Título: Grampos
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 12/08/2011, Política, p. 2/3

Katiana Necchi, filha de Maria Helena Necchi, uma das sócias da Ibrasi, pede documentos para o funcionário da CEF identificado apenas como Edmilson, em 2 de maio deste ano. Ele repassa para Katiana os documentos, com a ressalva de que são confidenciais e de que ela deve suprimir certas partes, sob pena de acarretar problemas para o servidor da Caixa %u2014 conduta de quebra de sigilo funcional (artigo 325 do Código Penal):

EDMILSON: Eu tenho duas já feitas. As outras duas que você me pediu está (sic) um pouquinho complicado, mas ainda não desisti. KATIANA: Tá.

EDMILSON: Da empresa Barbalhos (Reis) eu tenho três. KATIANA: Ah, que bom.

EDMILSON: E da empresa Manhattan, eu também já tenho ela aqui. KATIANA: Ah, que bom.

EDMILSON: Só que é o seguinte, vou te mandar um documento que você tem a obrigação de me tirar aquela parte confidencial, tá? KATIANA: Ah, tudo bem.

EDMILSON: Aquela parte que tem o asterisco 20, pelo amor de deus, dá fim com aquilo. KATIANA: Não, tá, eu procuro, tiro e tiro xerox em cima.

EDMILSON: Isso, você tira o pontilhado que a parte do meio é o que te interessa. KATIANA: Tá.

EDMILSON: A parte de cima você desconsidera tá bom? KATIANA: Tá, tá.

EDMILSON: Sabe por quê? Isso é extremamente confidencial. KATIANA: Tá, não, tudo bem, eu tiro e tiro essa parte e tiro xerox.

EDMILSON: Tá, eu tô mandando três em uma única folha, vê se você separa eles pra mim, tá bom?

Em outro diálogo entre os dois, meia hora após o descrito acima, Katiana diz a Edmilson que precisa do comprovante de uma transferência que o Ibrasi fez à empresa Sinc. Edmilson diz não haver comprovante e Katiana se desespera. A PF entende que houve ocultação da origem de valores: EDMILSON: Foi uma retirada e um depósito, não dá para saber a origem. Foi uma retirada e um depósito, não uma transferência. KATIANA: Ele não conseguiu procurar o depósito.

EDMILSON: Não vai nem achar qual a origem dele. KATIANA: Não?

EDMILSON: Não adianta. É como (...) se tivesse feito o dinheiro e direto no caixa, pega, traz uma maleta... KATIANA: Ah, meu deus do céu, tô ferrada então.

EDMILSON: Tá. porque esse tipo de transação não tem nem como a gente monitorar.

Em 3 de maio, dia seguinte aos registros anteriores, Katiana conversa sobre pagamentos que ela não conseguiu realizar, perguntando para outro funcionário da CEF, identificado apenas como Rodolfo, se haveria alguma forma de efetivá-los naquela data, pois seriam urgentes. Katiana propõe buscar a assinatura de Luiz Gustavo, diretor do Ibrasi, em outra empresa de São Paulo, quando, na verdade, o mesmo encontrava-se em Macapá. No diálogo seguinte, Rodolfo acata a ideia de Katiana, o que leva a crer, segundo a PF, que alguém assinou o documento no lugar de Luiz Gustavo: KATIANA: A gente precisa fazer esses pagamento hoje, o Luiz está numa reunião, ele está aqui, dentro de uma empresa, ele vai estar o dia inteiro em conferência. A gente está indo lá, pedindo para ele assinar e voltando, mas as assinaturas não bateram. Ele falou que só indo aí pessoalmente. Eu queria saber se nem se autenticar a firma, tá, de todas as cartas, de todas as autorizações de TED, levar o estatuto com a assinatura dele também reconhecida a firma, nem assim ele autoriza fazer? RODOLFO: Ó, eu acredito que não, Katiana, deixa eu confirmar (...) aqui.

KATIANA: Pergunta, que ele não tem hoje como ir aí. Eu preciso fazer esse pagamento hoje, entendeu? Então, assim, nem se autenticasse? Eu autentico tudo, eu reconheço firma de tudo, entendeu? Porque daí comprova que é ele, né? Se o cartório comprova, entendeu, é por isso que eu tô dizendo, eu preciso fazer esses pagamentos hoje e ele está em conferência o dia inteiro. Então eu iria lá de novo, pegaria todas essas cartas, pediria para ir no cartório, reconhecer a firma de tudo, entendeu, e ia aí de novo. RODOLFO: Porque assim, só vale com o documento que nós possuímos aqui da Caixa, a assinatura que ele deixou aqui para a gente não está batendo com aquele documento. (...)

KATIANA: Isso que eu estou falando. Eu posso até pegar o documento, pedir para ele assinar, pedir para ir no cartório, autenticar, levar para vocês, isso tudo eu posso fazer, eu só não tenho como ele ir aí, entendeu? Ele tá aí perto (...), só que ele não tem como sair, eles estão em reunião. (...) Então, assim, eu posso fazer todo o trâmite de motoboy, o que vocês quiserem, posso pegar a ficha aí, posso pedir para ele assinar, posso reconhecer firma, posso fazer tudo. Eu só não tenho como ele vir até aí hoje, eu preciso fazer esses pagamentos hoje, vê se não tem uma forma, Rodolfo, eu posso pegar a ficha, levar para ele, ele assina, devolve para vocês, eu reconheço firma, enfim, o que vocês quiserem, mas vê se deixa alguma possibilidade. RODOLFO: Certo.

KATIANA: Assim, nem que eu peça para ele assinar 20 vezes, até ele fazer a assinatura que está aí. (...) A assinatura dele cada hora é de um jeito, entendeu? Porque ele não assina igual, eu sei que agora vocês estão mais preocupados por causa da história do TCU, eu entendo vocês completamente, sem problema nenhum. É que ele assina cada hora de um jeito.