Grampo mostra conversa de Lula com diretor da Odebrecht

 

O diretor da Odebrecht Alexandrino de Salles Ramos de Alencar teve uma conversa telefônica grampeada quando falava com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo relatório reservado da Polícia Federal ao juiz Sérgio Moro abordando o monitoramento telefônico da movimentação dos diretores da Odebrecht às vésperas da prisão, no dia 19 de junho. Na ligação grampeada, Lula e Alexandrino se mostravam preocupados “em relação a assuntos do BNDES”, segundo documento da PF.

A ligação entre os dois aconteceu no dia 15 de junho, às 20h06m. Alexandrino e Lula referiam-se também a um artigo assinado pelo ex-ministro Delfim Netto, que seria publicado no dia seguinte em defesa dos investimentos do BNDES. A instituição financiou várias obras da Odebrecht no Brasil e no exterior, como o Porto de Mariel, em Cuba, e há suspeita de que o governo petista tenha favorecido a construtora na destinação desses financiamentos subsidiados.

No dia 15, o presidente da construtora, Marcelo Odebrecht, participou de seminário sobre exportação de serviços em São Paulo, onde disse que as relações da empresa com o banco de fomento não tinham nada “de ilegal ou imoral”. No diálogo interceptado pela PF, Alexandrino comemora a repercussão das declarações e diz a Lula ter conversado com Paulo Okamoto para acertar o posicionamento da empreiteira junto com o do Instituto Lula, conforme íntegra da escuta divulgada pelo site do “Estadão”.

Segundo a PF, Alexandrino disse a Lula que Emilio Odebrecht, pai de Marcelo, teria gostado da nota que o Instituto divulgou sobre o trabalho da entidade para erradicar a fome no mundo, e para aprofundar a cooperação com países africanos. Lula visitou a África em companhia de diretores da Odebrecht depois que deixou a presidência.

A nota do Instituto Lula elogiada por Odebrecht, segundo o relatório da PF, foi divulgada depois que se soube que a construtora Camargo Corrêa doou R$ 3 milhões ao Instituto Lula entre 2011 e 2013 e que teria feito pagamentos de R$ 1,5 milhão para a LILS Palestras, Eventos e Publicidade Ltda, de Lula, criada para contabilizar as palestras pagas que o expresidente faz no Brasil e no exterior.

O relatório da PF, diz ainda que Alexandrino recebeu ligações de Marta Pacheco Kramer, que seria ligada ao Instituto Lula.

O Instituto Lula informou que não vai comentar o relatório da PF porque não há transcrição da conversa citada entre o ex-presidente e Alexandrino. Sobre Marta Pacheco, disse que ela é funcionária da Odebrecht. A empreiteira confirmou que ela é advogada do grupo e não tem relação com o Instituto Lula. E diz que “lamenta que as informações sejam colocadas fora de contexto, traçando conclusões equivocadas que confundem a opinião pública”.

Em nota, o BNDES afirmou que “a conversa não faz referência direta” ao banco e apenas “tratou de um seminário sobre exportação que teve ampla participação do público interessado e cobertura da imprensa.”

 

Gilmar pede dados de sete empreiteiras

 

O ministro Gilmar Mendes, relator das contas da campanha da presidente Dilma Rousseff no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), quer saber se sete empreiteiras envolvidas nos desvios de dinheiro da Petrobras fizeram doações ao PT entre 2010 e 2014. Ele tomou a decisão “tendo em vista fatos amplamente noticiados pelos meios de comunicação de que doações ao Partido dos Trabalhadores (PT) foram realizadas com dinheiro de propina, supostamente oriundo de sobrepreços praticados em contratos com a administração pública”, conforme escreveu no despacho.

A determinação do ministro foi enviada à Assessoria de Exame de Contas Eleitorais e Partidárias, setor do tribunal encarregado de passar um pente-fino nas contas dos candidatos. O órgão deve informar se as empreiteiras OAS, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, UTC Engenharia, Camargo Corrêa, Engevix Engenharia e Odebrecht realizaram doações ao partido no período indicado. Ele também quer saber em qual valor. As empresas são as principais investigadas na Lava-Jato.

As contas da campanha de Dilma foram aprovadas com ressalvas pelo TSE em 2014, logo após as eleições. Em seguida, Gilmar determinou que os dados do processo ficassem disponíveis, para órgãos de investigação verificarem se há eventuais irregularidades. Como as contas já foram julgadas, as informações encaminhadas ao ministro não terão efeito nesse processo. Os dados poderiam, contudo, levar a uma nova investigação contra o PT ou a campanha da presidente.

Por outro lado, a ministra Maria Thereza de Assis Moura, relatora da prestação de contas do senador Aécio Neves ( PSDBMG) à Presidência, está investigando indício de irregularidades na contabilidade da campanha tucana. Como ele não venceu a eleição, não havia urgência para as contas serem aprovadas no ano passado. Ontem, a ministra mandou intimar o candidato e o vice, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), para esclarecer em 72 horas irregularidades identificadas pelos técnicos do tribunal.

TCU: ‘RITO PRÓPRIO’

No Tribunal de Contas da União, o julgamento das contas da presidente tem um “rito próprio” e independe do processo original das “pedaladas fiscais”, segundo nota divulgada ontem pelo tribunal. Reportagem publicada no GLOBO revelou que os ministros Vital do Rêgo, exsenador do PMDB, e José Múcio, ex-ministro de Lula, preparam a retomada do processo das “pedaladas” antes de as contas de Dilma serem apreciadas em plenário, o que poderia favorecer a presidente diante de indicativos de que parte das acusações poderá ser anulada.

