Dilma reforça articulações para tentar estabilizar mandato

 

Os acenos do governo à oposição, feitos na semana passada, esbarraram ontem em críticas ao PSDB feitas pela presidente Dilma e por petistas. - BRASÍLIA- Depois que o vice- presidente Michel Temer lançou um apelo ao entendimento, dizendo ser preciso “alguém com capacidade de reunificar a todos”, a presidente Dilma Rousseff arregaçou as mangas e mergulhou nas negociações para tentar dar estabilidade a seu mandato. Ontem, ao longo do dia, a presidente elogiou o pacote de medidas apresentado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), reuniuse com o PDT, que na semana passada anunciara independência da base aliada, e convidou para jantar os ministros do Supremo Tribunal Federal ( STF), última instância de recursos caso o Tribunal de Contas da União ou o Tribunal Superior Eleitoral lhe deem decisões desfavoráveis.

GIVALDO BARBOSAAção. Depois de fala de Temer, Dilma assumiu negociações para contornar crise

No jantar, Dilma fez um apelo pela harmonia entre os poderes. O discurso da presidente sensibilizou o presidente da Corte, ministro Ricardo Lewandowski, que defendeu o compromisso com a estabilidade institucional e a preservação da legitimidade de mandatos.

Além de Lewandowski, estiveram no jantar os ministros Edson Fachin, Luís Roberto Barroso e Rosa Weber. O relator dos inquéritos da Operação LavaJato, Teori Zavascki, não compareceu. O decano da Corte, Celso de Mello, também declinou do convite. Outra ausência foi a de Marco Aurélio Mello, que considerou inconveniente a presença de todos os ministros do STF no jantar. Para ele, o cidadão comum pode interpretar como uma forma de submissão da Corte ao Executivo.

Na véspera, Dilma já havia recebido 43 senadores aliados para jantar no Palácio da Alvorada, e hoje deve se encontrar com o ex- presidente Lula.

APELO AO PDT

No encontro que teve com o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, e com o líder da bancada do partido na Câmara, André Figueiredo ( CE), Dilma pediu que a legenda repense a decisão de sair da base aliada. O PDT, ao qual Dilma foi filiada por anos, foi o escolhido para inaugurar o que deve se tornar uma série de conversas individuais com os dirigentes das legendas da base aliada.

— A presidente fez um apelo em nome da nossa história, em nome de uma relação de 30 anos que ela tem com o PDT. Disse que é muito ruim o partido deixar a base — disse Lupi.

Os pedetistas reclamaram de “maus- tratos” dos petistas no Congresso. Na conversa, Lupi nominou o líder do governo na Câmara, José Guimarães ( PTCE), que sistematicamente acusa a bancada do partido de “traidora”. Segundo Lupi, é difícil reverter a decisão de independência, mas a saída da base não significa criar problemas à governabilidade.

— Não vamos para a linha da oposição, de defender impeachment. Já vimos esse filme, e ele não é bom para o país — disse.

Apesar da saída da base, o PDT permanece no comando do Ministério do Trabalho. Lupi disse que o partido já colocou o cargo à disposição da presidente desde o ano passado.

— Nossa questão hoje é política, mais do que ocupação de cargos — afirmou.

Com o mesmo foco de melhorar a relação com a Câmara, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, foi à liderança do PMDB na Casa para conversar com o líder, Leonardo Picciani ( RJ).

— É minha obrigação. Nós do PMDB estamos no governo, temos o vice- presidente, e o diálogo é importante — disse.

Kátia Abreu afirmou ainda que a agenda positiva proposta pelo Senado mostra que o partido sempre está ao lado da responsabilidade fiscal e política. Indagada se a agenda ajuda a blindar o governo, Kátia afirmou que o importante é blindar o país. Sobre o momento político difícil que vivem o governo e Dilma, a ministra afirmou:

— A vida só é dura para quem é mole. A presidente Dilma não é mole. Vamos superar.

LULA TAMBÉM ARTICULA

Também presente na Câmara para participar de audiência pública, o ministro da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif, fez uma visita de cortesia ao presidente da Casa, Eduardo Cunha. Hoje, o vice Michel Temer tem duas reuniões importantes na tentativa de retomar o controle da base aliada: café da manhã com Lula, na residência oficial do Jaburu, ao qual devem comparecer o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o ex- presidente José Sarney, e almoço com a bancada do PMDB na Câmara, na casa do ex- deputado Tadeu Filippelli ( DF).

Ontem, Lula se reuniu com os líderes do PT no Senado, Humberto Costa ( PE); do governo no Congresso, José Pimentel ( PT- CE), e com o senador Lindbergh Farias ( PT- RJ).