Título: Uma questão de gosto
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 04/09/2011, Política, p. 8

Se ter pais politicamente ativos e ser religioso são fatores que provocam impacto positivo e direto sobre a formação de filhos participativos na política, há atributos individuais do jovem que caminham ao lado da militância. O interesse pela política, que leva à maior exposição à informação sobre o assunto é o principal deles, segundo o cientista político Mário Fuks. "Se, além de pais escolarizados e que fomentam um ambiente politicamente estimulante, o jovem frequentar boas escolas, mais bem servidas pelos recursos que permitem o acesso à informação, ele tem a seu favor todas as condições sociais que distinguem o seleto grupo da população considerado politicamente sofisticado", explica Fuks.

Além da participação política dos pais e da cultura escolar, a condição de "ser religioso" parece explicar a decisão de muitos jovens, de se envolverem com a política não eleitoral, particularmente por meio de associações civis e organizações não governamentais que promovem ações sociais, indica a pesquisa. É assim que Flávia Pires, de 22 anos, estudante de direito, cristã protestante, está vinculada à União Nacional de Estudantes Cristãos, que atua em quatro áreas: social, política, artes e esportes.

Flávia desenvolve um trabalho de conscientização política, abordando temas como a ética e a cidadania com jovens alunos da rede pública. Sem filiação partidária, ela enxerga um sentido também religioso em sua atuação política. "Sempre quis ajudar o Brasil a desenvolver, ajudando as pessoas a conhecerem mais a política", diz ela. "Despertar o interesse nas pessoas para a política, para que percebam como ela pode gerar transformações é uma tarefa cidadã, mas também cristã", afirma Flávia.

Com o foco no senso de responsabilidade social, o advogado Joviano Gabriel Maia Mayer, de 26 anos, militante das brigadas populares, centra a atuação política nas periferias de Belo Horizonte e região metropolitana da capital mineira. Ele luta, sem estar filiado a qualquer partido, pelo que chama de "reforma urbana": a luta contra a segregação socioespacial. "Combatemos a expulsão dos pobres para as áreas periféricas, garantindo-lhes o direito à cidade e o acesso à educação, à saúde e à moradia dentro desse espaço urbano", afirma.

Érica Coelho, de 25 anos, estudante de ciências sociais, também é ativista política. Abraça as causas que lhe parecem adequadas à mudança da cultura política em direção ao socialismo e à formação de indivíduos mais conscientes e participativos. "Há outras formas de participação política que não apenas a partidária. Sou ativista em defesa de causas socialmente justas", considera ela.