Dilma recorre a governadores por 'pacto'

 

TÂNIA MONTEIRO , RAFAEL MORAES MOURA / , BRASÍLIA , LUCIANA NUNES LEAL / RIO - O ESTADO DE S.PAULO

25 Julho 2015 

A presidente Dilma Rousseff convidou os 27 governadores, aí incluídos os da oposição, para tentar trabalhar um "pacto pela governabilidade". A reunião será na próxima quinta-feira. Dilma decidiu chamá-los por causa da grave crise política e econômica que o País enfrenta. O objetivo

 

 

é pedir ajuda aos governadores de todos os partidos para que atuem em suas bancadas no Congresso, no início do segundo semestre, com objetivo de aprovar as medidas pendentes do ajuste fiscal, a repatriação de recursos e outras propostas que poderiam ter impacto na melhoria das contas públicas.

 

Embora não admita publicamente, o movimento, na prática, passa pela tentativa de isolar o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que se declarou inimigo número um do Planalto e das medidas que o governo quer ver aprovadas. Alguns dos governadores ligados a Dilma avaliam que, da reunião, possa sair também um apoio político à presidente, em contrapartida ao movimento de oposicionistas que querem o seu afastamento do governo.

 

"Dilma foi eleita em um processo democrático, está há poucos meses a frente de um novo governo, vive a impopularidade, mas outros políticos já viveram, como Fernando Henrique Cardoso. Eu mesmo, durante meus primeiros dois anos de governo. Mas não vejo motivos para que ela saia. Impedir um governo de governar é um golpe", disse o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD).

 

O chefe do Executivo do Estado do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), também defendeu o diálogo de colegas de diferentes partidos com o governo. "Nada impede a gente de sentar e conversar. O que falta no País é conversa. Nesse ponto, (o vice-presidente) Michel Temer tem um papel preponderante, é o melhor interlocutor, com o Congresso, com os governadores", afirmou.

 

O governador fluminense tem insistido na defesa de Dilma e na tese de que o PMDB tem responsabilidade de garantir a sustentação do governo. Ao contrário de Cunha, que rompeu com a presidente e prega que o PMDB deixe o governo o mais cedo possível, Pezão defende que o partido mantenha o apoio a Dilma até abril de 2018, prazo para que os candidatos nas eleições daquele ano deixem os cargos.

 

"Estou sempre falando em governabilidade porque é dessa maneira que vamos enfrentar a crise, retomar o desenvolvimento econômico. A gente tem o vice-presidente, tem que ajudar o governo. Não tem que sair. Meu ponto de vista é que devemos ficar até abril de 2018. Não há problema em estar no governo e, no prazo da desincompatibilização, lançar candidato próprio a presidente", sustentou.

 

'Fantasia'. A tese do diálogo, no entanto, não encontra respaldo entre muitos chefes de Executivo estadual. Um dos governadores consultados pelo Estado, que preferiu falar sem ser identificado, disse que a proposta "não encontrará apoio entre muitos governadores porque as posições são muito heterogêneas". "É uma fantasia", classificou, ressaltando, no entanto, que considera viável que se discutam pontos de convergência de interesses dos Estados e do Planalto com os governadores. Há assuntos, como a reforma do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que interessam a alguns, mas que são contestados por outros, que são beneficiados hoje pela guerra fiscal.

 

"Precisamos de responsabilidade, serenidade e compreensão de todos", disse um interlocutor direto da presidente, ao comentar que a iniciativa da reunião

 

ajudará a melhorar o clima no País e a desanuviar a crise política. Esse auxiliar lembra que a ajuda dos governadores neste momento é "fundamental" e é benéfica não só para o Planalto, mas para eles também. O governo federal lembra que grande parte das obras que pôde ser realizada nos Estados foram possíveis por causa da ajuda financeira do Executivo federal.

 

Da mesma forma, os financiamentos externos que os governadores pediram precisaram de aval federal. Agora, então, seria a hora de todos se juntarem para tirar o País da crise. A mobilização dos governadores em suas bases vai ser o principal apelo que a presidente fará.

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Gestores estaduais querem papel na solução da crise

ELIZABETH LOPES - O ESTADO DE S.PAULO

25 Julho 2015 | 02h 02

 

Preocupados com os reflexos do acirramento da crise econômica e com o cenário de instabilidade política no País, governadores de nove Estados que compõem a Amazônia Legal, reunidos ontem no 11.º Fórum da Amazônia, em Manaus, decidiram que é o momento de assumir um papel de protagonismo junto ao governo Dilma Rousseff para o encontro de soluções para os atuais problemas.

 

"Não dá mais para os 27 governadores serem simples espectadores de um cenário dramático que está nos levando a um final nada feliz", disse o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), ao Broadcast Político, serviço de notícias da Agência Estado.

 

Acordo. O protagonismo desejado por esses gestores estaduais ocorre concomitantemente com o convite que Dilma está fazendo aos governadores para um encontro na próxima quinta-feira, a fim de selar um acordo de governabilidade. "(O governo) só pode cobrar os outros se fizer primeiro a lição de casa (cortar gastos e ministérios)", avalia o governador de Mato Grosso, Pedro Taques (PDT), que também participou do fórum. Taques reclamou que a gestão Dilma fez um ajuste fiscal sem consultar os governadores. "Precisamos ser ouvidos, hoje falei com o (governador de São Paulo, Geraldo

 

) Alckmin (PSDB) e ele também avalia que os governadores precisam ser ouvidos, ainda mais neste momento de clima de final de festa, em que não se sabe todos os reflexos da Operação ação Lava Jato e com a crise atingindo os Estados."

 

Mesmo com a visão mais crítica, Taques diz que o momento é de entendimento para sair da crise. Opinião compartilhada pelo governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B). Para Dino, a gravidade da crise política e econômica exige um entendimento nacional. "Temos de realizar um pacto nacional pela governabilidade, uma união de força política em prol da nação." Segundo ele, a crise econômica está ficando aguda e é preciso encontrar soluções que não passem apenas pelo ajuste fiscal, mas que indiquem os caminhos de recuperação da economia.

 

"O debate no Congresso está contaminado e a temperatura só vai diminuir quando tivermos um acordo das principais lideranças do País e isso passa pelos governadores."

 

O governador do Acre, Tião Viana (PT), se mostrou otimista com o encontro com Dilma. "Com um trabalho nessa linha, e em conjunto, a crise fica pequena e podemos passar por ela. A presidente precisa dos governadores para enfrentar esse momento e estamos dispostos a isso."