Título: Itália sob tiroteio
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 06/09/2011, Economia, p. 9
Em situação crítica, sobretudo a partir da explosão da crise grega, a Europa tende a viver novos dias sombrios, desta vez capitaneados pela Itália. Ontem, a chanceler alemã, Angela Merkel, autoridade mais influente da região, admitiu a aliados de seu partido que a situação da Itália é "extremamente frágil", confirmando previsões do próprio governo italiano. Giorgio Napolitano, presidente do país, alertou que a queda do preço dos títulos públicos nacionais são o sinal da necessidade de uma ação urgente para salvar a terceira maior economia da Zona do Euro.
"Ninguém pode subestimar o sinal de alerta que vem do salto na diferença entre os preços dos instrumentos de dívida pública italianos e alemães", afirmou Napolitano. "É um sinal da persistente dificuldade de recuperar confiança, uma vez que isso é urgentemente exigido", reforçou o presidente, ao pedir a todos os partidos italianos que não bloqueiem medidas necessárias para restaurar a credibilidade do país. Na semana passada, quando ajudou a Itália em um leilão de dívida, o Banco Central Europeu (BCE) aumentou as compras de bônus governamentais para 13,305 bilhões de euros. Ainda assim, a demanda pelos papéis foi considerada fraca.
Efeito dominó A Itália correrá riscos se decidir contar, por tempo indeterminado, com a ajuda do BCE. Mario Draghi, que sucederá Jean-Claude Trichet no comando da instituição em novembro, advertiu que os governos não devem presumir que as operações de compra de títulos continuarão para sempre. "O programa é temporário e não pode ser usado para contornar o princípio fundamental de disciplina orçamentária", advertiu.
Numa tentativa de amenizar a "confissão" feita aos membros de seu partido e afastar uma possível faxina na Zona do Euro, Merkel declarou que nenhum país deixará o bloco, até porque, alertou, qualquer medida desse tipo poderia causar um mal-estar generalizado. "Não penso na possibilidade da saída de um país, porque isso causaria um perigoso efeito dominó", afirmou.
Mantega otimista O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reiterou ontem, durante reunião de coordenação com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, que o Brasil está sólido e preparado para o enfrentamento da "preocupante" crise econômica internacional. Fontes que acompanharam o encontro relataram que o ministro mencionou a citação da diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, de que a economia global deve sofrer "uma desaceleração em espiral", mas não corroborou com a autoridade do Fundo em relação à economia brasileira. Na visão de Mantega, o prognóstico negativo pode valer para o mundo, mas não para o Produto Interno Bruto (PIB) nacional.