Sem Campos PSB cria polo de poder em São Paulo

 

A crise política e o clima conflagrado entre governo e oposição terão uma pequena trégua nesta semana, quando se completa o primeiro aniversário da morte do ex-governador pernambucano Eduardo Campos. A próxima quinta-feira, dia 13, marca um ano do acidente fatal com o avião em Santos, no litoral paulista. Campos morreu em plena campanha presidencial e desde então o PSB, partido que ele comandava de forma centralizadora, enfrenta um processo de disputas internas, perdeu a unidade e tem atuação difusa no Congresso.

Embora mantenham um centro de poder em Pernambuco – onde estão à frente do governo do Estado e da prefeitura da capital – os afilhados políticos do ex-governador estão atualmente isolados na máquina partidária. O núcleo de comando da sigla se deslocou do Recife para São Paulo e hoje seu nome mais influente é o vice-governador paulista Márcio França. A casa da viúva de Campos, Renata Campos, no bairro Dois Irmãos, no Recife, se tornou uma parada obrigatória de todos os debates políticos nacionais da sigla, mas o pessebista mais influente hoje na estrutura da legenda é mesmo França. 

O governador pernambucano, Paulo Câmara, e o prefeito da capital, Geraldo Julio, acabaram isolados no partido depois que o senador Fernando Bezerra Coelho (PE) e o presidente nacional, Carlos Siqueira, se alinharam com ele. Na prática, isso significa que o PSB nacional está mais afinado com o projeto de poder do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Se o tucano conseguir ser o candidato à Presidência pelo PSDB em 2018, França assumirá o governo do Estado e poderá tentar a reeleição. 

Não foi por acaso que o partido adotou um tom moderado em relação ao impeachment da presidente Dilma Rousseff e não embarcou na defesa de uma nova eleição presidencial, como querem os tucanos ligados ao senador Aécio Neves (PSDB-MG). Um novo pleito antes de 2018 faria do senador mineiro o candidato natural e frustraria os planos de Alckmin.

O vácuo deixado por Campos pode ser notado também no Congresso. Segundo análise das votações em plenário da Câmara feita pelo Estadão Dados, o partido é, hoje, o terceiro colocado no ranking da legendas mais “dispersas” da Casa. Ou seja: as menos coesas na hora votar. Em primeiro e segundo lugar estão respectivamente o PP e o PTB. 

Com 33 deputados, a bancada do PSB não costuma seguir a orientação do seu líder. Questionados sobre o fenômeno, os quadros da legenda reconhecem que isso decorre da falta de uma referência nacional que unifique o discurso e defina a estratégia. “O PSB tem, hoje, duas posições. Uma mais histórica, que defende a aproximação com o governo federal, e outra mais moderna, que é de oposição. Com Eduardo, a postura era mais unificada. Da Luiza Erundina (SP) ao Heráclito Fortes (PI), todos respeitavam a posição dele”, avalia o vice-governador de São Paulo, Márcio França. “Não há no PSB uma liderança nacional. Isso não se fabrica, mas se forja na luta política”, concorda o presidente nacional do partido, Carlos Siqueira. 

 

Desastre. Eduardo Campos, então candidato a presidente pelo PSB, morreu em acidente aéreo em 13 de agosto do ano passado em Santos

 

Depois de apoiar a eleição de Dilma Rousseff em 2010, o PSB desembarcou do governo em 2013, quando se consolidou a candidatura de Campos à Presidência. Após a morte dele no ano passado, a sigla articulou uma frágil aliança interna para dar sustentação à campanha de Marina Silva, que herdou a candidatura. A composição se desfez logo depois do primeiro turno, quando o partido decidiu apoiar Aécio. 

Herdeiros. Nas eleições municipais do ano que vem, o único integrante da família Campos que tentará a sorte nas urnas será o irmão do ex-governador, o advogado Antonio Campos. Em sua estreia na política, ele disputará a prefeitura de Olinda. A principal aposta do clã, entretanto, é o filho do ex-governador João Campos, de 21 anos. Nomeado ano passado para um cargo na direção da Executiva do PSB pernambucano, ele foi pressionado a disputar uma vaga na Câmara Municipal do Recife em 2016. João Campos se animou com a ideia, mas a mãe vetou o projeto: candidatura só depois de terminar a faculdade de engenharia. No plano traçado pelo partido, o primogênito atuará na militância da juventude do PSB até 2018, quando disputará a vaga de deputado federal. “A candidatura dele a deputado federal já tinha sido cogitada em 2014, mas Renata não permitiu”, disse Siqueira. 

