Defesas afirmam estar à disposição da Justiça

 

28 Julho 2015 

MARIANA SALLOWICZ, VINICIUS NEDER, FAUSTO MACEDO, JULIA AFFONSO e MATEUS COUTINHO

 

Eletrobrás, advogados de almirante e de executivos de empresas dizem que estão analisando decisão e colaboram com investigações.

 

 

A Eletrobrás declarou ontem que está “buscando obter as informações necessárias” sobre a 16.ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Radioatividade, que cumpriu 30 mandados (23 de busca e apreensão, duas prisões temporárias de suspeitos e cinco de condução coercitiva) em Brasília, Rio, Niterói (RJ), São Paulo e Barueri para apurar irregularidades em contratos da Eletronuclear, subsidiária da estatal que opera as usinas termonucleares Angra 1 e Angra 2 e constrói Angra 3. Foram presos o presidente licenciado da subsidiária, almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, e o presidente da Andrade Gutierrez Energia, Flávio Barra. 

Em fato relevante divulgado à Comissão de Valores Mobiliários no início da noite de ontem, a Eletrobrás acrescentou que “manterá o mercado informado oportunamente” sobre a defesa em relação ao caso.

A defesa do almirante afirmou estar em fase de análise dos motivos que levaram à prisão de Pinheiro da Silva. “Nos deram só o mandado de busca e apreensão, mas não nos deram a decisão. Estamos analisando para ver por que o juiz decretou a prisão temporária dele (almirante) para tomarmos as medidas legais cabíveis”, disse o advogado Helton Pinto. A reportagem não localizou representantes da empresa do almirante, Aratec Engenharia, que, segundo a Procuradoria, recebeu propina do esquema de desvios envolvendo a estatal.

A Andrade Gutierrez disse, por meio de nota, que seus advogados estão analisando os termos da ação da Polícia Federal. A empreiteira ainda informou que “sempre esteve à disposição da Justiça”.

A Odebrecht reiterou que está colaborando com as investigações e que não cometeu ilícitos. A Queiroz Galvão alegou que está cooperando com as investigações e negou “veementemente qualquer pagamento ilícito a agentes públicos para obtenção de contratos ou vantagens”. O Grupo MPE, cujo presidente do conselho de administração Renato Ribeiro prestou depoimento à PF, informou que está colaborando. “Renato Ribeiro prestou depoimento na condição de testemunha na sede da Polícia Federal do Rio de Janeiro, sendo liberado logo depois”, diz a nota. 

A Techint, cujo diretor-geral Ricardo Ourique Marques também foi ouvido pela Polícia Federal, declarou que “forneceu todas as informações solicitadas e permanece à disposição das autoridades”. 

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Um dia atípico na rua da candelária

Carina Bacelar 

O dia de ontem foi atípico para os empregados da Eletronuclear, com sede na Rua da Candelária, no centro do Rio. Quando chegaram ao trabalho de manhã encontraram as dependências da estatal interditadas para o cumprimento de mandados de busca e apreensão por policiais encarregados de vasculhar e recolher computadores e documentos.

Os dois carros da Polícia Federal em frente do prédio e a imprensa eram indícios de que estava em curso mais uma fase da Operação Lava Jato. De acordo com testemunhas, as equipes da PF chegaram por volta das 5h e percorreram os andares onde funcionam a presidência e os setores financeiro, comercial e de informática. Impedidos de acessar os locais de trabalho, os servidores permaneceram nos arredores da Eletronuclear, em meio ao burburinho de pedestres que circulam pela região da Candelária.

Sem informações sobre o horário do fim da ação policial, os empregados lotaram o café ao lado, ainda com crachás da companhia. Nas rodas de conversas, não faltaram piadas e manifestações de indignação com a corrupção na estatal. Muitos ligaram para família ou amigos para informar o que acontecia.

Uma funcionária, entusiasmada, contava aos amigos que os investigadores deveriam comparar quem tinha enriquecido de maneira atípica nos últimos anos. “Aí é só prender.” Houve quem demonstrasse indignação coma administração do presidente licenciado, Othon Luiz Pinheiro da Silva, preso ontem. Por volta das 12h, com a liberação do último setor interditado, o financeiro, os policiais deixaram a sede com um malote e uma mochila.