“Os ministros esclarecem que ilações a respeito de qualquer ‘manobra’ relacionada à apreciação das contas do governo são infundadas”, afirmam Vital e José Múcio na nota.

 

Em nota, Instituto Lula questiona reportagens publicadas no GLOBO

 

O Instituto Lula publicou ontem, em seu site, nota na qual questiona reportagens que citam o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva publicadas pelo GLOBO.

Sobre o apartamento no Guarujá (SP), o instituto diz que o imóvel não é de Lula. Segundo a nota, a mulher do ex-presidente, Marisa Letícia, adquiriu, em 2005, uma cota de participação da Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários), referente à compra de um apartamento que seria entregue em 2007.

Após a falência da Bancoop, a construção foi transferida à OAS, que concluiu a obra em 2013. Segundo o instituto, Marisa ainda não decidiu se vai pedir o ressarcimento do valor pago ou se vai, de fato, ficar com o apartamento. Essa opção, diz a nota, foi dada a todos os outros cooperados.

O GLOBO ouviu, em dezembro, moradores e funcionários do Edifício Solaris, no Guarujá, que confirmaram ter visto Lula três vezes no local. Segundo essas pessoas, o filho do casal, Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, foi o responsável por fazer uma reforma no triplex de 297 metros quadrados, o apartamento 164.

O imóvel recebeu um elevador privativo para levar os moradores do 16º ao 18º andar. A decoração foi acompanhada de perto por Marisa, segundo a vizinhança. A reportagem também mostrou que, na declaração de bens de 2006, Lula declarou ter pago R$ 47.695,38 à Bancoop.

O Instituto Lula criticou, ainda, o que classificou como “ilações sobre possíveis operações financeiras do empreendimento estarem relacionadas a empresas envolvidas na Operação Lava Jato”, fazendo referência à reportagem do GLOBO no último dia 12.

A reportagem mostra dados obtidos pelos investigadores da Operação Lava-Jato que traçam uma relação entre dinheiro movimentado pelo doleiro Alberto Youssef ee o investimento feito pela OAS na reforma do edifício.

Entre 2009 e 2013, a empresa de Youssef fez vários pagamentos para a Planner, uma corretora de valores mobiliários, que somam R$ 3,7 milhões. Em 2010, a Planner pagou à OAS R$ 3,2 milhões. As transações são investigadas pelo Ministério Público Federal.

“Lula poderia, perfeitamente, pela sua trajetória de vida e atividade profissional como palestrante, ter um apartamento comprado a prestações no Guarujá. Mas não tem”, diz o instituto.

A assessoria de imprensa do ex-presidente questionou ainda texto do colunista Merval Pereira do dia 12. Segundo o Instituto Lula, a coluna dizia que Lula teria feito “consultoria para empresas”. O instituto afirmou que o ex-presidente faz palestras. “Não é, não foi, nem será consultor de ninguém”, diz a nota. No dia seguinte à publicação, o colunista corrigiu a informação em sua coluna.

A nota diz ainda que reportagens publicadas pelo GLOBO provocaram desmentidos de duas lideranças internacionais: “o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, e o ex-presidente uruguaio, José Mujica, tiveram de vir a público desmentir matérias caluniosas do jornal carioca”. Segundo a assessoria de imprensa do presidente, as viagens de Lula a outros países tiveram o objetivo de “defender a imagem do Brasil no exterior”.

O GLOBO revelou, em 8 de maio, o conteúdo do livro “Una oveja negra alpoder”, dos jornalistas uruguaios Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz. Depois de ter acesso à obra e de confirmar com seus autores o teor dos registros feitos, o jornal reproduziu literalmente o conteúdo do livro.

Nele, o ex-presidente José Mujica conta que, em reunião ocorrida em Brasília nos primeiros meses de 2010, Lula e ele falaram sobre o mensalão e que, nesse momento, Lula lhe disse textualmente a seguinte frase: “Neste mundo tive que lidar com muitas coisas imorais, chantagens” e que aquela era “a única forma de governar o Brasil”. No livro, autorizado por Mujica, e na revista “Búsqueda”, a conversa entre os dois políticos foi classificada como “uma confissão” do ex-presidente brasileiro. O GLOBO reproduziu os relatos.

Depois, ao “O Estado de S. Paulo”, Mujica disse sobre o encontro: “Ele me falou das pressões e das chantagens. Mas nada de dinheiro ou de corrupção”.

Em 19 de julho, O GLOBO reproduziu conteúdo de relatórios do embaixador brasileiro em Lisboa, Mario Vilalva, sobre a visita de Lula a Portugal em outubro de 2013. O diplomata registrou que, após falar à RTP sobre a importância de o Brasil “se engajar mais ativamente na aquisição de estatais portuguesas”, em privado o ex-presidente “também reforçou o interesse da Odebrecht pela EGF ao primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, que reagiu positivamente ao pleito brasileiro”. Ao falar depois a veículos portugueses, Passos Coelho deu outra versão: “O ex-presidente Lula não me veio meter nenhuma cunha para nenhuma empresa brasileira”.