Campos completaria amanhã 50 anos de idade e a data dará início às homenagens. Além do Recife, o ex-governador será lembrado em eventos em Brasília e em vários Estados.

 

SEM INDENIZAÇÃO, BAIRRO RETOMA ROTINA

Moradora e empresário de academia se queixam de falta de pagamento; dirigente do PSB diz que depende de decisão judicial

SANTOS - Quase um ano após a queda do avião que matou o ex-governador Eduardo Campos (PSB), em Santos, no litoral paulista, os aposentados Carlos Diniz Moreira Sampaio, de 71 anos, e Kazuo Hama, de 63 anos, voltaram a se exercitar na mesma academia que viram ser destruída no acidente com o jato que levava o então presidenciável e sua comitiva, no dia 13 de agosto de 2014. 

Estado retornou à academia Mahatma na segunda-feira, dia 3 de agosto, às 10h – horário em que ocorreu o acidente. Encontrou os dois homens treinando no local, reaberto na semana passada. “A sensação que tive naquele dia foi de morte. Hoje, voltando ao mesmo lugar, a gente sente alegria por continuar vendo seus amigos, do seu lado, na academia”, disse Sampaio, que é dentista aposentado. “Foi um susto muito grande no dia. O barulho, o estrondo, o calor. Hoje parece que renascemos. Nascemos de novo”, afirmou Hama, pedalando uma bicicleta ergométrica. 

 

 

Retomada. Kazuo Hama voltou à academia atingida por queda de avião

 

A academia ainda não está totalmente recuperada da destruição provocada pela queda do jatinho. Por ora, o proprietário, Benedito Juarez Câmara, de 70 anos, conseguiu reconstruir apenas o salão onde ficam os aparelhos de ginástica. As duas piscinas, localizadas no andar de baixo da academia, estão desativadas. Uma delas, inclusive, está sem azulejos e tem dois andaimes dentro dela. 

“Ganhei telha, ganhei cimento de pessoas que me conhecem. 80% da piscina foram reaproveitados. Eu perdi as duas piscinas, a parte hidráulica”, disse o empresário, ao enumerar os prejuízos que teve após o acidente que matou Campos. “Num universo de 750 alunos, nós caímos para nem 100 alunos. Porque eu não tinha local para trabalhar. A gente também teve que mandar dez funcionários embora. Antes, tinha 16, hoje só tenho 6.”

Indenizações. O empresário manifestou insatisfação com o PSB e o vice-governador de São Paulo, Márcio França, que teriam se prontificado a pagar as indenizações dos moradores afetados pelo acidente – além da academia, 13 residências sofreram algum tipo de dano, segundo o Corpo de Bombeiros. “É tentativa de obstrução da Justiça. É muito absurdo, muito desrespeitoso. O PSB tem obrigação moral e ética de dizer pelo menos quem são os responsáveis pela queda do avião”, disse Câmara.

 

Queixa. Benedito Juarez Câmara espera indenização por prejuízos

 

Outra moradora da vizinhança, Marlene Rodrigues Martinez, de 65 anos, também criticou o vice-governador, que é presidente do diretório paulista do PSB, depois de ser questionada sobre o pagamento de indenizações às pessoas cujas casas foram destruídas no acidente. “Em época de eleição, todo mundo promete tudo. O Márcio França não vale nada”, desabafou a aposentada.

O vice-governador afirmou ao Estado que prestou assistência aos moradores e que o PSB não pode honrar com os prejuízos sem uma decisão judicial transitada em julgado sobre o caso. Várias pessoas afetadas pelo acidente processaram o PSB, pedindo que o partido arcasse com as indenizações. “Sou solidário a eles. Se houver sentença a favor deles, podemos pagar com o dinheiro do partido”, disse França.