórios envolvendo o Grupo Mitsui e a Petrobras. Tais iniciativas, segundo a acusação, serviram para forçar Camargo a pagar propinas referentes ao aluguel de dois navios-sonda.

‘‘Ressalto a vocês, meus amigos, que existem muitos interesses políticos envolvidos, querendo desviar o foco da Justiça’’, diz Solange na nota, sem explicar a que se refere. No comunicado, ela destaca que, como deputada federal, fez ‘‘inúmeros requerimentos’’ ao TCU, já que integrou as comissões de Minas e Energia, de Fiscalização Financeira e Controle, de Seguridade Social, de Constituição e Justiça e de Finanças e Tributação. A PGR quer que a prefeita e Cunha indenizem os cofres públicos com US$ 80 milhões.