Planalto teme que investigação atinja aliados de Renan

 

ERICH DECAT E VERA ROSA 

29 Julho 2015 

Governo avalia que fase atual da operação pode afetar grupo ligado ao presidente do Senado e, assim, atrapalhar tentativa de reaproximação.

 

Brasília - A preocupação do Palácio do Planalto com a nova fase da Operação Lava Jato, batizada de Radioatividade, reside principalmente no PMDB no Senado. Em crise, o governo precisa do apoio do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), para enfrentar Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que comanda a Câmara, e tem poder para admitir a tramitação de pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.

Investigações da Polícia Federal apontam que propinas pagas ao almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, presidente licenciado da Eletronuclear, ocorreram de 2011 a 2015. Até o fim de 2014, o senador Edison Lobão (PMDB-MA), integrante do grupo de Renan e do ex-presidente da República José Sarney, esteve no comando do Ministério de Minas e Energia.

Embora o Planalto já espere que essa etapa da Lava Jato também atinja políticos do PMDB, uma vez que o partido é responsável pelo loteamento do setor elétrico, a extensão da operação sobre aliados de Renan ainda é uma incógnita.

A inclusão do nome de Pinheiro da Silva no esquema surpreendeu o governo, uma vez que o almirante é considerado um dos maiores especialistas do mundo em urânio enriquecido. Apesar de o PMDB saber que Lobão aparecerá novamente nesta fase da Lava Jato, interlocutores de Dilma argumentam que, na atual conjuntura, qualquer notícia envolvendo aliados tem potencial de provocar nova crise política. O senador já é investigado pela Lava Jato desde o ano passado.

Em delação ao Ministério Público, em 2014, o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa afirmou que Lobão, então ministro de Minas e Energia, pediu a ele R$ 1 milhão, em 2008. Lobão também foi citado na delação do dono da UTC, Ricardo Pessoa, como beneficiário de suborno na pasta. A empreiteira é uma das contratadas pela Eletronuclear para as obras em Angra 3. Lobão nega as acusações.

Aproximação. Para o governo e a cúpula do PMDB, a Lava Jato tem potencial para atrapalhar as tentativas de aproximação com Renan – o governo depende do presidente do Senado para aprovar o projeto que revê a desoneração da folha de pagamento das empresas, última etapa do ajuste fiscal, e impedir a “pauta-bomba”, com propostas que aumentam os gastos. Além disso, ele pode fazer um contraponto a Cunha e barrar a tramitação de possíveis pedidos de impeachment.

Renan, no entanto, também é alvo da Lava Jato. Desde então, dizendo-se “injustiçado”, já impôs várias derrotas ao Planalto. O receio do governo é de que senadores aliados acabem adotando a mesma posição de Cunha, rompendo com Dilma. Cunha declarou guerra ao Planalto depois de vir a público a delação do lobista Julio Camargo, que o acusou de tê-lo pressionado a pagar propina de US$ 5 milhões. Para o presidente da Câmara houve uma “conspiração palaciana”.

A CPI da Petrobrás, controlada pelo PMDB, não deve mirar no esquema na Eletronuclear. Um pedido para a criação da CPI do Setor Elétrico chegou a ser apresentado no início do ano pelo tucano Carlos Sampaio (SP), mas não foi adiante.

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Lava Jato gera impacto econômico, mas investigações são benéficas, diz Barbosa

 

29/07/2015

 

O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, afirmou na terça-feira (28) que a Operação Lava Jato gera impacto econômico de curto prazo no país. Barbosa ponderou que as investigações são benéficas e trarão eficiência no longo prazo.

"Qualquer investigação, qualquer processo de combate à corrupção é benéfico, mesmo que possa ter algum impacto de curto prazo sobre o nível de atividade, sobre algumas empresas", disse. O ministro ressaltou que o país tem instituições sólidas e que "a economia e a sociedade sempre saem mais fortalecidas desse processo".

De acordo com Barbosa, a operação Lava Jato pode ter impactos na revisão de planos de investimentos de algumas empresas, mas pontuou o lado positivo da investigação. "Ao fim desse processo, as instituições e o próprio funcionamento da economia se tornam mais eficientes e mais transparentes."

PIB

As declarações de Barbosa foram dadas após a presidente Dilma Rousseff, em reunião com ministros da coordenação política anteontem, dizer que a Lava Jato provocou instabilidade política e econômica no país. Segundo Dilma, a operação, que investiga um esquema de corrupção na Petrobras, provocou a queda de um ponto porcentual do Produto Interno Bruto (PIB).

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos políticos investigados pelo Supremo Tribunal Federal no âmbito da Lava Jato, afirmou ontem que a operação, de fato, interfere no cenário econômico, mas não ao ponto de comprometer o PIB. "Não acho que a Lava Jato é culpada pela queda do PIB, ninguém é maluco. A queda do PIB vai ser muito maior do que a queda que ela (Dilma Rousseff) anunciou, que pode ser impactada pela Lava Jato", disse Cunha.

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Prisão de almirante não altera projeto de usinas nucleares

 

ROBERTO GODOY 

29 Julho 2015 

 

A prisão do almirante Othon Pinheiro da Silva altera o humor do plano nuclear civil do governo - todavia, não modifica em nada o projeto de construção de quatro novas usinas - duas no Nordeste e duas no Sudeste - até 2033. O respeitado técnico definiu com sua equipe da Eletronuclear que o parque atômico brasileiro precisa gerar 7.300 megawatts em 15 anos, atendendo ao crescimento de 3,5% na demanda de energia. O estudo, da primeira metade de 2014, falha ao estimar um aumento do PIB na ordem de 4,1%.

A política para o setor tem dinâmica própria. Os investimentos previstos para cada uma dessas novas quatro unidades é de US$ 5 bilhões, com vida útil estimada em 60 anos, e cerca de 180 meses de amortização. Até março, quatro grupos haviam manifestado interesse na parceria do empreendimento: os japoneses Mitsubishi e Toshiba (associado ao americano Westinghouse), o chinês CNNC/SNPTC e o russo Rosenergoatom. Nesse quadro bem amarrado, em que até o escritório regional do nordeste foi montado, só falta um componente, raro na crise - o dinheiro.

 

A vertente militar do projeto, da qual o almirante cuidou diretamente na fase do sigilo e imediatamente após segue sem ele. Em Iperó, cresce a estrutura do LabGen, o laboratório de testes do reator que vai impulsionar o submarino atômico nacional, aí por 2021 - o navio estará pronto para o mar três anos depois. Ao lado do prédio, de altura equivalente a de um edifício de 16 andares, está a fábrica de onde sairão 40 toneladas de urânio enriquecido a cada ano. E em algum lugar fora do alcance e das visitas, há a secretíssima instalação destinada à produção das centrífugas - de baixo custo, a tecnologia brasileira dessas máquinas é muito eficiente. As primeiras versões, desenvolvidas há 30 anos por Pinheiro da Silva, ainda funcionam.

Da implantação do Centro Aramar, na região de Sorocaba, até o funcionamento do primeiro conjunto de enriquecimento do urânio, no fim dos anos 80, foram gastos US$ 633 milhões. As atividades ficaram congeladas, virtualmente sem orçamento, até a retomada, em 2007. Em 2014, o total era próximo a US$ 2 bilhões.