Lula é investigado pelo mp

17/07/2015
 
EDUARDO MILITÃO E PAULO DE TARSO LYRA
 
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está sob investigação do Ministério Público Federal no Distrito Federal por suposto tráfico de influência, entre os anos de 2011 e 2014, para auxiliar a construtora Odebrecht a conseguir contratos de obras no exterior. O inquérito foi aberto no início do mês e vai analisar também os financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) à construtora brasileira.

O inquérito é desdobramento de uma investigação preliminar que já havia sido divulgada pela revista Época no fim de abril, quase dois meses antes da prisão de Marcelo Odebrecht, presidente da construtora de mesmo nome, na 14º fase da Operação Lava-Jato. Ao lado de outras construtoras, a empreiteira é investigada pela participação em um cartel que desviaria recursos da Petrobras para financiar campanhas eleitorais do PT e de outros partidos aliados.

A prisão de Marcelo aumentou a tensão do governo em relação à Lava-Jato. Ao lado do presidente da UTC, Ricardo Pessoa — considerado o chefe do cartel e que já acertou com o Ministério Público Federal um acordo de delação premiada —, o presidente da Odebrecht é apontado como um dos empresários mais próximos do PT e do ex-presidente Lula.

As obras que estão sob análise do MPF-DF foram realizadas na Venezuela e no Panamá. Em maio, o Ministério Público havia pedido informações ao Instituto Lula, à Odebrecht e ao BNDES sobre as obras da empreiteira no exterior, sobretudo na África e na América Latina. As suspeitas sobre um possível tráfico de influência foram reforçadas pelo fato de que a empreiteira pagou pelo menos três viagens de Lula no exterior: aos Estados Unidos, à Cuba e à República Dominicana. A empresa admitiu ter custeado a viagem à República Dominicana e acrescentou que Cuba e Estados Unidos faziam parte do mesmo roteiro.

Irritação
Para complicar ainda mais a vida do ex-presidente, nessas viagens também estava presente o diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Alexandrino Alencar, outro detido pela PF durante as investigações da OperaçãoLava-Jato. Ele é apontado pelo Ministério Público Federal, com base nos depoimentos de diversos delatores, como o responsável pelo pagamento das propinas da empresa no exterior.

O Instituto Lula se disse surpreso com a abertura do inquérito. Segundo a assessoria do ex-presidente, o MPF não teve tempo hábil para investigar a documentação entregue pelo instituto, na semana passada, para justificar as viagens feitas por Lula em parceria com a Odebrecht. “Acabamos de entregar toda a documentação solicitada pela procuradora Mirela de Carvalho Aguiar. Consideramos que ela teve pouco tempo para analisar esse material, que ficou bastante extenso e detalhado”, explicou a assessoria.

No início da semana, Lula demonstrou irritação durante reunião com a presidente Dilma Rousseff. Ao ser questionado sobre os efeitos da Operação Lava-Jato como potencializadora da crise política e econômica que paralisa o país, o ex-presidente disse que o governo não pode perder tempo com isso e tem de começar a governar. Ele aconselhou Dilma a viajar pelo país, em uma agenda montada pelo chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, na tentativa de criar uma agenda positiva.

“Acabamos de entregar toda a documentação solicitada pela procuradora Mirela de Carvalho Aguiar. Consideramos que ela teve pouco tempo para analisar esse material” Trecho do comunicado do Instituto Lula.