O juiz Sérgio Moro condenou a penas de 12 a 16 anos o lobista Fernando Baiano, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e o empresário Júlio Camargo por fraude na compra de navios-sonda. Camargo disse ter dado US$ 5 milhões ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Alvo da Lava-Jato, o presidente do Senado, Renan Calheiros, encontrou-se com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que o investiga. Depois de acusar o Planalto de estar por trás de seu inquérito, Renan reduziu o tom dos ataques e se aproximou do governo Dilma. -BRASÍLIA E SÃO PAULO- O delator Júlio Camargo, que disse ter pagado US$ 5 milhões em propina ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o lobista Fernando Soares, o Baiano, acusado de ser “sócio oculto” do deputado, foram condenados ontem pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba. Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional da Petrobras, que seria da cota do PMDB, também está entre os condenados na Lava-Jato. Eles respondem por corrupção e lavagem de dinheiro na compra, pela Petrobras, de 2 navios-sonda da Samsung Heavy Industries. O negócio envolveu propina e depósitos no exterior de US$ 45 milhões.
GIVALDO BARBOSAJustiça. Cunha: para Moro, cabe ao STF decidir se deputado recebeu propinaNa sentença, Moro lembrou que Camargo afirmou em depoimento, já na fase final do processo, que entregou, em 2011, US$ 5 milhões a Cunha por conta de propina em um negócio. O juiz afirmou que, apesar da delação, o deputado não foi incluído na ação penal e que caberá ao Supremo, no processo já em curso, decidir se Cunha também recebeu parte das propinas. “Não altera o quadro a revelação tardia, primeiro pelo acusado colaborador Alberto Youssef e depois pelo acusado colaborador Júlio Camargo, de que o deputado Eduardo Cunha também estaria envolvido nos fatos objeto deste processo, como beneficiário de parte da propina”.
Moro destacou ainda que Cunha “não é denunciado”, mas disse ser “até natural a referência ao nome dele (Cunha) como partícipe pelos coacusados que se comprometeram a colaborar com a Justiça dizendo a verdade. Não se pode obrigar a silenciarem apenas para agradar a outros supostos envolvidos nos crimes”, disse Sérgio Moro.
Ex-diretor da Petrobras, Cerveró foi condenado a 12 anos, três meses e dez dias. Júlio Camargo foi condenado a 14 anos, mas ficará em liberdade por conta do acordo de delação. Ele cumprirá cinco anos em “regime aberto diferenciado”. Fernando Baiano foi condenado a penas que chegam a 16 anos, um mês e 10 dias. O doleiro Alberto Youssef foi absolvido por falta de provas.
DELAÇÃO NO PLENÁRIO DO STF
O plenário do Supremo vai decidir se o acordo de delação firmado entre Youssef e o Ministério Público é válido ou não. Se o presidente da Corte, Ricardo Lewandowski, pautar o assunto logo, será a 1ª vez que o plenário vai debater o escândalo da Lava-Jato.
Em abril, a defesa de Erton Medeiros Fonseca, executivo da Galvão Engenharia que está preso em casa, pediu para o STF anular a decisão de Teori Zavascki, que validou a delação. O pedido foi sorteado para a relatoria do ministro Dias Toffoli. Em uma 1ª análise, Toffoli negou o pedido. Diante de um recurso da defesa, o ministro decidiu ontem mandar o processo para o plenário.
Também ontem, Moro autorizou o deslocamento de Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa a Brasília para a acareação marcada pela CPI da Petrobras.