Indústria tem nova queda em junho em junho e produção recua aos níveis de 2009

 

A indústria brasileira opera a níveis de julho de 2009, quando a atividade ainda caminhava para se recuperar da crise internacional. A diferença é que a demanda das famílias brasileiras, que resgatou o setor há seis anos, agora segue ladeira abaixo. Tanto que a produção chegou a esse patamar porque a profundou o ritmo de queda no segundo trimestre, com recuo de 6,7% em relação a igual período de 2014, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O desempenho é o pior desde o terceiro trimestre de 2009, quando a queda foi de 8,1%. Depois disso, a produção afundou, recuperou-se até junho de 2013, quando atingiu o auge, e voltou a desacelerar até os dias de hoje. “O baixo nível de confiança dos empresários e do consumidor, o aumento do desemprego, a renda disponível das famílias diminuindo, seja porque tem inflação mais alta ou porque você permanece comprometido com outras dívidas, e o mercado externo ainda adverso pontuam a trajetória descendente que marca a produção da indústria”, disse André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

Só em junho, o recuo na pro- duçãofoide0,3% ante maio, menos intenso do que o previsto por economistas. Mesmo assim, os dados não animam, já que não compensam perdas anteriores e porque os bens de capital (que incluem máquinas e equipamentos) e os bens de consumo duráveis, categorias que exibem retrações mais in- tensas, sinalizam para um menor potencial de crescimento nos próximos anos.

“A pesquisa mostra que o País parou. Não adianta pensar que deixar de fazer o País crescer fará com que a inflação ceda, pois precisa de PIB (Produto Interno Bruto) potencial para que isso aconteça”, disse o economista-chefe da Saga Capital, Marcelo Castello Branco.

Incerteza política

O diretor de pesquisa econômica da con- sultoria GO Associados, Fabio Silveira, diz que a desvaloriza- ção do dólar começa a estimular setores industriais de menor valor unitário, mas a crise política traz incerteza para a economia. “As indústrias de alimentos e têxteis mostram reação com o câmbio, principalmente porque há um deslocamento do consumo de importados, para uma demanda doméstica”, disse. “Essa indústria começa a encontrar um piso, mas, por causa do desentendimento de Executivo, Legislativo e Judiciário, o cenário pode mudar e gerar novas incertezas.

” Silveira estima uma queda de 4% a 4,5% na produção indus- trial em 2015 em comparação a 2014, em um cenário com o dólar em torno de R$ 3,30.

“Se o cenário político aqui e o setor externo piorarem e o dólar, por exemplo, for a R$ 4, é lógico que pode haver um reordenamento nas condições da economia e da indústria”, afirmou Silveira. “Se o dólar mais alto estimula exportações de maiorvaloragregado,poroutro lado pode explodir a dívida das empresas.”

Apesar da recuperação da indústria de bens semiduráveis e não duráveis em junho, de 1,2%, Silveira considerou “muito forte” a queda anualizada, de 3,2% em junho, e lembrou que em igual mês do ano passado houve a Copa do Mundo. “A base de comparação é fraca e ainda assim houve uma queda de 3,2%.”

PIB

A queda de 0,3% da produção industrial em junho reforça a expectativa de uma contração de 1,3% do PIB no segundo trimestre em relação ao anterior, conforme análise do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco. No primeiro trimestre, a queda do PIB foi de 0,2%.

O Bradesco mantém a expectativa de continuidade do enfraquecimento da indústria, observado desde o ano passado, diante dos estoques crescentes e do baixo nível de confiança dos empresários. “Ajustes em importantes cadeias, como construção civil e automotiva, também deverão limitar o desempenho da indústria neste ano.”

Bens de capital

Em junho, a produção de bens de capital caiu pela 16.ª vez consecutiva na comparação com igual mês do ano anterior. Só neste ano, a retração já beira os 20%. “A variação de bens de capital afunda num País que abortou o futuro num ajuste suicida”, disse André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

Os bens duráveis vivem quadro parecido. Desde o ano passado, a fabricação de veículos, móveis e eletrodomésticos caem diante da desaceleração na renda das famílias e do aumento dos juros, que encarecem o crédito .