PSDB convocará na TV população para ato pró-impeachment de Dilma

28/07/2015

Por Raquel Ulhôa | De Brasília

 

O PSDB vai usar parte das inserções partidárias na televisão para convidar a população a participar das manifestações de rua contra o governo convocadas por movimentos sociais para o dia 16 de agosto - mesmo não sendo organizador. A informação é do seu presidente, senador Aécio Neves (MG). Os comerciais começam a ser veiculados hoje, mas na primeira semana serão usados para tentar mostrar unidade das principais lideranças, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador Geraldo Alckmin (SP), o senador José Serra (SP) e Aécio.

"Vamos fazer isso [estimulando a participação] na dose certa. Dizer que existe e convidar. (...) Não assumindo a paternidade ou o protagonismo das manifestações. Se desconsiderarmos que elas existem, estaremos fugindo da realidade. A cobrança de eleitores ligados a nós é enorme", disse Aécio.

Segundo o dirigente tucano, o partido quer mostrar que está "absolutamente sintonizado com o sentimento das ruas". Aécio afirmou que ainda não decidiu se irá às manifestações, mas admite ser a "maior" possibilidade. "Se eu decidir, vou como cidadão", disse, ontem.

O presidente do PSDB criticou a iniciativa da presidente Dilma Rousseff de convidar os governadores da oposição para encontro. Considera tentativa de "cooptar" e de "puxar os governadores de Estado para esse barco de irregularidades" em que o governo federal está envolvido.

"Essa reunião me parece mais de socorro do governo. Como disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um apoio para socorrer aquilo que não deve ser socorrido, não deve ser salvo. Isso sintetiza o pensamento majoritário no PSDB", afirmou. "É uma presidente em busca de socorro, que quer que alguém jogue uma boia salva-vidas", disse.

Além de criticar a iniciativa de Dilma de "trazer para sua situação governadores que nada têm a ver com isso", lançando mão, segundo ele, de "ameaças veladas", Aécio condenou o que considera tentativa de "constranger" os ministros do Tribunal de Contas da União (TCU), que devem julgar em agosto as contas do governo de 2014. Citou a visita de ministros de Estado a ministros do TCU.

Para ele, apesar da declaração do advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, de que o governo espera decisão técnica do TCU, existe tentativa de influenciar o julgamento. Mas diz que não há como fugir dos dados, citando o relatório no qual o TCU aponta a prática conhecida como "pedaladas fiscais" - governo usar recursos de bancos oficiais para pagamento de suas despesas, o que contraria a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

Com relação aos protestos, o senador admite que, entre os organizadores, existem grupos que querem a permanência da presidente até o fim do mandato e até aqueles que defendem intervenção militar, mas disse que o PSDB apoia apenas as saídas "dentro da ordem democrática". Evitando manifestar-se claramente a favor de um saída de Dilma por impeachment ou cassação da chapa pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o tucano apresentou argumentos que podem ser interpretados como favoráveis à via da Justiça Eleitoral, que resultaria em novas eleições. Em caso de impeachment, quem assumiria seria o vice-presidente, Michel Temer (PMDB).

"Se um dia tiver oportunidade de ser presidente da República, será pelo voto. Não será por outro caminho. Até porque acho que ninguém conseguirá enfrentar as dificuldades do Brasil, muito graves, sem estar legitimado pelo voto popular", disse. Segundo ele, o que vai acontecer com Dilma dependerá mais dela e do governo do que das oposições.

A convocação do PSDB ao ato pró-impeachment, em agosto, deve levar mais manifestantes às ruas e dará "credibilidade" ao pedido de afastamento da presidente, avaliou o Movimento Brasil Livre (MBL), um dos grupos que articulam o protesto.

O MBL comemorou a mudança de postura de Aécio e de dirigentes tucanos que, até então, não se envolveram diretamente nos dois protestos anteriores, em março e abril, contra Dilma e contra o PT. "Finalmente Aécio assumiu a postura de oposição", afirmou Rubens Nunes, um dos líderes do MBL, grupo que protocolou na Câmara um pedido de impeachment de Dilma. "A propaganda na televisão tem um impacto muito grande e isso nós ainda não tínhamos. Com o chamamento do PSDB o protesto terá uma adesão maior e se tornará mais crível. Mais gente terá conhecimento", disse.

