Temer dirá hoje a Dilma que vai deixar a articulação política

 

O vice-presidente Michel Temer dirá hoje à presidente Dilma Rousseff que vai deixar a coordenação política do governo. Mas, segundo ministros, receberá um pedido para que desista da ideia e permaneça na função. -BRASÍLIA- O vice-presidente Michel Temer se reúne hoje com a presidente Dilma Rousseff para dizer que vai deixar a coordenação política do governo. Mas ministros do Palácio do Planalto dizem que a intenção é manter o apoio a Temer, para que ele desista da ideia e permaneça na função. Temer terá uma conversa privada com Dilma antes da reunião de coordenação política que ocorre todas as segundas-feiras.

GIVALDO BARBOSA/19-8-2015Insatisfeito. Michel Temer reclama que seu papel de articulador foi reduzido à negociação miúda

Ontem, o ministro da Secretaria de Comunicação de Governo, Edinho Silva, fez elogios ao vice-presidente:

— O Temer tem cumprido um papel fundamental na articulação política. Tem rara habilidade na construção de posições majoritárias. E o ministro Padilha também. A presidente Dilma tem muito reconhecimento e gratidão ao trabalho de Temer na articulação.

MAL-ESTAR NA LIBERAÇÃO DE EMENDAS

O clima entre Dilma e Temer é de estranhamento desde que, no auge da crise política, ele declarou que “alguém” precisava unir o país. Desde então, Dilma passou a esvaziar o papel do vice na articulação e a ocupar seu espaço. Na última semana, Temer avisou que não quer ser mais responsável pela chamada negociação miúda de cargos e liberação de emendas parlamentares.

Fiel escudeiro de Temer e operador dessas negociações, o ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil) afirmou a parlamentares que não vai mais despachar na Secretaria de Relações Institucionais, no Palácio do Planalto, onde tem feito jornada dupla.

Temer vem reclamando até mesmo do comportamento do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Na semana passada, houve um mal-estar em relação à liberação de emendas. Temer assumiu compromissos, por intermédio de Padilha, depois desautorizados pela equipe econômica. O vice está insatisfeito ainda com interpretações, por parte de ministros petistas, de que ele poderia ser beneficiado com o impeachment da presidente. O vice vem dizendo que tem história como jurista e não quer seu nome envolvido em insinuações de apoio a ações golpistas.

Aliados de Temer dizem que ele está decidido. Mas admitem que falta uma conversa com Dilma. A reunião da coordenação política deverá ser precedida de uma conversa dos dois. É na coordenação política que se define toda a estratégia da articulação.

Aliados têm certeza da saída de Temer. Parlamentares do PMDB dizem que seria “uma desmoralização” ele mudar de ideia. O problema é que a negociação ficaria nas mãos do PT, principalmente do ministro Aloisio Mercadante (Casa Civil), cujo comportamento é muito criticado no Congresso. Mas os mesmos peemedebistas afirmam que isso não significa um desembarque do PMDB do governo.

— Quero ver como os gênios do PT vão se virar sem o PMDB na negociação política — resumiu um aliado de Temer.

O PMDB do Senado não acredita num rompimento com a saída de Temer da linha de frente da coordenação, até porque isso seria interpretado como apoio ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha. O PMDB do Senado está mais próximo do Planalto, na figura do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

O partido também espera uma posição de Temer para saber se deixará o governo Dilma. O encontro nacional do partido foi adiado para novembro.

— Do jeito que as coisas estão, é muito complicado prever. E não podemos fazer um encontro do PMDB sem um caminho definido — disse um integrante da cúpula da legenda.

 

Vice pede a Cunha que reduza ataque ao governo

 

O vice-presidente Michel Temer (PMDB) pediu ao presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha ( PMDBRJ), que reduza os ataques ao governo Dilma, a aliados e até ao Ministério Público. Na conversa que teve com Cunha na última sexta-feira, segundo aliados, Temer tentou acalmar o deputado e argumentar que o estilo “metralhadora giratória” só o prejudicará ainda mais.

A interlocutores, Cunha prometeu ser mais tranquilo, mas avisou que vai reagir para se defender das denúncias do Ministério Público sempre que necessário. Apesar do tom ameno, afirmou a aliados que a oposição e o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Gilmar Mendes estão em seu papel, e que é direito deles dar seguimento a ações contra a presidente Dilma Rousseff.

Cunha disse aos colegas do PMDB que já vem adotando postura de tranquilidade nas votações de projetos da chamada pauta-bomba, que podem aumentar os gastos do governo em época de crise.

Amanhã, a oposição se reunirá com juristas para conversar sobre o ambiente para a apresentação de um pedido de impeachment contra Dilma ao Congresso. Parte dos parlamentares defende a ideia de fazê-lo já. Mas outra parte, após declarações do empresariado a favor da permanência da presidente no cargo, acha que o melhor é aguardar decisão do Tribunal de Contas da União ou do Tribunal Superior Eleitoral.

— A crise é gravíssima, e não podemos agir com irresponsabilidade e muito menos com covardia. Há pessoas com medo da instabilidade, mas de nada adianta admitir um governo sem condições de governabilidade por três anos e meio — disse o vice- líder do PSDB, Marcus Pestana (MG).