Excesso de petróleo continuará em 2016, diz a AIE

Grant Smith

13/08/2015

A saturação mundial de petróleo persistirá em 2016, pois nem o maior crescimento da demanda em cinco anos nem a oferta cambaleante estão conseguindo eliminar o excedente, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE).

A agência prevê que os estoques recordes crescerão ainda mais, mesmo levando-se em conta que o crescimento do consumo vai dobrar em 2015 e que a oferta de fora da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep) cairá pela primeira vez desde 2008. Os estoques não diminuirão antes do quarto trimestre de 2016 - podendo ser ainda mais tarde, caso as sanções ao petróleo iraniano sejam revogadas, disse a AIE.

"Embora seja claro que um reequilíbrio começou, é provável que o processo se prolongue, pois projeta-se que a oferta excedente continue durante 2016, o que sugere que os estoques mundiais continuarão se acumulando", disse a agência, que assessora 29 países importadores de petróleo.

O petróleo recuou para cerca de US$ 40 o barril, o menor valor em seis anos, porque países da Opep elevaram a produção para defender fatia de mercado, a queda dos preços ainda não afeta a produção dos EUA e cresce a preocupação de que a economia da China esteja perdendo estabilidade. Ontem, o barril do WTI para entrega em setembro fechou em Nova York com alta de 0,5%, cotado a US$ 43,30.

A oferta poderá crescer mais, pois em julho o Irã chegou a um acordo com potências mundiais que eliminará as restrições sobre suas vendas de petróleo caso o país restrinja seu programa nuclear.

O excedente mundial de oferta será de 1,4 milhão de barris/dia em média no segundo semestre deste ano, pressionando a capacidade disponível de armazenamento, antes de cair para cerca de 850 mil b/d em 2016, estima a AIE. O excedente de produção no segundo trimestre foi de 3 milhões de b/d, o maior em 17 anos, disse a agência.

"A oferta mundial continua crescendo a um ritmo perigosamente rápido", disse a AIE. A Opep manteve a produção em cerca de 31,79 milhões de b/d em julho, o maior nível em três anos. A produção recorde do Iraque ajudou a compensar uma redução da Arábia Saudita, segundo o relatório.

A AIE elevou as estimativas da quantidade de petróleo da Opep necessária em 2016 em 600 mil b/d, para 30,8 milhões de b/d. O número continua 1 milhão de b/d abaixo da produção atual. O Irã poderia incrementar sua produção dos atuais 2,9 milhões de b/d para 3,6 milhões "em questão de meses", após a eliminação das restrições ao comércio internacional.

Em 2015, a demanda mundial crescerá ao dobro do ritmo do ano passado, porque os preços baixos incentivam o consumo nos EUA e as economias estão se recuperando, disse a AIE. O consumo mundial de petróleo crescerá 1,6 milhão de b/d neste ano, para uma média de 94,2 milhões de b/d.

A AIE elevou sua estimativa de consumo de petróleo em 2016, projetando crescimento de 1,4 milhão de b/d e um total de 95,6 milhões diários. Trata-se de um incremento de 400 mil b/d em relação ao relatório do mês passado.

A oferta de fora da Opep cairá 200 mil b/d em 2016, totalizando 57,9 milhões de b/d, e os EUA serão os "mais afetados" nesse grupo, que também inclui Canadá, Brasil e Rússia, projetou a AIE.

Valor econômico, v. 16, n. 3819, 13/08/2015. Internacional, p. A9