Título: Planos arruinados e desamparo
Autor: Jeronimo, Josie ; Sassine, Vinicius
Fonte: Correio Braziliense, 04/09/2011, Política, p. 2/3

Quando a Presidência da República ofereceu um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para transportar o corpo de Fabíola Reis Carigé depois do acidente envolvendo o carro da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, as famílias da jovem de 19 anos e de seu noivo, Ricardo Alexandre Monteiro (foto), tiveram a impressão de que receberiam apoio da União para resolver questões práticas da tragédia, como despesas com o funeral e gastos médicos. Até hoje, o apoio não veio e a família do casal avalia que a atuação da Aeronáutica no transporte do corpo de Brasília para Salvador (BA) teve o objetivo de "abafar" a história, que ocorreu durante o segundo turno das eleições presidenciais. A irmã de Fabíola, Émile Carigé, conta que as despesas do funeral foram pagas pelo governo da Bahia, comandado por Jaques Wagner (PT).

Émile é advogada e afirma que a prioridade da família é a condenação criminal do motorista. Só depois, pensarão em indenizações. O condutor foi denunciado por homicídio culposo em inquérito conduzido pela 5ª Delegacia de Polícia do Distrito Federal. "Quem eles não mataram, eles aleijaram", resume, referindo-se a Ricardo, que deixou Brasília depois da tragédia. Ele conta que está "traumatizado" e que a cidade traz lembranças ruins. O casal estava junto há quatro anos e trocou a Bahia por Brasília em busca de oportunidades de emprego e para concluir curso superior de administração. Quase um ano depois do acidente, ele ainda tem problemas de locomoção e ficou parcialmente cego.

Familiares contam que procuraram a Secretaria de Políticas para Mulheres quando o convênio se recusou a realizar um procedimento mais complexo, mas não recebeu ajuda. "Tive que pagar o exame com cartão de crédito e fiquei com a certeza de que a única ajuda que eles podiam dar era a utilização de privilégios do alto escalão do governo sobre os serviços públicos que pagamos para ter", desabafa Ricardo. O Correio entrou em contato com a Presidência, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem. (JJ, VS e AB)