Inflação acumulada até julho chega a 6,83% e ultrapassa teto da meta do ano

 

O mês de julho rompeu a tradição de ser um alívio no bolso dos consumidores e registrou aumento de 0,62% na inflação, a maior taxa para o período desde 2004, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De janeiro a julho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação brasileira, já acumula alta de 6,83%. Ou seja, ultrapassou o teto da meta prevista para todo o ano, que é de 6,5%.

Em 12 meses, o resultado acumulado ficou em 9,56% - mais próximo ainda da perigosa marca de dois dígitos, já registrada em quatro das 13 regiões pesquisadas. O número é o mais alto desde novembro de 2003. 

O economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho, não acredita que a inflação chegará ao fim do ano acima dos 10%, mas tampouco descarta essa possibilidade, principalmente se a recente valorização do dólar persistir. “Se houver continuação do viés de alta do câmbio e isso não for suavizado pelo Banco Central, poderemos ter uma surpresa inflacionária. Mas o BC está prudente, observando o comportamento do câmbio, para decidir como atuar”, avaliou. Para Velho, o BC manterá a estratégia de vender dólares no mercado futuro (com swap cambial) para segurar o dólar e não estenderá o ciclo de alta de juros.

Em agosto, ele estima que a inflação em 12 meses deve subir mais um degrau, já que o resultado mensal de 2014 (0,25%) será superado. “A tendência de redução da inflação parece ser muito mais lenta”, disse Velho.

O resultado do IPCA de julho veio acima da média dos últimos dez anos, de 0,50%, nos cálculos do economista Bernard Gonin, da Bozano Investimentos. Por isso, ele não vê alívio ante o resultado de junho, que foi de 0,79%. “Não há desaceleração. A inflação segue pressionada”, disse.

“Em geral, junho, julho e agosto são os menores resultados do ano, mas 2015 está sendo diferente”, explicou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE. “Isso ocorre por causa dos alimentos, que, com a safra, tendem a puxar o resultado do IPCA para baixo. Mas isso não aconteceu agora.”

No mês passado, os alimentos ficaram 0,65% mais caros, a maior taxa para o mês desde 2012, quando uma seca severa comprometeu a oferta no País. Agora, agricultores relatam que o dólar elevado tem pesado nos preços. As principais vítimas são os derivados de trigo, incluindo o pão francês, e as carnes.

Os preços administrados também pesam. Só a alta de 4,17% na energia elétrica em julho adicionou 0,16 ponto porcentual ao IPCA do mês passado. Enquanto isso, as taxas de água e esgoto subiram 2,44%.