PMDB confirma voo solo

16/07/2015

 Paulo de Tarso Lyra

O PMDB segue deixando claro que não abandonará a coalizão governista agora, mas já virou a página do projeto de poder futuro faz tempo. Ontem, durante evento na Fundação Ulysses Guimarães, na Câmara, o vice-presidente Michel Temer ratificou o que tem sido dito por caciques da legenda ao longo das últimas semanas e confirmado pelo ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Eliseu Padilha, ao Correio: a legenda terá candidato próprio ao Planalto em 2018. “O que está sendo estabelecido é que o PMDB quer ser, digamos assim, cabeça de chapa em 2018”, declarou Temer, durante lançamento da nova plataforma digital do partido.

Apesar dos esforços do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que as convergências entre PT e PMDB sejam ressuscitadas, o caminho peemedebista para 2018 se mostra cada vez mais distante dos petistas. “Estamos abertos para todas as alianças, com todos os partidos”, completou Temer. Também presente ao evento, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi de uma lógica cristalina. “O PMDB faz parte de uma aliança, mas sabe que quer buscar, em 2018, o seu caminho, que não é com essa aliança (com o PT)”, ressaltou o presidente da Câmara.

Cunha é um dos que defendem o desembarque imediato. O ministro Padilha, no entanto, dá um prazo mais longo: após as eleições municipais do ano que vem. Mas a separação parece inexorável. Na sexta-feira passada, o PMDB da Câmara fez um ato público no Rio de Janeiro, que também contou com a presença de Michel Temer. Foi uma oportunidade para incensar o prefeito do Rio, Eduardo Paes. Os correligionários visitaram as obras das Olimpíadas Rio 2016, grande trunfo do prefeito carioca para almejar voos mais altos daqui a três anos.

Para o deputado Danilo Forte (PMDB-CE), Paes tem condições de ser um nome a ser trabalhado pela legenda. Mas defendeu que eventos, como o que foi realizado no Rio na semana passada, aconteçam em outras cidades do país. “O próprio Paes precisa conhecer o Brasil, e o Brasil conhecer o que o PMDB está fazendo no Rio”, defendeu o deputado cearense. Ele menciona as Olimpíadas como um trunfo que pode ser usado pelo peemedebista. “Praticamente 75% dos investimentos para obras na cidade vieram da iniciativa privada. Por isso, elas não pararam, apesar de o país atravessar as dificuldades atuais. Só quem tem credibilidade com o setor privado consegue isso”, elogiou Forte.

Sucessão

Mas há quem acredite ser necessário muito mais do que está sendo feito atualmente pelo PMDB. A própria situação de Paes como um candidato natural é questionável. “A Olimpíada é uma boa vitrine. Mas ele (prefeito do Rio) deixa o mandato ao fim de 2016. Vai ficar sem cargo falando só de um evento que ele organizou?”, questionou o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), lembrando que ainda é preciso saber se Paes terá força para eleger o sucessor — o nome provável é do secretário municipal da Casa Civil, Pedro Paulo Carvalho Teixeira.

Vieira Lima afirma que o PMDB precisa, além de nomes nacionais, de ter um projeto de governo para o país e uma plataforma de campanha. E isso passará, inevitavelmente, pelas ações que a legenda será capaz de tomar ao longo dos três anos e meio. “O Brasil passa por uma crise, mas não é Venezuela. Não podemos deixar uma economia com o tamanho da nossa sangrando esse tempo todo”, defendeu Vieira Lima.