Ministério Público referenda Janot no comando da Operação Lava Jato

 

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, foi o mais votado na eleição interna do Ministério Público e lidera a lista tríplice que será encaminhada para a presidente Dilma Rousseff ainda nesta semana. Janot obteve expressiva maioria, com 799 votos. Isso significa que, do total de 983 procuradores que foram às urnas, Janot recebeu respaldo de 81% dos votantes. 

Com o resultado, o atual chefe do Ministério Público será indicado novamente para o cargo pela presidente Dilma Rousseff. O amplo respaldo da categoria é comemorado por aliados de Janot, que enxergam na diferença de votos uma demonstração de força do procurador-geral, alvo de críticas e resistência por parte de parlamentares investigados na Operação Lava Jato, coordenada pelo Ministério Público Federal.

Para permanecer no posto, além da indicação da presidente, Janot precisa, posteriormente, passar por sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado e ser aprovado em votação secreta no plenário da Casa – que tem 13 senadores investigados.

 

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot 

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot 

Dilma manterá a tradição iniciada no governo Luiz Inácio Lula da Silva de indicar o primeiro nome da lista apresentada pelo Ministério Público Federal. A presidente recebe hoje a lista com os nomes dos três procuradores mais votados. O governo avalia, porém, que é melhor esperar Janot oferecer as denúncias contra políticos investigados na Lava Jato ao Supremo Tribunal Federal, o que ocorrerá nos próximos dias, para só depois encaminhar o nome dele para a sabatina no Senado.

A condução de inquéritos da Lava Jato envolvimento políticos com foro privilegiado é vista como um fato que dificultará a aprovação de Janot no Senado, onde 13 parlamentares são alvo das investigações.

Em julho, o procurador-geral autorizou a Polícia Federal a cumprir mandados de busca e apreensão nas residência de senadores. No diagnóstico do Planalto, o clima político vai esquentar nos próximos dias porque Janot deve pedir a punição do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado pelo lobista Júlio Camargo, um dos delatores da Lava Jato, de cobrar propina de US$ 5 milhões. Cunha tem negado as acusações e dirigido fortes críticas ao procurador-geral, a quem acusa de “perseguição”.

Além disso, é provável que Janot também aponte senadores na lista de denunciados ao Supremo. Entre os que têm a investigação mais avançada está o ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL). Diante dessa expectativa, o governo teme que, se o nome de Janot for submetido agora ao crivo do Senado, seja rejeitado pelo plenário. Contudo, o governo acredita que o que poderia contar a favor do procurador-geral é o fato de que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deve ficar fora das denúncias. 

O plano de Dilma é encaminhar a indicação do procurador-geral após as manifestações de rua contra o governo, no dia 16. De qualquer forma, se o Senado vetar a recondução de Janot, Dilma deve partir para um plano B, e indicar um nome fora da lista tríplice.

Candidatos. O segundo colocado foi o subprocurador Mario Bonsaglia, com 462 votos, considerado o candidato mais aliado a Janot; em terceiro aparece a subprocuradora Raquel Dodge (402 votos), vista internamente como candidata de oposição moderada. Carlos Frederico, principal crítico da atual gestão, ficou em quarto lugar e, portanto, fora da lista tríplice, com 217 votos. Cada procurador pode votar em até três nomes para compor a lista.

 

Janot encaminhou uma mensagem no sistema interno aos procuradores. Ele agradeceu os 799 votos “com emoção, alegria e humildade” e disse que a confiança da categoria serve de “estímulo, motivação e fortalecimento”, escreveu. Ele disse ainda que o resultado mostra que “os caminhos focados na responsabilidade, em muito trabalho e no continuado diálogo, com seriedade e transparência, são frutíferos”. As próximas etapas, segundo Janot, são aguardadas com entusiasmo. “Paciência e confiança”, escreveu.

O senador Aécio Neves (MG) afirmou que vai trabalhar para que a bancada do PSDB do Senado, composta por 11 parlamentares, apoie a recondução do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao cargo.

 

Investigação vê empréstimos fictícios declarados por Collor

 

O ex-presidente da República e atual senador Fernando Collor (PTB-AL) declarou à Justiça Eleitoral, nas eleições de 2014, ter realizado 15 empréstimos para a empresa Água Branca Participações, que somam um total de 7,4 milhões de reais. A companhia, que pertence ao parlamentar, é considerada de fachada por investigadores da Operação Lava-Jato, pelo fato de não possuir funcionários, sede ou parte em outras companhias.

Os valores dos empréstimos registrados no ano passado variam de 51 mil reais a 1,2 milhão de reais, segundo levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo. A PGR (Procuradoria-Geral da República) suspeita que os trâmites de empréstimo sejam peça do sofisticado esquema de lavagem de dinheiro feito pelo senador.
Estão registrados em nome da Água Branca três carros de luxo do ex-presidente, das marcas Bentley, Range Rover e Lamborghini. A Ferrari apreendida na casa do senador, em julho, pela Operação Politeia, está escriturada pela instituição que financiou a empresa de Collor.

Nas investigações, foram apontados empréstimos considerados fictícios em anos anteriores. Em 2011, 2012 e 2013, os apuradores encontraram suplementos monetários nos valores de 2,1 milhões de reais, 4,2 milhões de reais e 3,3 milhões de reais, conforme documentos enviados à Procuradoria pela Receita Federal.

Em 2011 e 2012, a movimentação financeira assinalada pela companhia do senador foi zero. Em 2013, o giro de dinheiro foi de 436 mil reais. A discrepância entre os empréstimos feitos e as operações da Água Branca chamou a atenção dos investigadores. Em parecer encaminhado ao STF (Supremo Tribunal Federal), a Procuradoria pediu que os carros de luxo do ex-presidente recolhidos não sejam devolvidos. Para os policiais federais, os veículos são possivelmente produto de crime, e as apurações apontaram que Collor recebeu 26 milhões de reais em propina de 2010 a 2014.

Para Collor, há uma sórdida estratégia midiática promovida pelo procurador-geral Rodrigo Janot para prejudicá-lo. “Utilizam-se do meu nome, da minha imagem, dos meus bens para se autopromover, para fazer espetáculo”, disse. “Que humilhação vem me impondo essa alcateia que se apoderou do Ministério Público Federal”, lamentou o senador.