Título: Crítica aos juros altos
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 07/09/2011, Economia, p. 9

A Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) usou o Brasil como exemplo para criticar a adoção de juros altos em um momento que a economia mundial caminha para uma forte recessão. "A visão geral da Unctad é que uma taxa de juros baixa é melhor do que uma taxa de juros alta", afirmou o economista-sênior da agência ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), Alfredo Calcagno. Conter o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) apenas com medidas monetárias de controle inflacionário, na visão do economista, pode ser um tiro pela culatra em momentos de crise.

Embora o Brasil tenha cortado a taxa básica (Selic) em 0,5 ponto percentual na semana passada, para 12% ao ano, dando claro sinais de que continuará com o afrouxamento monetário, os juros reais no país ainda são os maiores do mundo. "Reduzir os custos com juros seria uma fórmula favorável. Baixar juros é um estímulo ao crescimento", comentou Calcagno, ao lembrar que, hoje, apesar de o nível de endividamento do país ser menor que o do Japão, os brasileiros pagam muito mais juros proporcionalmente ao PIB que os japoneses.

O economista da Unctad também alertou para os perigos do câmbio para a economia. "Atualmente, esse mercado tem sido alvo de especuladores. Os governos precisam ter maior controle sobre suas moedas", destacou. Para Calcagno, o maior controle, ao lado de uma melhor regulamentação do sistema financeiro, é uma das recomendações principais feitas pela ONU. Um estudo da Unctad sugere a criação de um grupo de bancos centrais para discutir uma taxa de câmbio ideal a cada país e, ao mesmo tempo, que o percentual de juros dessas nações não seja maior que a da inflação.

Vulnerabilidade O relatório da Unctad faz ainda um alerta para a vulnerabilidade das economias emergentes aos choques de uma nova crise nos países desenvolvidos, tanto no setor comercial quanto no financeiro. "Apesar do crescimento dos países em desenvolvimento ter se tornado cada vez mais dependente da expansão dos mercados internos, essas nações ainda enfrentam sérios riscos externos, devido ao enfraquecimento econômico dos países desenvolvidos e à falta de reformas reais dos mercados financeiros internacionais", alertou.

A entidade prevê que o crescimento econômico mundial será de 3,1% neste ano, dando sinais de desaceleração frente à alta de 3,9% registrada em 2010. Enquanto o PIB dos países emergentes subirá 6,3%, o dos desenvolvidos avançará apenas 1,8%, sendo que o único a entrar em recessão será o Japão, cuja economia cairá 0,4% este ano. A América Latina, por sua vez, avançará 4,7% em 2011.

Brasileiros ainda poupam Apesar da corrosão do poder de compra por conta da inflação, os brasileiros ainda estão conseguindo guardar dinheiro. Agosto foi o segundo melhor mês do ano para a caderneta de poupança. Dados divulgados ontem pelo Banco Central mostraram que a captação líquida (diferença entre depósitos e retiradas) foi positiva em R$ 2,2 bilhões. O saldo só perdeu para julho, quando o resultado atingiu R$ 6 bilhões. Com esse desempenho, pela primeira vez na história a caderneta de poupança superou R$ 400 bilhões no oitavo mês do ano. Aos depósitos, foi somado o rendimento de R$ 2,4 bilhões, elevando o volume total para R$ 401,7 bilhões.