Título: Desafio dos arrastões e polícia inerte
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Fonte: Correio Braziliense, 07/09/2011, Opinião, p. 12

Capital de um país qualificado como a sétima economia mundial, Brasília assume cada vez mais a condição de cidade cosmopolita. Convive com significativa comunidade de agentes diplomáticos, população flutuante de líderes empresariais estrangeiros, além de ceder espaço para diversas atividades culturais e políticas de nível internacional. Mas a dinâmica evolução no rumo das grandes metrópoles atrai perturbações urbanas indesejáveis. Entre muitas, figuram ações mais ousadas da criminalidade, a exigirem crescente mobilização de controle policial preventivo e repressivo.

Não é surpresa, portanto, que as táticas mais perversas da delinquência, há tempos enraizadas no cotidiano do Rio de Janeiro e de São Paulo, por exemplo, acabem por aportar em Brasília. São os casos dos arrastões em restaurantes, bares, lanchonetes, lojas para assalto a clientes e roubo das somas recolhidas nos caixas. A última façanha dos bandidos deu-se na Asa Norte, com a tomada de dois estabelecimentos da espécie, na madrugada de segunda-feira, sob armas apontadas para 27 reféns. Roubaram o faturamento das casas, dinheiro e pertences da clientela.

Mas a empreitada coletiva do gênero não é a primeira. Há registros de ações idênticas em 2009 e 2010. Como no episódio da 209/210 Norte, os alvos preferidos são os negócios que funcionam 24 horas, inclusive os postos de gasolina. Em razão de os ataques passarem a repetir-se com mais frequência e maior violência, parece não restar dúvida de que a polícia ainda não cuidou de vigilância específica nas áreas mais sujeitas à sanha dos marginais.

Nas relações espaciais urbanas e na convivência social é natural que os cidadãos brasilienses e visitantes desfrutem das atrações da vida noturna em ambiente seguro, longe da ofensiva de bandidos. Não poderão fazê-lo, contudo, se o poder público omitir-se em cumprir com eficiência uma de suas obrigações medulares: garantir a segurança de todos mediante serviços de inteligência e policiamento ostensivo. Do contrário, a disseminação do medo acabará por converter o Distrito Federal em território que, nas horas tardias da noite, só poderão circular quadrilhas de larápios e facínoras. As famílias que se isolem nas prisões domiciliares.

Os dirigentes dos organismos policiais explicam que há, sim, rondas noturnas em todos os pontos da cidade, em particular nos mais visados por malfeitores. Garantem que os agentes da segurança pública atuam segundo estratégias eficientes. O problema é que, se o sistema não funciona a contento, algo está errado. As evidências mostram cenário diverso, marcado pela multiplicação dos arrastões e sublinhado pela desenvoltura com que age o banditismo. É, pois, preciso rever diretrizes e revigorar a atuação da polícia a fim de romper o ciclo da marginalidade ascendente.