Título: Ato de desespero na Suíça
Autor: Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 07/09/2011, Economia, p. 11

Ministro da Fazenda, Guido Mantega, duvida da capacidade do país europeu de resistir a um ataque especulativo

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, classificou como "desespero" a decisão do Banco Central da Suíça de estabelecer um piso de 1,20 franco por euro para conter a valorização da moeda local. "É uma situação-limite. Eles estão desesperados, tomando essas medidas", disse, ao avaliar que cada país tem suas necessidades, mas duvidando que a Suíça tenha condições de bancar possíveis ataques especulativos à sua divisa.

"Essa é uma maneira de fixar o câmbio. Significa que ela vai ter que comprar tudo o que for ofertado naquele preço. Mas não sei se ela tem recursos para fazer isso e aguentar um ataque desta natureza", disse Mantega, que aproveitou para reafirmar o compromisso do governo brasileiro com o sistema de flutuação de moedas. "Já tivemos o câmbio fixo no passado e não fomos bem-sucedidos. Não é uma modalidade que serviria ao Brasil", afirmou.

É a primeira vez depois de 33 anos que a Suíça adota uma medida para limitar a variação cambial. O franco suíço vinha mostrando forte valorização nos últimos meses por causa da movimentação de investidores que, com o agravamento da crise na Europa, passaram a procurar moedas estáveis ou ativos como o ouro, considerados mais seguros. A apreciação do franco, contudo, prejudica a economia suíça, ao tornar mais baratas as importações e encarecer as exportações, à semelhança do que acontece em vários outros países, inclusive no Brasil.

Em agosto, o BC suíço realizou três intervenções no mercado de câmbio para conter a alta da moeda. Em comunicado divulgado ontem, a instituição afirmou que a valorização excessiva do franco representa "uma grande ameaça à economia suíça e traz o risco de um evento deflacionário".

O banco destacou ainda que "está preparado para comprar moeda estrangeira em quantidades ilimitadas" e que pode adotar medidas adicionais, se elas forem necessárias. Após a decisão, o euro passou de 1,10 para 1,21 franco. O dólar também registrava alta, a 0,85 centavos de franco, contra 0,78 anteriormente.

Saúde bancária A surpreendente decisão das autoridades suíças ajudou a enfraquecer os mercados de ações, que sofreram também com a piora das expectativas em relação à economia grega e com as dúvidas sobre a saúde financeira de bancos europeus. O ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaeuble, alertou que a Grécia não receberá outra parcela do pacote de resgate econômico adotado ainda em 2010 se não demostrar progressos no seu programa de ajustamento das contas públicas.

Ele disse ainda que estão errados os cálculos do Fundo Monetário Internacional (FMI) de que as instituições financeiras da Europa precisariam de uma capitalização de 200 bilhões de euros. Fontes oficiais informaram que a necessidade dos bancos é bem menor e, em parte, já foi atendida.

Em marcha lenta A economia dos 17 países que integram a Zona do Euro cresceu apenas 0,2% no segundo trimestre, depois de ter registrado expansão de 0,8% nos três primeiros meses do ano, informou ontem a agência oficial de estatísticas Eurostat. A forte desaceleração da atividade econômica reacendeu os temores de que o continente pode estar se aproximando de uma recessão. O fraco desempenho foi sustentado pelas exportações e pelo aumento dos estoques das empresas, enquanto o consumo doméstico caiu pela primeira vez em quase dois anos.