Inflação já supera 10% em quatro capitais

 

Três capitais se juntaram a Curitiba (PR) no grupo das que ostentam uma marca nada virtuosa: inflação acima dos 10% nos últimos 12 meses. Em Porto Alegre (RS), Goiânia (GO) e Rio de Janeiro (RJ), o ritmo de aumento de preços atingiu os dois dígitos em julho, informou ontem o IBGE.

“Algumas populações estão sendo mais sacrificadas”, reconheceu Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE. As demais não ficam muito atrás. Cinco regiões registram inflação acima de 9%, e os outros quatro locais analisados pelo órgão têm IPCA superior a 8%.

Os índices nada favoráveis são justificados por aumentos de dois dígitos em preços administrados (como energia e combustíveis) e por uma inflação de alimentos mais agressiva do que em 2014. 

A inflação em Curitiba já havia atingido os 10% em junho. No mês passado, acelerou mais. Tanta pressão vem da coleção de números vultosos: altas de 70,54% na energia elétrica (que sofreu novo reajuste em julho), de 20,16% nos ônibus urbanos, 32,66% nas passagens aéreas e 11,40% nos alimentos.

Para os curitibanos, só a cebola ficou 205,23% mais cara nos últimos 12 meses. A explicação do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) é que a região não possui condições climáticas adequadas para a produção de alimentos in natura. Perdas são comuns e interferem no preço.

Além disso, um aumento nas alíquotas do ICMS, principal fonte de arrecadação dos Estados, provocou um efeito cascata. “Em abril deste ano, o ICMS aumentou para mais de 90 mil produtos em Curitiba”, explicou Eulina, do IBGE.

Em Goiânia, os preços administrados também contribuíram para levar a região à marca de dois dígitos. A alta da energia elétrica, por exemplo, é a maior entre os locais pesquisados, de 74,35%. Gastos com alimentação e aluguel também consomem fatia maior do orçamento dos goianos.

Já no Rio, os preços “vêm aumentando bastante”, destacou a coordenadora do IBGE. A capital fluminense sempre figurou na parte de cima do ranking de inflação do País. Além disso, a realização de eventos contribui para os reajustes. “Houve alta no ano passado com a Copa do Mundo, e os preços no Rio continuam persistentes, até por conta da Olimpíada que vem aí”, disse Eulina.

Administrados. Vilã da inflação em 2015, a alta dos administrados atingiu 15,99% nos 12 meses até julho, segundo o IBGE. Reajustes nas tarifas de energia elétrica em São Paulo e Curitiba, aumentos nas taxas de água e esgoto em sete regiões e elevações passadas nos combustíveis e nas tarifas de ônibus farão com que ogrupo seja a“estrela” do IPCA este ano.

Da alta de 9,56% do IPCA em 12 meses até julho deste ano, os administrados adicionaram 6,24 pontos porcentuais – o equivalente a dois terços do índice geral. Isso sem contar o efeito secundário sobre estabelecimentos comerciais, que repassam pelo menos parte do aumento de custos, e sobre alimentos, cuja produção também fica mais onerosa.

O aumento pra lá de salgado é resultado da estratégia adotada em anos anteriores de conter reajustes em tarifas reguladas pelo governo, a fim de obter índices de inflação mais favoráveis. “Estruturalmente, houve uma leniência com a inflação, que levou o IPCA a se mover para um novo patamar”, avaliou o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.