Novo delator aponta propina a Lobão e ao PMDB

André Guilherme Vieira 

13/08/2015

Um novo delator da Operação Lava-Jato afirmou que o senador Edison Lobão (PMDB-MA) e o PMDB foram destinatários de propinas em contratos para as obras das usinas de Belo Monte e Angra 3. Trata-se do ex-diretor da área de Energia da Camargo Corrêa, Luiz Carlos Martins. A colaboração premiada prestada por ele na Procuradoria-Geral da República (PGR) já foi concluída e aguarda homologação do Supremo Tribunal Federal (STF), apurou o Valor PRO, serviço em tempo real do Valor.

Com o relato de Martins, passam a cinco o número de investigados na Operação Lava-Jato que apontam o pagamento de supostas propinas a Lobão em contratos da Petrobras e do setor elétrico/nuclear: Ricardo Pessoa, controlador da UTC que fez delação na PGR e que também mencionou outros parlamentares do PMDB; Flávio David Barra, presidente global da AG Energia, do grupo Andrade Gutierrez (preso em 28 de julho durante a 16ª fase da Lava-Jato, a "Radioatividade"); Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras e delator; e ainda o doleiro e personagem central da investigação, Alberto Youssef.

Lobão é um dos políticos com mandato federal com inquérito aberto pelo procurador geral Rodrigo Janot no STF. Caberá a Janot avaliar se as provas coletadas em Curitiba podem ou não embasar uma denúncia formal contra o senador.

Martins procurou os investigadores da Lava-Jato no final de junho, depois que seu nome foi envolvido no caso por declarações do ex-presidente da Camargo Corrêa. Martins disse que alguns de seus familiares "passaram mal" ao ver seu nome relacionado à propinas nos jornais. Afirmou que não foi beneficiário do esquema, que sua atuação sempre foi técnica. Mas ratificou a existência de desvios para abastecer o PMDB e confirmou que Lobão foi destinatário das supostas propinas.

Segundo Dalton Avancini, após a formação do Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), integrado por 10 empresas, o então diretor de Energia da Camargo Corrêa, Luiz Carlos Martins, o informou sobre a necessidade de "contribuição" ao PMDB. O pagamento ao partido seria de 1% sobre o valor do empreendimento, totalizando R$ 20 milhões, segundo Avancini. A empreiteira tem 15% de participação na obra. O projeto de Belo Monte é orçado em cerca de R$ 30 bilhões.

O advogado de Lobão, Antonio Carlos de Almeida Castro, disse que não teve acesso ao depoimento de Luiz Carlos Martins: "Eu não li o depoimento dele e não teria como me manifestar. Eu soube da delação. E acho perigoso esse excesso de delações. É perigoso se basear na palavra do delator sem ter uma prova. O excesso de delações está fazendo com que o processo perca o seu prumo", criticou.

Para o criminalista, também responsável pela defesa da ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney (PMDB) e do senador Ciro Nogueira (PP-PI), as menções feitas a Lobão por Youssef e Paulo Roberto Costa "são totalmente contraditórias". Almeida Castro questiona o uso de delações premiadas para ensejar medidas de busca e tenta invalidar o mandado de apreensão cumprido na casa de Ciro Nogueira pela Lava-Jato em 14 de julho.

Em outra frente da investigação, a Polícia Federal (PF) encontrou um indício de que o ex-ministro José Dirceu possa ter se utilizado de contas em paraísos fiscais. Ele está preso desde 3 de agosto por suspeita de corrupção e lavagem.

Os federais localizaram com o irmão de Dirceu, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, anotações referentes a números e nomes associados a contas bancárias em Valeta, capital da República de Malta, paraíso fiscal na Europa. Luiz Eduardo teve sua prisão revogada ontem por decisão do juiz Sergio Moro, titular dos inquéritos e ações penais da Operação Lava-Jato.

O Ministério Público Federal (MPF) havia solicitado a prisão preventiva de Luiz Eduardo, com base nas anotações e em caderno com indicações de pagamentos vinculados a obras da Petrobras e empreiteiras investigadas. A PF também achou uma planilha com o controle de pagamentos da empreiteira Engevix e notas fiscais emitidas pela empresa de Dirceu, a JD Assessoria.

Ontem, Moro também libertou o ex-assessor de Dirceu, Roberto Marques e Pablo Kipersmit, dono da Consist - suspeita de repassar milhões em propina ao lobista Milton Pascowitch.

Valor econômico, v. 16, n. 3819, 13/08/2015. Política, p. A6