Tudo acima de interesses de pessoas e partidos

 

Como é usual em Brasília, correm rios de especulações sobre os motivos que levaram o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), a abandonar, no combate ao Planalto, o colega Eduardo Cunha (RJ), da Câmara, dois peemedebistas de elevado escalão investigados na Lava-Jato, passíveis de serem denunciados pelo procurador-geral, Rodrigo Janot, ao Supremo.

Fala-se muito sobre a conversão de Calheiros à linha de defesa do mandato de Dilma, principalmente no TCU, onde o senador teria especial influência. Coincidência ou não, o tribunal estendeu mais uma vez o prazo para Dilma defender sua prestação de contas referente a 2014, e ainda elaboraria uma alternativa para livrar a presidente de responsabilidade por “pedaladas” fiscais. Em contraposição, enquanto se noticiam dificuldades técnicas para o MP escalar Renan no banco dos réus da Lava-Jato, Janot acaba de acusar Cunha de tentar usar a Advocacia da União em causa própria, para defendê-lo no caso do recolhimento de provas, na Câmara, de que petições supostamente de achaque a empresas foram redigidas no gabinete do presidente da Casa.

É fato que a reciclagem da postura de Renan, sacramentada com a tal Agenda Brasil, criou espaço para o Planalto fazer política e assim, com o Congresso, viabilizar o essencial ajuste nas contas públicas, sem o qual o país não aproveitará o tempo que lhe é concedido por agências de avaliação de risco para sinalizar a rearrumação da economia num prazo previsível.

A luta política não pode ofuscar o processo de debacle da economia — de indiscutível responsabilidade da dupla Lula/Dilma —, e consequente onda de desemprego, longe ainda de chegar ao apogeu. Apenas no Rio de Janeiro, considerando a conclusão das obras relacionadas direta e indiretamente às Olimpíadas, no ano que vem, projetase, para a partir de abril de 2016, cerca de 100 mil pessoas afetadas pelo desemprego, entre operários e dependentes. É preciso, portanto, que a roda dos investimentos volte a girar, e em todo o país.

Na reação às ameaças de impeachment de Dilma, Lula mobiliza os tais “movimentos sociais”, preocupados em não perder o fácil acesso ao dinheiro público dos últimos 12 anos. Tenta também se contrapor às manifestações de domingo. As pesquisas, porém, que situam Dilma como a mais impopular presidente desde que esses levantamentos são feitos, não se mostram animadoras para o PT e seus “movimentos sociais”.

Importa é que as instituições continuem a funcionar. A Operação Lava-Jato tem de se manter na mesma linha de tratar todos de forma impessoal, como estabelece a Constituição — até o ex-presidente Lula foi dessacralizado, o que é positivo para a democracia. Que o MP federal faça o encaminhamento de denúncias de políticos ao Supremo, o TCU e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) deliberem o que têm de deliberar, e assim por diante. Sem que o futuro do país seja sequestrado por interesses de pessoas, partidos e grupos.