Título: Drible não garante pediatras
Autor: Braga, Gustavo Henrique ; D"angelo, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 04/09/2011, Economia, p. 14
O drama de quem precisa recorrer a um médico por meio de um plano de saúde começa cedo. No Distrito Federal e em quase todo o país, é praticamente impossível conseguir um atendimento de um pediatra se o meio de pagamento for o convênio. É o presidente da Sociedade de Pediatria do DF, Dennis Burns, quem alerta: "A situação só deve piorar nos próximos meses". Ele explica que, desde a paralisação de 2009, em repúdio aos planos e aos seguros de saúde, são pouquíssimos os hospitais que ainda contam com atendimento dessa especialidade, porque os médicos não aceitam mais o valor pago por consulta pelas operadoras.
Diante dessa realidade dramática para os pais, que comprometem até 30% da renda para garantir o bem-estar da família, os hospitais estão buscando uma saída. Alguns têm feito contratos diretamente com os médicos. Os profissionais recebem remuneração fixa, como se fosse um salário. "O médico vira um prestador de serviço do hospital e não do convênio", explica Burns. Mas, mesmo com esse drible, há uma dificuldade tremenda de encontrar quem queira trabalhar sob tais condições. Resta aos conveniados, então, arcar com as caríssimas faturas dos planos e pagar consultas particulares. Ninguém quer pôr a vida dos filhos em risco.
Descaso O suplício se estende às simples consultas nas emergências dos hospitais. Que o diga a analista de sistemas Ana Lúcia Alves Martins, 39 anos. Ela foi ao Hospital Santa Lúcia em busca de um pediatra para atender a filha, de 1 ano e 6 meses, que estava com febre. "Cheguei às 9h, mas só fui atendida às 16h. Havia até bebês com 15 dias na fila, mas ninguém do hospital sabia dar uma previsão. Só havia um pediatra, uma verdadeira calamidade, e um monte de crianças doentes, chorando. Muitas mães desistiram. A gente paga o convênio, mas, na hora em que precisa, tem que passar por esse tormento", relata.
Procurado pelo Correio, o Santa Lúcia informou, por meio da assessoria de imprensa, que "o tempo médio de espera para atendimento pediátrico é de três horas. O hospital ressaltou ainda que o planejamento do número de médicos pediatras que atendem na unidade está sendo revisto, para se avaliar a necessidade de aumento da equipe. Atualmente, o hospital conta com dois pediatras por turno. (GHB)