Petrobrás apoia flexibilização da Lei Anticorrupção

 

Principal vítima dos desvios investigados na Operação Lava Jato, a Petrobrás enviou representante ao Congresso para negociar projeto que flexibiliza a Lei Anticorrupção, sancionada pela presidente Dilma Rousseff há dois anos. As discussões sobre a proposta envolvem também integrantes do Palácio do Planalto.

O objetivo das discussões é aprovar proposta que permita que empresas envolvidas em irregularidades não sejam impedidas de realizar futuros contratos e de participar de licitações do poder público. A Lei Anticorrupção estabeleceu o cadastro de empresas "fichas-sujas", no qual estão listadas as pessoas jurídicas e físicas impedidas de fechar negócios com a administração pública em razão do envolvimento em atos de corrupção.

 

de Aldemir Bendine, presidente da PetrobrĂ¡s

de Aldemir Bendine, presidente da Petrobrás

Pelas mudanças em discussão, as empresas corruptoras continuariam sujeitas à maioria das sanções previstas na lei, como o pagamento de pesadas multas. Mas ficariam livres do selo de inidôneas, que as impede de tocar obras e prestar serviços a órgãos públicos. O argumento é que os malfeitos de seus executivos e funcionários não podem sacrificar a atividade econômica e empregos.

"A Petrobrás tem interesse, sim, de separar o CNPJ do CPF. Liberar as empresas para voltarem a ser contratadas. Há uma preocupação em resolver isso o mais rápido possível", afirmou ao Estado Armando Toledo, assessor especial de Relações Governamentais da Petrobrás.

Reunião. Ontem, o assessor se reuniu com congressistas na Câmara para discutir as mudanças. Também participaram do encontro a portas fechadas integrantes da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), entre eles o ex-ministro das Cidades Márcio Fortes. A economia do Estado sofre com a crise provocada pelo esquema de corrupção na Petrobrás.

Toledo, que assessora o presidente da estatal, Aldemir Bendine, disse que espera que as conversas avancem a partir do próximo dia 12, quando integrantes da Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara deverão se reunir para tratar sobre o tema. "Deve ser mantida a possibilidade de licitação em igualdade com todas as outras empresas, mas observadas todas as questões que envolvem o sistema de compliance, governança e transparência", disse.

O texto que serve de base para as discussões, de autoria do presidente da comissão, Vicente Cândido (PT-SP), substitui "penas aplicadas diretamente às pessoas jurídicas, relacionadas à continuidade de suas atividades, por medida muito mais adequada, uma vez que a punição de empresários não pode e não deve repercutir necessariamente sobre empresas".

Além do petista, também tem participado das negociações o vice-presidente do colegiado, Valtenir Pereira (PROS-MT). "O que temos hoje está na contramão do bom senso. A ideia discutida é a de que a pessoa que pisou na bola seja afastada do controle da empresa e que a empresa continue trabalhando", afirmou Pereira.

Os congressistas querem acelerar a votação do projeto, aprovando-o nas comissões em caráter terminativo (definitivo). Dessa forma, após a aprovação do texto nas comissões, ele seria encaminhado diretamente ao Senado, sem a necessidade de uma discussão no plenário da Câmara. "O presidente (da Câmara) Eduardo Cunha já deu o seu ok", afirmou o deputado Celso Pansera (PMDB-RJ), aliado de Cunha e um dos interessados na proposta.