Título: Ministro defende ação da PF
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 12/08/2011, Política, p. 2/3

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, negou ontem que soubesse da existência da Operação Voucher com antecedência. Pressionado, especialmente pelo PMDB, por não ter avisado a presidente Dilma Rousseff dos procedimentos, o titular da Justiça disse que só foi comunicado da ação na manhã em que ela ocorreu, na terça-feira. Cardozo também defendeu a Polícia Federal da reação da base aliada contra o uso de algemas nos políticos presos. Dentro da corporação, o temor é de que as reações possam intimidar o trabalho dos policiais, como ocorreu em outras ocasiões.

Durante cerimônia em que foi condecorado, no Tribunal Superior do Trabalho, Cardozo disse que a lei proíbe quebra de sigilo nas ações policiais. "Eu soube no momento da operação e não poderia ter sabido antes. No caso, a lei proíbe terminantemente a quebra do sigilo. Eu jamais cometeria um crime, jamais poderia saber e jamais a direção da Polícia Federal cometeria esse crime", defendeu.

Em São Paulo, o vice-presidente Michel Temer reforçou a reação peemedebista, contrária ao uso das algemas na Operação Voucher. Ele ainda pressionou a PF para que apresente provas contra os presos. "Evidentemente que os exageros dos últimos acontecimentos, que são notórios, não surgiram de uma coisa gravíssima. De vez em quando, eu ouço que há provas robustas, mas cadê as provas robustas?", indagou Temer, após a solenidade de filiação do ex-deputado Luiz Antonio Fleury ao PMDB.

Segurança Anteontem, Cardozo cobrou uma resposta do diretor-geral da PF, Leandro Daiello Coimbra, sobre as algemas na operação. A resposta seguiu a linha da posição oficial da PF, divulgada na quarta-feira. Em nota, a corporação afirma que o transporte dos presos para Macapá não infringiu a Súmula 11 do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo o ministro, o diretor da Polícia Federal afirmou que o uso de algemas em voos é uma questão de segurança, mesmo argumento de agentes e delegados, que estranharam a reação dos políticos, do Palácio do Planalto e do próprio Cardozo. "Isso já foi feito, por exemplo, na Operação Mãos Limpas, mas ninguém reclamou", diz um policial que preferiu não se identificar. "Esse tipo de reação política vai intimidar a atuação da PF em outras ações, como já aconteceu", acrescenta a fonte.

O ministro José Eduardo Cardozo ressaltou que, na questão das algemas, o esclarecimento dado pela Polícia Federal será analisado pela pasta. "Se houve algum abuso por parte de quem quer que seja, será punido. Agora, não havendo, a situação fica esclarecida", ressaltou. O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Marco Winck, ressalta que o uso do instrumento no deslocamento de detentos em voos é um procedimento obrigatório. "A questão não é a algema, mas a demonstração pública dela. Hoje, de cada mil presos, em pelo menos 90% se usam algemas, o que garante a segurança do policial, da comunidade e do próprio preso. O que não pode é transformar isso em espetáculo", adverte Winck.