Título: Protesto no Eixo e invasão a ministério
Autor: Braga, Juliana; Leite, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 25/08/2011, Política, p. 4

Integrantes de movimentos sociais que participavam de marcha ocupam sede do Esporte para reclamar do desalojamento de famílias devido às obras para a Copa » » O Ministério do Esporte criou ontem uma comissão para avaliar, com representantes de movimentos sociais, o impacto das obras da Copa do Mundo de 2014. O colegiado é uma resposta à demanda do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e da Frente de Resistência Urbana, que ocuparam o saguão de entrada do edifício-sede da pasta na tarde de ontem, após acompanhar a marcha promovida por cerca de 20 mil trabalhadores, estudantes e integrantes de movimentos populares no Eixo Monumental e na Esplanada dos Ministérios contra a política econômica brasileira (leia mais na página 14). Serão convidados para integrar a comissão a Secretaria-Geral da Presidência da República e a de Direitos Humanos, além dos ministérios da Justiça e das Cidades. A primeira reunião está marcada para 9 de setembro.

Os manifestantes pedem que as famílias desalojadas em decorrência das obras preparatórias para o Mundial de futebol sejam transferidas para locais com condições de estrutura semelhantes e próximos de onde residiam antes. "Hoje, jogam as famílias longe, sem transporte ou escola para os seus filhos e sem postos de saúde", criticou Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST. A entidade estima que 150 mil famílias serão desalojadas, muitas vezes sem critério, devido à Copa ¿ situação revelada na edição de 27 de julho do caderno Super Esportes. Houve confronto entre os cerca de 300 manifestantes e a Polícia Militar na entrada forçada ao ministério, que acabou com uma vidraça e uma mesa quebradas. À noite, os invasores deixaram o prédio.

Estudantes Para os estudantes que participaram da marcha, que tomou duas faixas do Eixo Monumental, o protesto terminou no Ministério da Educação, às 18h30. Em busca de uma reunião com o ministro Fernando Haddad, os manifestantes conseguiram se encontrar com o chefe de gabinete da pasta, Leonardo Osvaldo Barchini Rosa, que prometeu, segundo eles, apenas outra reunião, em um prazo de 15 dias.

Entre as demandas apresentadas, os estudantes cobraram a destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a área e criticaram a falta de qualidade do Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), iniciado em 2007. A estudante Letícia Faria, 23 anos, estudante de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná (UFPR), por exemplo, afirmou que já teve aulas no estacionamento da faculdade enquanto o prédio era construído: "As salas foram inauguradas em março, com falhas como a falta de estrutura para a instalação de bebedouros e sem divisórias entre os vasos dos banheiros".

Agressão Jane Pereira da Silva, militante do MTST, diz ter sido agredida por um policial militar durante a invasão ao Ministério do Esporte. Ela afirma que recebeu um murro e foi empurrada. "Fiquei me sentindo humilhada. Ele agrediu uma pessoa que tem idade para ser mãe dele", lamentou a mulher, que, entretanto, não revelou a idade. Outros manifestantes reclamaram de terem sido atingidos por cacetetes. Guilherme Boulos, coordenador do MTST, protocolou denúncia com o major da Polícia Militar que estava no local, responsável pela operação. A denúncia será investigada pela Corregedoria da PM.