Janot também faz denúncia contra Collor

 

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou ontem o senador Fernando Collor de Mello, por corrupção e lavagem de dinheiro, no âmbito da Lava-Jato. As investigações envolvem a BR Distribuidora. Collor qualificou a denúncia como “festim midiático”. -BRASÍLIA- O senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) foi denunciado pelo procurador-geral da República (PGR), Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção e lavagem de dinheiro, devido ao seu suposto envolvimento no escândalo investigado pela Operação Lava-Jato. As acusações contra o ex-presidente da República têm como foco a BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras. Collor é o responsável pela indicação de dois ex-diretores da companhia. Na denúncia, há outros acusados, mas seu conteúdo não foi disponibilizado pela PGR porque um trecho tem como base uma delação premiada que está protegida por sigilo judicial.

ANDRÉ COELHO/19-08-2015Sob suspeita. Collor durante sessão no Senado: ex-presidente teria recebido propinas por contratos firmados pela BR

Apesar de o texto da denúncia não ter sido divulgado, sabe-se que o senador é suspeito de receber, entre 2010 e 2014, parte de propinas que chegariam a R$ 26 milhões e estariam relacionadas a contratos firmados na subsidiária da Petrobras. Collor teve a residência e empresas vasculhadas na Operação Politeia, deflagrada por decisão do STF no mês passado. Durante a ação, foram apreendidos cinco carros de luxo que pertenceriam ao ex-presidente, incluindo uma Lamborghini, uma Ferrari e um Porsche que estavam na Casa da Dinda, em Brasília, onde mora.

DELAÇÕES COMPLICAM EX-PRESIDENTE

Segundo a investigação, Collor recebeu propinas relativas a dois contratos firmados pela BR Distribuidora, um para a troca de bandeiras da rede de postos DVBR Derivados do Brasil S/A e o outro para a construção de bases de combustíveis pela UTC Engenharia, de propriedade de Ricardo Pessoa, um dos delatores da Lava-Jato. O senador teria montado um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro com a utilização de empresas das quais é sócio.

Ainda de acordo com a investigação, parte do dinheiro chegou ao senador por meio do doleiro Alberto Youssef, que afirmou ter feito diversos depósitos em contas de Collor e providenciado pagamentos em espécie para o ex-presidente em Alagoas. O doleiro disse também que emissários do senador foram ao seu escritório, em São Paulo, para retirar parte das propinas. Youssef contou que negociou o esquema de corrupção com Pedro Paulo Leoni Ramos, ex-ministro de Collor. Em sua denúncia, o doleiro se refere ao intermediário como ‘‘PP’’.

Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ) anexado ao processo revela que algumas transações foram realizadas por meio das empresas Água Branca Participações, Gazeta de Alagoas Ltda. e TV Gazeta de Alagoas. As propinas teriam financiado a compra dos carros de luxo apreendidos. As concessionárias que venderam os automóveis ao senador informaram que parte dos pagamentos saiu de depósitos realizados por uma empresa de fachada de Youssef, a Phisical Comércio Importação e Exportação Ltda. Alguns repasses para as lojas foram feitos por empresas do senador. No entanto, para o Ministério Público Federal, a Água Branca é apenas uma firma de fachada.

Além de Leoni Ramos e de Collor, duas pessoas que seriam do grupo denunciado pela PGR foram alvos de mandados de busca e apreensão na Operação Politeia: os ex-diretores da BR José Zonis e Luiz Cláudio Caseira Sanches. Ambos foram indicados pelo senador. Eles são funcionários de carreira da Petrobras e ainda trabalham na companhia.

O senador Ciro Nogueira (PP-PI) não foi denunciado ontem por Janot. Ele continua sob investigação e é acusado por três delatores do esquema — Youssef, Ricardo Pessoa e Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras — de recebimento de propina. O senador nega a acusação.