Título: Dia para consolidar as relações
Autor: Silveira, Igor
Fonte: Correio Braziliense, 04/09/2011, Política, p. 7

Depois das turbulências pela troca do titular da Defesa e pelos cortes no orçamento da pasta, Sete de Setembro deve se ater ao protocolo

O primeiro Sete de Setembro de Dilma Rousseff como presidente da República traz ingredientes de sobra para tensionar a hora e meia em que ela passará no desfile na Esplanada dos Ministérios. Pelo fato de ter sido presa em 1970, durante o regime militar, sob a acusação de ser subversiva e de pertencer a uma organização armada clandestina, a relação entre a petista e as Forças Armadas sempre foi cercada por uma aura de desconforto. Além disso, recentemente, no início de agosto, Dilma trocou o comando do Ministério da Defesa. O então chefe da pasta, Nelson Jobim, deu declarações que não agradaram à presidente e o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim foi chamado para ocupar o cargo, mesmo com todas as apostas de que a escolha criaria um desgaste ainda maior entre o Palácio do Planalto e os militares.

No entanto, a situação parece ter sido contornada e o Dia da Independência tende a ser tranquilo e protocolar. Logo na cerimônia de posse de Celso Amorim, Dilma tratou de amenizar o tom. "Mudanças importantes, elas sempre provocam tensão. Mas elas requerem cuidado, elas cobram sensatez e exigem escolhas bem refletidas", ressaltou. "A lógica do Ministério da Defesa é a disciplina, a competência e a dedicação. A ideologia do Ministério da Defesa é o respeito à Constituição e a subordinação aos interesses nacionais. O partido do Ministério da Defesa é a pátria", completou.

O próprio ministro Celso Amorim, utilizando-se das décadas de experiência na diplomacia, foi bem aceito na pasta. O pé atrás em relação a ele vem de uma experiência pouco feliz dos militares com outro diplomata que comandou a pasta na década passada. José Viegas Filho chefiou a Defesa no início da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, mas pediu demissão depois da divulgação, teoricamente sem a aprovação de Viegas, de uma nota do Exército defendendo práticas adotadas contra militantes da esquerda no Regime Militar.

Amorim, por sua vez, sempre teve um discurso mais nacionalista que, em alguns momentos no comando do Palácio do Itamaraty, parecia extremamente afinado com as Forças Armadas. Ele, inclusive, é um dos que defendem o reaparelhamento do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

Festa mais barata O desfile de 7 de setembro deste ano tem como tema "Construir um Brasil que avança está em nossas mãos". Sem grandes alterações em comparação aos desfiles dos últimos anos, a Esplanada dos Ministérios está sendo equipada com arquibancadas com capacidade para 20 mil pessoas, além de tribunas de honra com mil lugares. A festa, com direito à tradicional apresentação da esquadrilha da fumaça, está orçada em cerca de R$ 900 mil, R$ 100 mil a menos do que foi gasto no ano passado.

No primeiro ano como presidente, Dilma decidiu não convidar um chefe de estado para participar das comemorações da Independência do Brasil. O último presidente estrangeiro a passar a data no país foi o mandatário francês Nicolas Sarkozy, que esteve na capital federal a convite de Lula em 2009.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 04/09/2011 02:25