BC indica alta dos juros, mas faz alerta

 

Depois de mais de dois anos com o ciclo de alta de juros, o Banco Central indicou nesta quinta-feira, 06, que o momento de parar chegou. No entanto, fez um alerta: se as expectativas de inflação e os preços começarem a subir demais e saírem do roteiro, poderá voltar atrás e continuar o aperto monetário. O recado estava na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta quinta-feira. O encontro que elevou a taxa básica Selic para 14,25% ao ano ocorreu na semana passada.

"Os riscos () exigem que a política monetária se mantenha vigilante em caso de desvios significativos das projeções de inflação em relação à meta", escreveram os diretores do BC no documento. O objetivo do BC é fazer com que a inflação ceda para 4,5% no fim de 2016.

A cúpula do BC deixou claro que a redução das metas fiscais para este ano, cujo superávit foi reduzido de R$ 66,3 bilhões para R$ 8,7 bilhões (0,15% do PIB), contaminou as expectativas do setor privado e até suas premissas usadas para as projeções de inflação. A instituição ainda destacou que essa alteração deve impactar expectativas e preços de ativos, além de contribuir para criar uma percepção menos positiva sobre o ambiente macroeconômico no médio e no longo prazo.

A piora do quadro fiscal teve tamanha influência que o BC aumentou suas estimativas para a inflação de 2015. O dólar em escalada também contribuiu para as expectativas de custo de vida em alta. A cotação da divisa usada para decidir a taxa de juros, R$ 2,25, está 3,43% menor que a do fechamento do dólar (R$ 2,33) no dia da reunião do Copom.

A taxa do BC, comparada ao câmbio desta quinta-feira, está 11,2% defasada. Mais do que isso, se tornou um dos maiores fatores de incertezas para o futuro, por conta do impacto da crise política na cotação da moeda americana. O tema político, no entanto, não foi tratado no documento.

Com a avaliação de que o estouro do teto da meta de inflação em 2015 (limite definido em 6,5%) é inevitável, o trabalho do BC continua o de circunscrever os efeitos da alta dos preços a este ano. O BC, inclusive, disse pela primeira vez na ata que a política monetária não só pode e deve como também já "está contendo" os efeitos de segunda ordem dos ajustes de preços relativos para a inflação. Para a instituição, o efeito defasado e cumulativo da política monetária é condizente com o objetivo de atingir a meta em 2016.

Para 30 instituições financeiras, de 33 ouvidas pelo AE Projeções, não há dúvidas de que o ciclo chegou ao fim. As três casas que fogem do consenso apostam em uma alta adicional, ainda este ano, de 0,25 ou 0,50 ponto porcentual.

Essa percepção de fim do movimento de alta se fortaleceu porque o BC retirou da ata a avaliação de que o seu esforço para combater a inflação ainda era insuficiente. Essa observação, que aparecia em documentos anteriores, foi substituída por um entendimento de que a "política monetária está na direção correta".

Para o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, todos os adjetivos usados pela autoridade monetária para se referir ao nível de atividade denotam piora na comparação com a ata anterior. "A ata de hoje é realista e traz uma leitura de piora da atividade e das mudanças referentes à política fiscal", afirmou. "A ata reforçou a ideia de que o BC manterá por um período prolongado os juros no nível atual, mas colocou um viés de alta", acrescentou.

Na ata, o BC ponderou que a expansão da atividade doméstica neste ano será inferior ao potencial. Isso, de acordo com o documento, é um quadro que ocorre por causa das mudanças pelas quais a economia passa neste momento. "Em particular, o investimento tem-se retraído, influenciado, principalmente, pela ocorrência de eventos não econômicos, e o consumo privado mostra sinais de maior moderação em linha com recentes dados de crédito, emprego e renda", escreveram os diretores. Na linguagem do BC, eventos não econômicos geralmente estão associados às investigações sobre corrupção no País.