Eletronuclear suspende contrato de consórcio investigado pelo Cade

 

RAMONA ORDOÑEZ

O globo, n. 29951, 08//08/2015. País, p. 7

 

A Eletronuclear suspendeu por 60 dias o contrato com o Consórcio Angramon, responsável pela montagem eletromecânica da usina Angra 3. As obras, com 200 funcionários, ainda estavam no início. A diretoria da subsidiária da Eletrobras decidiu esperar a investigação que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) está fazendo. As empresas Andrade Gutierrez, que faz parte do consórcio, e Engevix são acusadas de pagar R$ 4,5 milhões em propinas ao ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva, preso semana passada na Operação Lava-Jato. Ele pediu demissão do cargo dia após ser preso.

Já as obras civis de Angra 3 continuam normalmente. Durante esses 60 dias, a Eletronuclear informou que fará uma auditoria interna em seus contratos. Em nota, o consórcio disse ainda não ter sido notificado da decisão.

EMPRESÁRIO DIZ TER PAGO PROPINA

O empresário Victor Sergio Colavitti, controlador da Link Projetos e Participações, admitiu ter repassado propina para a Aratec, empresa de Othon. Colavitti procurou o Ministério Público Federal para colaborar com as investigações. Segundo Colavitti, os repasses foram feitos para a Engevix, uma das empresas que prestaram serviços à Eletronuclear, sem qualquer prestação de serviços ou causa econômica.

Segundo o depoimento, para realizar os depósitos para a Aratec teriam sido fraudados contratos e notas fiscais. Colavitti argumentou que não sabia quem era o beneficiário do dinheiro, pois apenas lhe foi dito que os pagamentos não poderiam ser feitos pela Engevix. Para viabilizar os pagamentos, foi assinado um contrato de R$ 400 mil entre a Link e a Aratec, com previsão de 16 pagamentos, que foi renovado informalmente. O repasse total teria chegado a R$ 765 mil entre 2010 a 2014. A Engevix firmou contratos com a Eletronuclear entre 2010 e 2013, todos relacionados a serviços em Angra III, e recebeu R$ 122,9 milhões.

Colavitti disse que os serviços descritos no contrato entre Link e a Aratec jamais foram prestados. Afirmou ainda que sua empresa assinou três contratos com a Engevix, no total de R$ 950 mil, o último deles em janeiro do ano passado. Os pagamentos referentes a 2014 não teriam sido feitos em decorrência da deflagração da Operação Lava-Jato, em março de 2014.

Depois de ter suspendido os repasses, Colavitti afirmou que Ana Cristina Toniolo, uma das filhas de Othon, chegou a ligar para cobrar o pagamento, mas foi informada que não havia mais autorização para fazer os repasses.

Segundo investigações da Lava-Jato, Ana Cristina e a Aratec são beneficiárias de uma conta secreta no Banco Havilland, em Luxemburgo, aberta em nome da off-shore Hydropower Enterprise Limited. Também no nome dela estava uma off-shore constituída no Uruguai, denominada Waterland, que tinha Othon “como cliente”.

No despacho em que transformou a prisão temporária de Othon da Silva em preventiva, o juiz Sérgio Moro lembrou que a Aratec triplicou seu faturamento depois da retomada das obras de Angra III. O faturamento da empresa saltou de R$ 396,9 mil em 2009 para R$ 1,581 milhão em 2010, mantendo se acima de R$ 1 milhão nos três anos seguintes. Para justificar os recebimentos, a defesa de Othon disse que os pagamentos eram serviços prestados por Ana Cristina, que é engenheira e tradutora de documentos técnicos de engenharia.

Moro afirmou que, para justificar recebimentos da Aratec, a defesa de Ana Cristina entregou um texto sobre processos de produção de combustíveis que é “mera reprodução” de artigo encontrado na internet.