A mudança de postura de Aécio se deu dois dias depois de FHC declarar que o momento "não é para a busca de aproximações com o governo, mas sim com o povo". Lideranças do PSDB já têm defendido publicamente o impeachment. " Dia 16 de agosto vamos voltar às ruas agora para pedir o IMPEACHMENT DE DILMA", afirmou o líder da bancada tucana na Câmara, Carlos Sampaio (SP), no Twitter. O ex-governador de São Paulo Alberto Goldman disse em artigo que o PT está o governo "em fase terminal" e defendeu a saída de Dilma do cargo. "Para o Brasil, a melhor saída é a exclusão do poder do PT e dos aliados que se enlamearam. Base política, social e legal não faltam. É a solução legítima, a mais rápida e mais eficaz e a menos penosa para o nosso povo", afirmou. (Colaborou Cristiane Agostine, de São Paulo)

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Presidente pede reforço de ministros no Congresso

 

Por Andrea Jubé e Lucas Marchesini | De Brasília

A presidente Dilma Rousseff convocou ontem 12 ministros, representantes dos partidos da base aliada, para pedir-lhes que reforcem a interlocução com suas bancadas no Congresso Nacional. A uma semana da retomada da atividade parlamentar, e com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na condição de adversário confesso, o governo teme a derrubada de vetos, a aprovação de uma "pauta-bomba" e o eventual avanço de um processo de impedimento da presidente na Casa.

"O objetivo é fazer a integração dos ministros com o Congresso Nacional, a pauta foi esta, [precisamos] cada vez mais dialogar com o Congresso", disse o vice-presidente Michel Temer, articulador político do governo. Participaram da reunião ministros de sete siglas aliadas: PMDB, PT, PSD, PR, PTB, PCdoB e PRB. Em tempos de turbulência no parlamento, Dilma também deve se reunir com as lideranças da base aliada na Câmara e no Senado na semana que vem, quando forem retomadas as votações no Legislativo.

O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, foi o protagonista das reuniões da coordenação política, pela manhã, e com o colegiado de ministros à tarde. Em ambas, fez uma exposição do cenário econômico e das razões que levaram o governo a sugerir a redução da meta fiscal de R$ 66 bilhões para R$ 8 bilhões.

Na reunião da manhã, o conflito com Eduardo Cunha foi um dos temas de debate com os ministros do núcleo político. A orientação do governo é que líderes governistas e aliados evitem atrito com o presidente da Câmara e busquem preservar a relação institucional. Em coletiva à tarde, Temer voltou a rebater declaração de Cunha insistindo que o PMDB deixe o governo. "Ele [Cunha] sabe e reconhece que o PMDB tem instâncias partidárias" que deverão examinar essa questão, como a Executiva e o diretório nacional, disse o vice-presidente.

O vice minimizou o risco de que o Congresso venha a aprovar projetos que impliquem aumento de gastos públicos. "Eles [parlamentares] são capazes de verificar o que pode prejudicar e o que pode ajudar o país, a regra geral é que o Congresso quando legisla, ajuda o país, o compromisso é com o país, não com o governo", disse Temer.

Além de intensificar o diálogo com o Congresso, o governo finaliza as nomeações políticas para cargos no Executivo, uma das principais demandas da base, junto com o pagamento das emendas parlamentares.

O ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Eliseu Padilha, principal auxiliar de Temer na articulação política, disse que conclui as nomeações políticas até meados de agosto. "Às vezes, a questão dos cargos é mal interpretada, em qualquer país republicano, na formação de governo, os partidos que integram governo ajudam a administrar".

Sobre a reunião de Dilma com os governadores na quinta-feira, Padilha disse que uma das pautas principais será a reforma do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), já que eles, assim como o governo federal, estão sofrendo com as dificuldades na arrecadação de impostos. O ICMS é a principal fonte de receita para os Estados.

"Os governadores fizeram reuniões regionais, com posições de trazer ao governo central preocupação com governabilidade, então há uma coincidência de interesses". Ainda está em aberto a forma como será feita essa reunião, informou Padilha. O ministro citou como possibilidade uma reunião conjunta com representantes de todos os Estados, ou encontros regionais.