Déficit da conta petróleo cai e ajuda balança

Marta Watanabe 

07/08/2015

O déficit da balança comercial de petróleo e derivados deve cair sensivelmente este ano e contribuir de forma mais favorável para um superávit da balança total. Estimativas da Associação de Comércio Exterior (AEB) indicam que o déficit de US$ 19,76 bilhões de 2014 deve cair para US$ 6,78 bilhões neste ano. Os cálculos da AEB levam em conta, na exportação, os embarques de petróleo e óleo combustível. Alguns analistas não descartam a possibilidade de um superávit na balança de petróleo e derivados.

A redução de déficit é esperada porque a redução das importações de petróleo e derivados deve seguir em ritmo muito maior que a do valor exportado dos mesmos produtos. De janeiro a julho, a exportação de petróleo e derivados caiu 29,4% enquanto a importação recuou 42,4%, no critério da média diária, segundo o Ministério do Desenvolvimento (Mdic). O déficit comercial do setor caiu de US$ 9,94 bilhões para US$ 3,8 bilhões no período.

Como reflexo do descompasso, o déficit comercial gerado pela Petrobras também deve se reduzir bastante este ano. De janeiro a junho, segundo dados do Mdic, o saldo negativo das exportações e importações da empresa foi de US$ 5,72 bilhões, menos que a metade do déficit de US$ 12,57 bilhões de igual período de 2014.

O descompasso entre embarques e desembarques acontece principalmente por conta da redução de demanda doméstica, que pressiona para baixo a importação de petróleo e derivados. No lado das exportações, o preço contribui para reduzir o valor exportado, mas ao mesmo tempo o Brasil tem conseguido aumentar a quantidade de petróleo embarcada. Essa elevação de volume exportado amenizou parte do efeito do preço nos embarques.

Pelos cálculos da AEB, o petróleo terá preço médio de US$ 330 a tonelada durante o segundo semestre, muito perto da média de US$ 331,3 a tonelada de janeiro a junho. Pela estimativa, o preço ficará bem abaixo dos US$ 604,50 a tonelada, média de 2014.

O que tem ajudado a balança, diz José Augusto de Castro, presidente da AEB, é que a redução de preço tem sido acompanhada pela elevação da quantidade exportada de petróleo. O volume embarcado de janeiro a julho em petróleo e óleos combustíveis subiu de 18,2 milhões de toneladas em 2014 para 25,1 milhões de toneladas no ano.

Em julho, lembra Castro, a exportação de petróleo destoou da tendência do primeiro semestre, com queda de 61,5% no valor embarcado e redução de 28,1% na quantidade, na comparação com igual mês do ano passado.

A queda de volume do último mês, porém, é considerada algo pontual pelos analistas. O ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da Barral M Jorge Consultores, Welber Barral, diz que essas oscilações são comuns no embarque de petróleo e há grande possibilidade de que sejam por questões meramente operacionais. Para ele, o ano deve fechar com a tendência de elevação de quantidade exportada em relação ao ano passado e com déficit menor na balança de petróleo e derivados em relação a 2014.

Um grande demandante do petróleo brasileiro neste ano, diz Fábio Silveira, da GO Associados, é a China, que comprou 36% do petróleo exportado pelo Brasil de janeiro a julho. No período, os chineses compraram 7,97 milhões de toneladas em petróleo brasileiro, mais que o dobro dos 3,08 milhões em iguais meses de 2014.

Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), também estima que o déficit do setor caia este ano. Pires não descarta a possibilidade de superávit no saldo da balança comercial de petróleo e derivados este ano, por conta da redução de importações, principalmente de gasolina e diesel, principais derivados importados pelo Brasil.

Pelas projeções do CBIE, a importação de diesel e gasolina deve fechar 2015 com média de 193,5 mil barris ao dia, o que significa volume 11,68% a menos do que a média do ano passado. O preço médio do diesel, ainda segundo projeção do CBIE, deve cair de US$ 0,79 o litro em 2014 para US$ 0,59 o litro neste ano. Na mesma comparação, o preço da gasolina deve recuar de US$ 0,71 o litro para US$ 0,53 o litro em 2015. A combinação de queda de quantidade e de preço deve resultar em importações de US$ 6,48 bilhões dos dois derivados, valor menor que os US$ 9,87 bilhões desembarcados no ano passado.

Pires diz que a desaceleração econômica pressiona para baixo a demanda pela gasolina. "O consumo diminui porque as pessoas enfrentam aumento de preços e também ficam com receio de perder o emprego. Deixam o carro em casa e viajam menos." Além disso, diz ele, a gasolina tem sofrido mais a concorrência do álcool combustível no mercado interno.

O diesel, outro derivado importante, avalia Pires, tem a quantidade de importação menor por conta principalmente da redução de transporte de cargas. Mesmo com a redução de demanda, porém, diz, o Brasil continua dependente da importação dos derivados.

Valor econômico, v. 16, n. 3815, 07/08/2015. Brasil, p. A3