Poupança tem pior julho em 20 anos

 

Um dia depois de a Caixa Econômica Federal anunciar que não vai mais conceder crédito imobiliário a quem já tem um financiamento em vigor, numa clara reação à falta de fonte de recursos para esse tipo de empréstimos, o Banco Central informou que a poupança voltou a ter mais saques do que depósitos em julho. No mês passado, as retiradas superaram as aplicações na caderneta em R$ 2,5 bilhões, a maior quantia para o mês desde 1995, quando essas informações começaram a ser compiladas. A poupança é a maior fonte de recursos para o crédito imobiliário.

No acumulado do ano até julho, as saídas líquidas da poupança somaram R$ 40,9 bilhões, também o maior número para o período desde 1995. Por causa da fuga da poupança, ocasionada por menor renda da população e competição com aplicações mais rentáveis, o governo anunciou no fim de maio uma complexa engenharia financeira para tentar estimular os bancos a emprestarem para o setor imobiliário e a agricultura. Geralmente, esses recursos vêm diretamente da caderneta.

Liberação de recursos – O governo liberou R$ 25 bilhões para essas áreas por meio de ajustes feitos nos depósitos compulsórios que as instituições são obrigadas a fazer no BC. No final do mês passado, o BC informou que o saldo do recolhimento do compulsório para a poupança saltou de R$ 120,4 bilhões em maio para R$ 142,6 bilhões em junho.

Mesmo assim, o setor se ressente de falta de recursos para novos empréstimos. A poupança não para de evaporar mesmo comas “vantagens” anunciadas pelo setor financeiro. Em muitos bancos, quem escolhe esse investimento participa de distribuição de brindes e de sorteios, numa tentativa de angariar mais recursos.

Para o diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac),Miguel José Ribeiro de Oliveira, a perspectiva é a de que o quadro econômico vai permanecernegativoem2015,com inflação e juros elevados e queda de renda e desemprego. “A tendência para os próximos meses é de que este movimento de redução no volume dos depósitos da poupança se acentue, agravando ainda mais um ambiente econômico mais recessivo com a elevação nos índices de inadimplência e de desemprego”, disse.

Saldo – Com o resultado de julho, o saldo total da caderneta ficou em R$ 648,3 bilhões, já incluindo os rendimentos do período, de R$ 4,1 bilhões. Os depósitos somaram R$ 167,4 bilhões no mês passado, enquanto as retiradas foram de R$ 169,9 bilhões. A situação só não foi pior porque a quantidade de aplicações no último dia do mês foi R$ 4,4 bilhões maior do que o das retiradas. Até o dia 30, o saldo estava no vermelho em R$ 6,8 bilhões. É comum ocorrer um aumento dos depósitos no último dia de cada mês por causa de aplicações automáticas e de sobras de salários.

Mas além de os rendimentos estarem mais curtos no fim do mês, a alta do dólar e da taxa básica de juros têm levado quem ainda tem algum dinheiro extra para outros tipos de investimentos, bem mais rentáveis que a poupança.