Envolvidos na Lava-Jato julgarão Janot

Vandson Lima e Bruno Peres

07/08/2015
Oito dos 13 senadores com inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador geral da República, Rodrigo Janot, no âmbito da Operação Lava-Jato, são titulares da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, que irá votar sua provável recondução para um novo mandato de dois anos. A indicação ainda precisa ser confirmada pela presidente Dilma Rousseff, que ontem recebeu a lista tríplice votada pelos procuradores, mas Janot recebeu o apoio de 85,18% dos 938 procuradores da ativa e aposentados de todo o Brasil.

No total, a CCJ é composta de 27 senadores. Os senadores apontados por possível envolvimento em ilícitos na gestão da Petrobras representam quase um terço dos votantes. São eles Edison Lobão (PMDB-MA), Romero Jucá (PMDB-RR), Valdir Raupp (PMDB-RO), Gleisi Hoffmann (PT-PR), Humberto Costa (PT-PE), Ciro Nogueira (PP-PI), Benedito de Lira (PP-AL) e Antonio Anastasia (PSDB-MG).

Também estão na lista de Janot, mas não são titulares da CCJ os senadores Fernando Collor (PTB-AL), Lindbergh Farias (PT-RJ), Gladson Cameli (PP-AC), Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) e o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Ao se considerar a influência que os partidos exercem nos votos dos parlamentares, o percentual dos que podem complicar a recondução de Janot na CCJ sobe ainda mais: são 20 senadores, ou 74% dos titulares da CCJ, os que pertencem a partidos citados na operação Lava-Jato.

Líderes do Senado avaliam como "bastante provável" que Janot passe pelo crivo da Casa. Mas não será um percurso fácil. Seus métodos deverão ser duramente questionados na sabatina feita pela CCJ, bem como o que senadores chamam de "vazamentos seletivos" de informações relativas às investigações em curso.

Como ainda não há data marcada para a audiência, senadores avaliam que outro fator de tensão pode ser agregado até lá: a possibilidade de Janot oferecer denúncia ao Supremo contra algum dos votantes, que se tornariam efetivamente réus com a abertura de ação penal.

Incluído na lista de Janot, Renan Calheiros retornou do recesso parlamentar garantindo que dará celeridade à apreciação do indicado à PGR. Foi uma resposta às recorrentes informações, veiculadas na imprensa, de que o presidente do Senado trabalharia nos bastidores para atrasar a votação, tirando Janot da linha de frente das investigações provisoriamente.

Aprovado na CCJ, o indicado precisa ainda do crivo do plenário do Senado. Dos 81 senadores, 16% (13 senadores) estão sendo investigados. "Eu não amesquinharei o cargo de presidente do Congresso. Vou combinar com os líderes para votarmos no plenário do Senado no mesmo dia que ele for apreciado pela CCJ", garantiu.

Ontem, a presidente Dilma disse que a votação expressiva obtida por Rodrigo Janot evidencia o apoio e o respaldo dos integrantes do Ministério Público à sua atuação, inclusive na condução da Lava-Jato, segundo apurou o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.

A avaliação da presidente foi feita durante reunião no Palácio do Planalto com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e representantes da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), que lhe entregaram a lista tríplice dos candidatos a PGR mais votados pelos integrantes do Ministério Público Federal.

Janot atingiu o maior percentual já registrado na eleição interna. O recorde, até então, havia sido de Roberto Gurgel em sua recondução, em 2011, com 68%. Compõem a lista tríplice, além de Janot, com 799 votos, os subprocuradores-gerais da República Mario Bonsaglia (462 votos) e Raquel Dodge (402 votos).

Durante o encontro, Dilma não sinalizou aos presentes quando encaminhará a indicação ao Senado, mas ressaltou a importância da lista proposta pela ANPR, que desde 2003 serve de fundamento para a indicação do mais votado para o cargo de procurador-geral da República.