O Estado de São Paulo, n. 44494, 13/08/2015. Economia, p. B5

Petrobrás espera acordo para a Sete Brasil até setembro

ANTONIO PITA

 

A Petrobrás espera formalizar até setembro um acordo para a reestruturação da Sete Brasil, responsável pela construção de sondas para o pré-sal. Uma solução para a empresa é tida como vital para estancar a crise nos estaleiros, que aguardam recursos da empresa e financiamentos com bancos públicos para retomar a produção. Com a crise no setor e sem recursos em caixa, a estatal priorizará o aluguel de unidades de produção - e não mais a construção de unidades próprias. Duas novas concorrências devem ocorrer até o final do ano, para operação em 2019 e 2020.

Em palestra para executivos do setor, o assessor especial da presidência da Petrobrás, Paulo Alonso, afirmou que a companhia está "muito próxima" de um acordo, considerado "pedra de toque" para a crise do setor. "É uma visão otimista", disse o executivo, após sua apresentação. "Este é um acordo ultraconfidencial. Mas, esperamos até setembro, talvez outubro, que se chegue a um acordo sobre a equação financeira da Sete Brasil, para que se possa aliviar financeiramente os estaleiros."

Com uma carteira total de 29 sondas - sendo 28 para a Petrobrás -, a Sete deixou de pagar aos estaleiros responsáveis pela construção das embarcações em novembro de 2014, após ser envolvida na Lava Jato e ter suspensa a liberação de um financiamento já aprovado pelo BNDES. As dívidas com estaleiros chegam a R$ 4 bilhões. Já há um plano de reestruturação, mas a empresa costura uma solução para o financiamento do projeto, que será reduzido para 19 sondas ou até menos.

Alonso também disse acreditar em uma melhora no ambiente de negócios após os pagamentos. Segundo ele, os estaleiros poderiam regularizar o acesso ao Fundo de Marinha Mercante (FMM) depois de uma definição das "questões jurídicas" de seus acionistas - citando nominalmente a OAS e a Odebrecht, envolvidas na Operação Lava Jato. "O mais complexo já passou, com essas definições, poderemos colocar novamente a locomotiva na melhor marcha."

A situação no setor foi descrita pelo diretor do estaleiro Enseada, Humberto Rangel, como de "paralisia", por causa da crise de "liquidez e confiança" - uma referência à restrição aos financiamentos após as investigações. Rangel afirma ter R$ 600 milhões aprovados no FMM sem liberação até que haja acordo sobre a Sete Brasil. O estaleiro já demitiu mais de 9 mil funcionários em Maragogipe (BA) e admite "dificuldades" em outro contrato de conversão de cascos para a Petrobrás.

"Podemos não ter fôlego para chegar no momento seguinte", alertou o executivo. "Não é só a Petrobrás que tem de carregar no ombro a indústria naval, ela não vai dar conta e hoje a gente vê isso.”