Título: Alemanha quer rever euro
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Fonte: Correio Braziliense, 08/09/2011, Economia, p. 18

Maior economia da Europa defende mudanças de regras para que países pequenos, como a Grécia, não ameacem a estabilidade da região

Berlim ¿ A primeira ministra alemã, Angela Merkel, descartou ontem soluções rápidas e radicais para a crise da Zona do Euro, a exemplo do lançamento de eurobônus (títulos públicos) emitidos conjuntamente pelos países da união monetária. A chanceler afirmou que o bloco enfrenta um caminho "longo e difícil" para controlar uma dívida formada ao longo de décadas. Em um discurso à câmara baixa do Parlamento, pouco depois de o principal tribunal da Alemanha impor novos limites à participação de Berlim nos programas de socorro financeiro na região, Merkel pediu que a Europa repense suas regras para impedir que países como a Grécia coloquem em risco toda a área do euro.

"Estou convencida de que esta crise não pode ser combatida com uma atitude de "ir levando", se é para evitar uma grande crise no mundo ocidental. Necessitamos de uma reconsideração fundamental", discursou Merkel. "Precisamos deixar muito claro às pessoas que o problema atual, causado por uma dívida excessiva formada ao longo de décadas, não pode ser resolvido de uma só vez, com coisas como títulos do euro ou reestruturações da dívida, que de repente deixem tudo em ordem. Esse será um caminho longo e difícil, mas o correto para o futuro da Europa", completou a líder alemã.

Oposição Merkel foi interrompida diversas vezes por manifestações dos partidos de oposição, de esquerda, que nas últimas semanas têm endurecido as críticas em relação a como primeira-ministra vem lidando com a crise da dívida da Zona do Euro, que já dura dois anos. Ela disse que não se pode permitir o fracasso da moeda e chegou a assegurar que "ela não fracassará". Antes do pronunciamento da primeira-ministra, Frank-Walter Steinmeier, líder do Partido Social-Democrata no Parlamento e derrotado por Merkel na eleição de 2009, fez um duro discurso na câmara, denunciando as políticas da chanceler para a região.

Steinmeier acusou Merkel, que estava vestida de preto depois da morte do pai dela, de "falta de coragem" e de "falta de liderança". Antes do discurso, personalidades de expressão na Alemanha, como o ex-ministro das Relações Exteriores Hans-Dietrich Genscher, disseram que o líder social-democrata seria o mais crítico de seu governo. A constatação geral foi de que a mandatária propôs poucas ideias novas no discurso que durou meia hora.

RESGATE PASSARÁ PELO PARLAMENTO Com a condição de que o Parlamento tenha uma participação maior na aprovação dos planos de resgate, o Tribunal Constitucional alemão, corte mais importante do país, validou ontem a concessão de ajudas financeiras de Berlim à Grécia e a outros países da Zona do Euro. A decisão foi recebida com alívio pelas bolsas europeias, que fecharam em alta. Os juízes do Tribunal Constitucional de Karlsruhe, que deveriam pronunciar-se sobre o primeiro pacote de ajuda concedido à Grécia em maio de 2010 e sobre a criação do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), consideraram que a chanceler Angela Merkel respeitou a Constituição ao aprovar ambos. A decisão era aguardada com ansiedade, já que uma condenação das iniciativas adotadas ano passado pela Alemanha poderia ter levado a região a uma crise ainda mais profunda.