Lula Inflado vira um ‘hit’

 

Oprotesto contra a corrupção realizado no domingo em Brasília teve como personagem principal uma figura desengonçada com olhos assustados, que, após surgir na Esplanada dos Ministérios, deixou as ruas da capital e percorreu o mundo em fotos e inspirou muitos memes — brincadeiras reproduzidas à exaustão pela internet. Batizado de Lula Inflado, um boneco do ex- presidente com 12 metros de altura e roupa de presidiário foi criado pelo Movimento Brasil e, agora, deverá fazer uma verdadeira turnê pelo país.

Sete a um. O boneco em campo na goleada da Alemanha sobre o Brasil

Mesmo com os pés presos a uma bola de ferro, Lula Inflado flutuou acima de milhares de manifestantes e arrancou risadas por conta de sua roupa listrada de presidiário com os números ‘‘13’’ e ‘‘ 171’’ no peito. Resultado: ganhou dezenas de páginas e milhares de seguidores no Facebook e no Twitter. De acordo com Ricardo Honorato, um dos organizadores do protesto, o boneco ficou trancado a sete chaves até a hora do ato público.

— Queríamos algo marcante, não bastava exibirmos apenas faixas. Pensamos: o que ainda não apareceu nos protestos? Um Lula presidiário. O boneco foi mantido em segredo por dois meses pelo grupo do Distrito Federal do Movimento Brasil. Fizemos uma arrecadação para cobrir o custo de R$12 mil da confecção do boneco sem a participação de qualquer partido. A dor no corpo e as queimaduras são só nossas — afirma Honorato.

‘CHECKUP’ ANTES DE TURNÊ

Devido ao sucesso do boneco, o Movimento Brasil planeja levá- lo para várias capitais do país. Honorato disse o local da próxima aparição de Lula Inflado ainda é segredo, mas ele adianta que já está sendo preparada uma grande cela para acompanhá- lo. Antes disso, porém, ele terá de passar por um checkup.

— Lula Inflado sofreu um acidente. Quando estávamos enchendo o boneco, ele sofreu um ataque do coração, surgiu um furo no lado esquerdo do peito. Vamos ter de mandá-lo a São Paulo, para fazer uma cirurgia — brinca Honorato, sem esclarecer se está dando uma pista sobre a próxima manifestação da figura gigante.

Enquanto não volta às ruas, Lula Inflado dá as caras em muitos memes: aparece em uma cena do clássico do terror “O iluminado”, entre princesas da Disney, despencando das torres gêmeas do World Trade Center, em capas de álbuns como ‘‘Nevermind’’, do Nirvana, e ‘‘Dinasty’’, do Kiss, e perdido na capa do livro “Onde está Wally”, entre outros.

— Lula Inflado virou um ícone, o maior símbolo das manifestações de rua— destaca Renan Santos, coordenador nacional do Movimento Brasil Livre.

 

Para analistas, críticos já pensam em 2018

A intensificação dos ataques diretos a Lula nos protestos do último domingo é, segundo analistas políticos, uma forma de tentar minar qualquer possibilidade de uma candidatura do ex-presidente em 2018. A tese ganhou força entre líderes petistas — eles acreditam que Lula passou a ser o foco de boa parte das manifestações porque ainda é o nome mais forte do PT.

Carlos Melo, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), entende que Lula tem um nome maior que o do partido:

— Dilma está fraca e pode até vir a perder o mandato. O PT continuará pagando para ver enquanto Lula tiver força. Acho natural, dentro do cálculo político, que pessoas passem a direcionar o foco para Lula.

Para o acadêmico, ainda não é possível avaliar se haverá danos à popularidade do ex-presidente.

— Entre as pessoas que foram para as ruas não há eleitores de Lula. A questão é saber se imagens como a do boneco gigante (do ex-presidente com roupa de presidiário) atingem as pessoas que não foram às ruas.

De acordo com Melo, o fato de o nome de Lula aparecer no noticiário da Operação LavaJato reforça o posicionamento contra o ex-presidente:

— Há uma impressão de que as investigações da Lava-Jato podem chegar a Lula. Talvez até um desejo, algo normal porque boa parte dos escândalos começaram no governo dele.

Fernando Abrucio, professor da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, acredita que, numa comparação com protestos anteriores, houve uma mudança na postura de manifestantes em relação ao ex-presidente.

— Acho que existia um certo respeito nas manifestações anteriores por conta do peso político de Lula. Agora, estão pegando mais forte — observa Abrucio, acrescentando não acreditar que o ex-presidente dispute a eleição de 2018, independentemente de um eventual desgaste de sua imagem.

No Instituto Lula, a teoria é que os ataques acontecem num momento em que a presidente Dilma Rousseff dá sinais de reação à crise.

— Estão trabalhando para desconstruir seu legado e não vê-lo na eleição de 2018 — diz Florisvaldo Souza, secretário de organização do PT. — Acho difícil ele ser candidato. O cenário político e econômico é muito adverso.