Título: Governo rebelde anuncia eleições
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 03/09/2011, Mundo, p. 21

Coalizão que depôs Kadafi marca para dentro de 20 meses a escolha de uma Constituinte

Fortalecidos pelo apoio político internacional e financeiro, os líderes do novo governo que começa a instalar-se na Líbia anunciaram eleições gerais para dentro de 20 meses e a transferência do Conselho Nacional de Transição (CNT) de Benghazi para Trípoli, na próxima semana. Ignorando as ameaças do ditador Muamar Kadafi, que segue foragido e promete resistir, o CNT se diz determinado a normalizar a situação no país. O apoio do exterior foi reforçado com a decisão de ontem da União Europeia de levantar as sanções sobre portos, empresas petrolíferas e bancos líbios.

Um dia depois da conferência que reuniu 63 governos e organizações internacionais em Paris, na qual foi reivindicado o desbloqueio de US$ 15 bilhões em fundos líbios congelados, o representante do CNT em Londres, Guma Al-Gamatya, anunciou que "foi estabelecido um roteiro preciso, com um período de transição de 20 meses". Em entrevista à BBC, Gamatya explicou que o órgão governará a Líbia por oito meses. No fim desse período, uma Assembleia Consituinte será eleita. "No prazo de um ano serão realizadas eleições (para cargos executivos)", acrescentou.

Em uma demonstração de segurança, a coalizão rebelde pediu que os combatentes deslocados para a capital voltem para casa, pois "Trípoli está livre". Os moradores e trabalhadores da capital tratavam de retomar a rotina. Segundo a agência de notícias Reuters, alguns bloqueios em rodovias importantes foram removidos e lojas de alimentos foram abertas. O fornecimento de água e energia, porém, continuava instável. O chefe do setor de educação do CNT, Soliman El-Sahli, afirmou à Reuters que as escolas serão reabertas no dia 17, ainda que com limitações.

Com relação à principal riqueza do país, o petróleo, o ministro interino para a Reconstrução, Ahmed Jehani, garantiu que o novo governo conta com a rápida retomada da produção para reavivar a economia. Segundo Jehani, cinco companhias internacionais já estão trabalhando para normalizar as operações. A revista Middle East Economic Survey, publicada no Chipre, informou que a Líbia trabalha incansavelmente para recuperar sua capacidade petroleira. Antes do conflito, o país produzia cerca de 1,7 milhão de barris diários.

Brasil A opinião internacional sobre o novo regime ainda não é unânime, e o Brasil é um dos países que permanecem reticentes a reconhecer a autoridade do CNT. Ontem, o chanceler Antonio Patriota, em visita à Bulgária, reafirmou que caberá à Assembleia Geral das Nações Unidas determinar quem é o representante legítimo da Líbia. Mesmo assim, o governo brasileiro mantém conversações com o órgão rebelde por meio de seu embaixador no Egito, Cesário Melantonio Neto, emissário especial do Brasil na reunião de anteontem em Paris. "Nossa participação na conferência implica que consideramos o CNT como um interlocutor nesse processo", declarou Patriota.

Chávez condena "a loucura" O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, voltou a classificar como "uma loucura" o que está ocorrendo na Líbia, e insistiu em que é preciso ouvir seu amigo Muamar Kadafi. "Aconteceram coisas importantes. Kadafi disse algo que é preciso ouvir: a guerra será longa", afirmou Chávez no hospital onde se submete a mais um ciclo de quimioterapia. Ele defendeu a implantação de uma comissão de paz que promova a resolução do conflito por meio do diálogo. "Tomara que seja concretizada essa proposta, que é da Venezuela e de muitos amigos pelo mundo."