23/07/2015
Eduardo Militão
Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco, ex-diretores da Petrobras, confessaram os crimes e fecharam um acordo para devolver R$ 50 milhões
O Gabinete do Procurador-Geral do Ministério Público da Suíça suspeita que a maior empreiteira do Brasil pagou propinas para ex-diretores da Petrobras por meio de contas bancárias abertas naquele país. O Correio apurou que, na segunda-feira, os suíços pediram à Procuradoria-Geral da República (PGR) ajuda nas apurações, como tomar depoimentos de suspeitos no Brasil e levantar documentação. A empreiteira disse que a investigação no exterior é natural, mas derivada de interpretações distorcidas. Uma denúncia contra a empreiteira deve ser apresentada nos próximos dias à 13ª Vara Federal em Curitiba.
Os investigadores europeus dizem que o dinheiro da corrupção da empreiteira trafegou entre contas de bancos suíços. Com base nos resultados obtidos até agora, suspeita-se que companhias do grupo Odebrecht pagaram propinas por meio de contas na Suíça a ex-diretores da Petrobras, disse o Ministério Público da Suíça, em nota. O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou que recebeu US$ 23 milhões da Odebrecht por meio de contas na Suíça. Outro que admitiu ter recebido dinheiro de corrupção em terras suíças da empreiteira foi o ex-gerente de Engenharia da estatal Pedro Barusco. Ele e Paulo Roberto confessaram os crimes e acertaram devolver R$ 50 milhões. A empreiteira tem dito que não fez qualquer pagamento de suborno e só obteve negócios na Petrobras de forma lícita.
Outros ex-diretores suspeitos de corrupção no Brasil também mantinham contas na Suíça e em Mônaco. É o caso de Renato Duque (Engenharia) e Jorge Zelada (Internacional). Como mostrou o Correio, em 18 de março, Duque era um dos investigados pelo Ministério Público suíço em inquérito por lavagem de dinheiro e corrupção. A Odebrecht nega ter pagado propinas para obter contratos na Petrobras.
US$ 400 milhões
De acordo com o Ministério Público suíço, os órgãos de controle financeiro do país identificaram transações atípicas no sistema bancário relacionadas à Petrobras. O procurador-geral da Suíça, Michel Laubert, disse em março que o órgão confiscou US$ 400 milhões (R$ 1,3 bilhão) de ex-dirigentes da petroleira, empresas, executivos de empreiteiras e operadores envolvidos na Operação Lava-Jato. Os suíços localizaram mais de 300 contas em 30 bancos suíços onde entendem que o dinheiro da corrupção foi escondido ou lavado. Ao analisar relatórios de inteligência financeira, foram abertas inúmeras investigações sobre a Petrobras até março, eram nove inquéritos.
O resultado inicial indica que o centro financeiro suíço foi seriamente afetado pelo escândalo, disse a autoridade suíça ontem, citando a existência de réus acusados e condenados no Brasil. Os dois países devem cooperar estreitamente e reciprocamente dentro do quadro legal disponível, a fim de esclarecer este escândalo de corrupção e trazer os responsáveis à Justiça.
Segundo o Ministério Público suíço, o trabalho visa combater o crime e preservar a imagem do sistema financeiro daquele país. Ao realizar essas investigações, o Gabinete do Procurador-Geral da Suíça está cumprindo seu dever legal de combater a corrupção internacional e de proteger o centro financeiro suíço, que está exposto a um risco de reputação muito alta por incidentes deste tipo.
Fora do contexto
A Odebrecht disse ser natural a abertura de um processo de investigação na Suíça. O motivo, avaliou a empresa em nota, é a grande repercussão do tema no Brasil, decorrente do vazamento de informações com interpretações distorcidas e descontextualizadas. A empresa disse que tem todo o interesse em esclarecer o assunto. A Odebrecht contatará as autoridades suíças para entender o alcance das investigações e o motivo pelo qual está sendo inserida no contexto de apuração de irregularidades cometidas por executivos da Petrobras, afirmou a assessoria da construtora.
Os presidentes da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, e da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, devem ser transferidos da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba para o Complexo Médico-Penal, localizado em Pinhais, na região metropolitana da capital paranaense. A Polícia Federal pediu a transferência deles e de outros seis executivos de empreiteiras por falta de espaço em sua carceragem.
Advogada deixa quarto delator
Especialista em delação premiada, a advogada Beatriz Catta Preta deixou de atender o quarto delator na Operação Lava-Jato. Ela informou ao juiz Sérgio Moro que não é mais representante do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco e do presidente da Setal, Augusto Mendonça, desde segunda-feira. Na semana passada, deixou Júlio Camargo um dia depois de ele acusar o deputado Eduardo Cunha de cobrar propina de US$ 5 milhões. Em outubro do ano passado, Catta Preta deixou de atender o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Na delação premiada, o réu confessa crimes, indica provas novas para os investigadores e paga multas em troca de uma redução no tamanho de sua pena. Catta Preta não atendeu aos telefonemas do Correio ontem. (EM)