Dólar cai 1,9%, maior recuo desde abril

 

RENNAN SETTI

O globo, n. 29954, 11//08/2015. Economia, p. 18

 

Com a maior queda em quase quatro meses, o dólar comercial registrou ontem sua menor cotação frente ao real em dez dias. O recuo refletiu o comportamento global da divisa, por causa da alta dos preços das commoditi

AFPExpectativa. Em Fuyang, investidor examina as cotações do mercado chinês. A Bolsa de Xangai teve alta de 4,9%

es, e, no cenário doméstico, uma intervenção mais forte do Banco Central (BC) no câmbio. Vindo de uma semana de intensa desvalorização, o real foi a moeda que mais ganhou valor contra o dólar ontem, entre as 16 principais divisas do mundo. Segundo analistas, os investidores aproveitaram o cenário internacional mais otimista para embolsar lucros. A moeda americana caiu 1,90%, a R$ 3,443 — o recuo mais intenso desde 14 de abril e a menor cotação desde 31 de julho.

A Bolsa de Valores de São Paulo ( Bovespa) também se recuperou, registrando a maior alta entre os principais pregões do Ocidente. Depois da queda de quase 3% na sextafeira, considerada excessiva por alguns analistas, a Bovespa acompanhou o otimismo dos mercados internacionais. O apetite para risco começou na China, onde especulações sobre uma consolidação das estatais no país fizeram a Bolsa de Xangai saltar 4,9%, o maior avanço em um mês. A Bovespa registrou alta de 1,60%, com o índice de referência Ibovespa atingindo 49.353 pontos. Destacaram-se empresas ligadas ao setor de commodities, como Vale e Petrobras.

A Bolsa de Xangai havia registrado fortes quedas no mês passado. Os rumores sobre uma ação do governo surgiram no rastro de dados negativos sobre a economia do país, divulgados no fim de semana. No mês passado, as exportações caíram 8,3%, e os preços no atacado recuaram 5,4% em relação a julho de 2014.

— O mercado está em compasso de recuperação hoje (ontem). O dólar vem de uma sequência muito forte de altas. No fim da semana passada, o Banco Central demonstrou que não aceitará muita volatilidade a curto prazo, e isso ajudou. Na Bolsa, além do bom humor global, o pregão se recupera de uma queda excessiva na sexta- feira. Esperava-se que o fim de semana traria mais notícias negativas no político, mas isso não aconteceu — afirmou Adriano Moreno, estrategista da Futura Invest.

’DECISÃO DO BC FAZ EFEITO’

O BC manteve ontem uma intervenção mais forte no câmbio. Na sexta-feira, a autoridade monetária elevou de seis mil para 11 mil a oferta de rolagem dos chamados contratos de swap cambial — operação que equivale à venda de dólar no mercado futuro e, na prática, representa um recurso de proteção contra variações bruscas do câmbio para empresas e investidores.

— Além do cenário externo, o dia mostrou que a decisão do BC está fazendo efeito e afastou a pressão especulativa sobre o real. O outro lado é a crise política. Aparentemente, as atitudes da presidente Dilma, como a reunião com ministros e com a base aliada, aliviou um pouco a tensão. Minha interpretação é também que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, está mais isolado em sua briga com a presidente. Assim, o clima foi amenizado — observou Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.

Na quinta- feira, antes da medida do BC e após seis altas consecutivas, o dólar encerrara a R$ 3,535, maior valor de fechamento desde os R$ 3,554 registrados em 5 de março de 2003. A desvalorização do real tem sido provocada por diversos fatores, como a revisão das metas fiscais ; um aumento menor que o esperado na taxa básica de juros, a Selic; a mudança da perspectiva, para negativa, da nota de crédito do Brasil pela agência Standard & Poor’s, que pode levar a um rebaixamento; a crise política; e a perspectiva de alta de juros nos Estados Unidos já em setembro. Se a taxa básica do país, atualmente entre zero e 0,25%, subir, os investidores devem trocar os títulos de países emergentes, de maior risco, pelos papéis do Tesouro americano.

BARRIL DO BRENT AVANÇA 3,70%

Na Bovespa, o bom desempenho foi puxado pelas blue chips, como são conhecidas as principais empresas do pregão. A Petrobras avançou 3,77% (ordinária, ON, com direito a voto) e 2,68% (preferencial, PN, sem voto). Os papéis acompanharam a cotação internacional do petróleo: o barril do tipo Brent, negociado em Londres, avançou 3,7%, a US$ 50,41. A Vale, influenciada pelo mercado chinês, registrou alta de 5,05% (ON) e 3,62% (PN).

— A alta de Petrobras e Vale, principais produtoras de com

modities na Bolsa, é puxada pelo expectativa de estímulo na China, mas há também um componente de ajuste técnico após a queda de sexta-feira — explica João Pedro Brugger, da Leme Investimento.

A alta também foi generalizada entre os bancos. O Banco do Brasil teve ganho de 2,64%, enquanto o Bradesco subiu 1,19%. O Itaú Unibanco valorizou- se em 1,31%, e o Santander, em 0,91%.

Em Nova York, o índice Dow Jones fechou em alta de 1,39%, enquanto S& P 500 e Nasdaq subiram 1,28% e 1,16%, respectivamente. Os mercados americanos também foram influenciados pela China.

Na Europa, as principais Bolsas subiram. Londres avançou 0,26%. O índice de referência Euro Stoxx subiu 1,02%, enquanto Paris avançou 0,79%. Em Frankfurt, a alta foi de 0,99%.